quinta-feira, 31 de maio de 2012

Vi-ve-r-indo *

Um dia bom
Bem vivido.
É o dia
No qual se aprende
Algo novo,
Independente
Da idade cronológica
Que esteja ou está,
Ou sente que está.

*Publicado no Livro Diário do Escritor 2012.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Frustração

Quem procura
(Nem) sempre
Encontra.
                       16/01/08.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Não é carnaval

Velhos problemas
Novos estilos
Para máscaras.
                              08/01/08.
                             14/01/08.

sábado, 12 de maio de 2012

Neurose por prefeição

Perfeição não existe.
Por  que massacrar a
Coletividade com o que
Não existe?
                                   07/01/08.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Sede de ilusão

Homens  consomem  cervejas
Sonhando consumir  as
"Mulheres" da propaganda de cerveja.
                                                          05/01/08.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Não é Ivo viu a uva

Pedro pedra perdido
Na selva de pedra
Concreto e aço.
                          04/06/04.
                          03/01/08.
                          08/01/08

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Qui-mera

As gotas de
Chuva
Sangram
Sobre a Terra.
                         05/04/04.
                         03/01/08.  

domingo, 6 de maio de 2012

Primeira versão do texto:


Édipo e o  conhecimento

                                                        


                                                    Percebe que o homem humano está      acorrentado às suas obsessões e fobias.A peregrinação existencial é a via da catarse, que se torna um grande desafio.
Milena Maria Goulart de Ávila
                                          
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    Trabalho apresentado á disciplina Psicologia da Educação ,professora Cristiane Borzuk.Faculdade  de Letras, UFG.Junho,2001.
    Apresentado no X Simpósio de  Estudos e Pesquisas da Faculdade de  Educação da UFG:Sociedade, Educação e Emancipação: desafios e perspectivas.27 a 29/08/2001.
  
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     O mito ,entre os povos primitivos, é uma forma de se atuar no mundo, de encontrar seu lugar entre os demais seres da natureza.Tendo um modo considerado ingênuo,fantasioso, anterior a toda reflexão e não-crítico de estabelecer algumas verdades que não só explicam parte dos fenômenos naturais ou mesmo a construção cultural,mas que dão, também, as formas de ação humana. Nasce do desejo de dominar o mundo,afugentar o medo e a insegurança.O ser humano se move,ou movia, dentro de um  mundo animado por forças que ele precisa agradar para que tenha caça abundante, terra fértil , para que a tribo ou grupo seja protegido,as crianças nasçam e os mortos possam partir em paz.O pensamento mítico está ligado á magia, ao desejo, ao querer que as coisas aconteçam de determinado modo.Desenvolveram-se então os rituais como meios para alcançar os acontecimentos desejados. O ritual é o mito em ação.
      O mito também fixa modelos exemplares de todas as funções e atividades humanas.O ritual torna sagrado o acontecimento que teve lugar no passado mítico. Atribui sentido para o mundo humano.O mito primitivo é sempre um mito coletivo devido as necessidades dos grupos humanos.Também é dogmático, isto é , de apresentar-se como verdade que não admite contestação.A sua aceitação ocorre através da fé  e da crença. Não  é racional e não  pode ser provado nem questionado,mas é esclarecedor.Sendo assim a transgressão da norma afeta o transgressor e sua comunidade.Assim  cria-se o tabu, a proibição, envolta em clima de terror e sobrenaturalidade, cuja  desobediência é extremamente grave. Através de ritos de purificação ou de “bode expiatório”, nos  quais o pecado é transferido para um animal, podem restaurar o equilíbrio da comunidade e evitar os castigos divinos.
     Na Grécia antiga, por via de regra, as peças teatrais formavam o pano de  fundo das velhas lendas relativas aos nomes mitológicos e às desgraças que atingiam as infelizes famílias dos Atridas, dos Labdácidas(a família de Édipo) e dos Tindários.O próprio  teatro grego deve a sua  origem a religião( celebrações em homenagem a Baco, deus do vinho).A tragédia  grega devia expressar o sentido coletivo do mito ou da lenda. Através  disso os gregos também aprendiam quais  eram os assuntos proibidos.
     A arte transmite algum conhecimento para o expectador.Para os gregos era primordial passar  o citado conhecimento. Creem que o ser humano nasce com o destino  traçado e por isso a  grande personagem da tragédia é o destino.
     Basicamente, para Everaldo Rocha, mito é uma  narrativa, um discurso, uma fala.Como também é uma forma de as sociedades espelharem suas contradições, exprimirem  seus paradoxos,dúvidas e inquietações.E também pode ser visto como uma possibilidade de refletir sobre a existência, o cosmos,as situações de “estar no mundo” ou as relações sociais.
      O mito faz parte de um conjunto de fenômenos cujo sentido é difuso, pouco nítido ,porém  múltiplo.Pode  significar muitas coisas, representar várias ideias , ser  usado em diversos contextos. Por isso é um conceito amplo e complexo.É uma narrativa especial, particular, capaz de ser distinguir das demais narrativas humanas. O dicionário Aurélio define mito como um “fato” ou “passagem” muito  antigo, ocorrido nos tempos da “aurora” do homem, nos  tempos “fabulosos”. Por trás dele existe uma tradição, ou melhor, que ele próprio é  uma tradição. Sendo uma forma alegórica que “deixa  entrever um fato natural, histórico ou filosófico”.Uma mensagem cifrada .O mito é uma narrativa que fala sério sem ser direto e óbvio .Sendo assim precisa ser interpretado.Compõe o extenso  quadro das questões de origem: do universo, da Terra,da vida, do homem,das línguas.Pois as origens sempre foram fonte de preocupação humana.Mas a origem de uma coisa não garante a explicação do seu estado atual.Exemplo: a origem do homem vindo do macaco.A teoria de Darwin em parte virou mito por não poder ser totalmente comprovada, mas mesmo assim causa medo.
     Aí entra a importância  da mensagem  cifrada. O mito atrai a interpretação ou a tentativa de interpretação.E interpretações é o que não falta  no mundo dos mitos.Para a  antropologia, por exemplo, interpreta o mito como forma de  compreender uma determinada estrutura social: revela o pensamento de uma sociedade, a sua concepção da existência e das relações que os homens devem manter entre si e com o mundo que os cerca.A Antropologia Social é a disciplina que foi mais longe nesta questão.A Psicanálise também  interpretou mitos.Freud interpretou o mito de Édipo e de quebra inventou mitos importantes como Totem e tabu. A Psicanálise de Carl Gustav Jung, conhecida como Psicologia Analítica ou junguiana , também  interpretou mitos.A grosso modo , para eles, os mitos estão numa região  da mente humana, o inconsciente coletivo, uma espécie de repertório que todos os mitos se encontram. O inconsciente coletivo é algo compartilhado pela humanidade, é patrimônio comum.
      O mito pode ser efetivo e, portanto, verdadeiro como estímulo forte para  conduzir tanto o pensamento quanto o comportamento  do ser humano ao lidar  com realidades existenciais importantes.Qualquer verdade que se encontre no mito será relativa.E o conceito de verdade é  problemático. E o mito não está preocupado com isso.O mito está na  existência . Resiste as interpretações fazendo-as ,quase sempre,  matéria-prima para novos mitos.
     O mito de Édipo foi superinterpretado por alguns dos grandes gênios  do saber ocidental.Mas ele é , antes de tudo, um mito grego que narra o sofrimento e o caminho de um homem. Existia anteriormente como narrativa oral a qual era história conhecida por todos  e tornou-se texto teatral pela mão de Sófocles , autor o qual escreveu as  peças  Édipo Rei e Édipo em Colona e uma peça teatral sobre Antígona , a  filha mais velha de Édipo.
      Outros autores, na Grécia Antiga e fora dela  escreveram também textos  teatrais sobre Édipo.A popularidade , o desfio intelectual e emocional da tragédia  deste príncipe é de extrema significação por ser  um dos mais estranhos  retratos da alma humana. Nele , são projetados desejos, imagens, sentidos de largo alcance, espalha qualquer coisa de muito fundamental.
     Para Michel Foucault,filosofo, Édipo foi por ele utilizado na discussão em torno  de uma forma específica de verdade.Para Freud, Édipo  aparece como um modelo de drama existencial humano: é equacionado à questão da ambivalência  dos sentimentos, da difícil vivência dos  amores e ódios inconscientes no interior da tríade familiar.E para Claude Lévi-strauss ,antropólogo social , Édipo é o mito que  representa uma espécie de paradoxo sobre nascermos de um único ou de dois. Os três pensadores do saber ocidental , só tem em comum em suas obras o fato de interpretarem o mito de Édipo.
      Muitas são as versões do mito de Édipo.A versão mais conhecida foi a escrita por Sófocles.Isso é uma marca, uma faceta dos mitos  que continuam sendo mitos independentes de suas versões.Todas as versões são equivalentes e de igual significado.
      Na história Édipo era filho de Laio, rei de Tebas, e de Jocasta. Laio e Jocasta, pouco antes de se unirem, consultaram o oráculo de Delfos sobre  sua descendência e o destino dos filhos.Ouviram do oráculo uma terrível profecia:”o filho que  tiverem viria a ser o assassino do pai e  o marido da mãe.”Então, ao nascer o primeiro filho, Laio temeroso dos ditames do oráculo, tomou a decisão de matá-lo,para evitar a terrível profecia,encarregou um de seus servos a morte da criança. O servo ,porém, lutando entre o horror de sua tarefa e a fidelidade ao rei, se limitou a perfurar  os pés da criança e suspendê-la com uma corda nos galhos de uma árvore do monte Cíterion.O pastor Forbas, que nas redondezas tomava conta dos rebanhos de Políbio, rei de Corinto,atraído pelo choro do menino,se comoveu, tomou-o a seus cuidados e o entregou a Políbio e a sua esposa, a  rainha,adotou-o como filho e em virtude dos seus pés  inchados, deu-lhe o nome Édipo( do grego Oidipous, que significa pé inchado). O qual cresceu forte. Mal contava quatorze anos e já destacava-se perante a oficialidade da corte sendo admirado por sua força, destreza e sagacidade.Destacava de seus companheiros a tal ponto que despertava um forte   sentimento de inveja neles. Certa vez, um deles, humilhado pela superioridade de Édipo, disse-lhe  que era rejeitado,um filho adotivo dos reis.  Édipo atormentado pela dúvida, começou a inquirir sobre o seu nascimento. Sempre que perguntava á rainha, a quem julgava ser sua mãe, e ela esforçava-se por persuadi-lo de que ele era seu filho.Não satisfeito,no entanto,Édipo busca socorro na consulta ao oráculo de Delfos e dele ouve a profecia:”Não retornar jamais a sua terra natal para não vir a ser o assassino de seu pai e o  marido de sua mãe pois dele nasceria uma raça odiosa.” Impressionado pela  predição e para que ela nunca se realize, não voltou a Corinto julgando que ali se encontravam seus pais.Vai para Fócida.
      Numa  estrada estreita encontra um velho escoltado por guardas.Este ordena-lhe com arrogância e altivez que saísse do caminho.Ameaçadoramente,toma a espada e tenta obrigá-lo a deixar a passagem livre,mas não se humilha impunemente  um príncipe. Édipo reage e acaba matando o ancião e os guardas.A profecia começa a tecer sua rede sobre o destino dele: o ancião era Laio.
     Chegando nas cercanias  de Tebas, Édipo encontra a cidade  desolada por uma calamidade inaudita .Além do rei morto, a esfinge, fora enviada pela deusa Juno contra os tebanos.A esfinge propunha um enigma a todos os viajantes:”Decifra-me ou te devoro”.O enigma era:Qual é o animal que, de  manhã, tem  quatro pés, dois ao meio-dia e três ao entardecer?A morte da esfinge livraria os caminhos do monstro e salvaria Tebas, dependia da explicação do enigma,mas os que tentaram falharam.
     Creonte , irmão de Jocasta, e na posição de rei de  Tebas , em desespero oferece sua irmã em casamento e, consequentemente , a coroa do reino aquele que destruir a esfinge e salvar Tebas.Espalha-se a notícia em toda a Grécia.Édipo aceita enfrentar a esfinge. Ele vence, apontando para si mesmo e responde  que o animal é o homem  ,pois este engatinha na infância, o amanhecer da vida, e se utiliza de quatro pés, anda sobre duas pernas  ao meio-dia,na plena idade e, ao entardecer da existência, na velhice, usa bengala, andando então com três pés. O  monstro joga-se do penhasco e mata-se. Édipo é o novo rei de Tebas e marido de Jocasta.Eles governam e têm quatro filhos: Etéocles, Polinice,Antígona e Ismênia.
      Passam-se  os anos e o reino é acometido de uma nova desgraça.Uma peste sem precedentes devasta igualmente homens e animais.Desafia a ciência, as preces, os sacrifícios e destrói implacavelmente toda a região.O oráculo é consultado, diz aos tebanos se livraram da peste quando descobrirem e expulsarem do reino o assassino de antigo rei.
     Édipo ordena um minucioso inquérito sobre a morte de Laio.Pouco a pouco,juntando depoimentos de antigos  servos, as profecias dos oráculos,conversas com Jocasta e suas  próprias lembranças, a dura verdade vai-se desenhando.Ele era assinalado pelo oráculo como causador da peste, matador de seu pai e marido de sua mãe. Jocasta mata-se  imediatamente.Édipo fura os próprios olhos,é expulso do reino por seus filhos homens ,os quais assumem o comando de Tebas. Apenas Antígona não o abandona e,no exílio, acompanha seu desgraçado pai.Os dois juntos acabam por se deter perto de uma pequena localidade,Colona,nas vizinhanças de Atenas. Ali entram num bosque consagrado aos  Eumênidas  cujo acesso era proibido a todo e qualquer profano. Alguns  habitantes da área ,horrorizados pelo sacrilégio, querem matá-lo.Antígona implora por seu pai e consegue que ambos  sejam levados á presença de Teseu que os recebe  com hospitalidade e dá a Édipo seu poder como apoio e  seus estados como  refúgio,protegendo-o .Édipo lembra que um oráculo de Apolo predisse sua morte em Colona e que seu túmulo seria o penhor da vitória dos atenienses sobre  todos os seus povos inimigos.Tempos depois, ouviu um trovão e crê que é a hora de sua morte, avisa a Teseu e as filhas.Em  seguida, com o solidário testemunho de Teseu,a terra treme, se entreabre suavemente , sem violência  e sem dor Édipo é recebido, agora em paz ,pela morte.  Na tentativa de fuga Édipo encontrou seu destino. A imagem do círculo é perfeita para essa visualização, pois o círculo fecha-se sobre si mesmo.
     Na tragédia de Édipo,o antagonismo entre a ordem divina e a ordem  humana está expressa principalmente  na ideia de que estas vontades realizam concretamente e são as vontades dos deuses e não as dos homens. O trágico está neste beco sem saída.O destino traçado que se concretiza.
     Foucault interpreta Édipo no contexto de uma discussão  histórica ampla  sobre as formas jurídicas para fazer surgir a verdade. O processo de se estabelecer uma verdade qualquer depende de  formações sociais e contextos históricos particulares.Ele analisou Édipo Rei de Sófocles: a profecia já está  completamente  realizada, o ciclo ou círculo  fechado, a teia do destino tecida.Só as personagens não sabem ainda.A peça teatral é a busca de se desvendar algo, a  verdade que está por trás da peste. Quando a verdade é descoberta o quebra-cabeça  está completo e o estabelecimento da verdade traduz um instrumento de poder, pois as metades da verdade se encaixam para  destruir Édipo.
     Na interpretação de Freud Édipo se torna conhecido e pensado em províncias diversas da existência  humana, é transformado num modelo  vivenciado por todos  dentro da família burguesa:Édipo é o filho que em algum momento da vida infantil vivenciamos como microscópica tragédia  de ádios amores entre pais, mães e crianças.Édipo fazia uma coisa pensando estar  fazendo outra,porque era governado  por uma força (o destino) que o  empurrava sistematicamente num sentido não desejado e fora do seu controle.Ele não sabia onde estava indo, que matara o pai e desposou  a mãe.Não era governado pela própria  consciência  do que era e do que queria.Segundo Freud ,nós , os seres humanos, também não,em sua teoria  a mente  humana pode ser dividida  em dois  grandes sistemas: o consciente e o inconsciente .O inconsciente está para o consciente assim como a montanha que permanece submersa está a ponta do  iceberg acima  d’água. Os seres humanos  são governados pelo inconsciente.A arena que define a existência.É o que nos aproxima de Édipo: ele foi governado por forças que não conhece (só tem algumas pistas) e por  viver um jogo de amor e ódio no interior do  triângulo familiar. Foi este intrincado jogo que Freud chamou de “complexo de Édipo”.
     “Complexo de Édipo”  é um termo que aparece na obra de  Freud  depois de 1910. É algo difícil, complicado, pois o  amor não é bem amor, o ódio não é  exatamente ódio, o pai não é o pai mesmo, nem a mãe é a mãe .São antes de tudo “ lugares simbólicos”, funções  desempenhadas, papéis  exercidos  frente a criança.Freud crê na universal presença do Complexo de Édipo, o qual é vivido  entre os três e cinco anos e reaparece, para ser  superado com maior ou menor grau de êxito , na puberdade.Do ponto de vista da criança , ela e sua mãe (ou quem ocupa esse lugar) formam uma totalidade.O bebê humano é absolutamente dependente de alguma fonte provedora que o impeça de morrer.Sozinha é radicalmente frágil ,incompleta e despreparada para a existência.A mãe, como fonte provedora, a alimenta ,aquece ,protege.É para a criança,o objeto de um forte investimento de desejo.Algo que ela julga ser parte de si mesma, que ela julga possuir.Mãe e criança vivem, pelo olhar da criança, uma relação de simbiose, de totalização e completude. Nada deverá interditar esta relação.Mas  uma relação nesses termos estaria, de fato, destinada ao fracasso.A criança deverá se constituir como sujeito, como unidade, individualidade.Este é o doloroso processo de separação simbólica que será acionado pela figura do pai.O qual será o elemento que vai contrapor ao desejo de totalidade da criança  a lei inexorável da  constituição como ser particular dessa mesma criança a qual  precisa ser barrada no desejo  para que realize sua existência como ser autônomo. O pai rompe a relação simbiótica com a mãe, através do lugar simbólico  por ele ocupado.
     A mãe é objeto de desejo e também do amor da criança. Em contrapartida  o pai  como representante da lei, barra o livre curso do desejo, vai canalizando o ódio da criança.Nessa  trama ,encontra-se o drama de Édipo, modelo dessa experiência. O complexo de Édipo é ,neste sentido, uma experiência  modelar de regulação do desejo pela lei.Essa ambivalência  de sentimentos  e a sua superação como  forma de exercer a existência ,marca um destino a ser vivido, entre a dor e a glória, de cada um de nós.
     Lévi-Strauss diz que deve-se ver o mito com um olho na sociedade que o produziu e outro nos demais mitos daquele contexto.Pois o mito de Édipo é um mito sobre origem: afirmação e negação de parentesco.”Nascemos de um único ou de dois?” É o que faz do mito  um instrumento de expressão.
      As três interpretações são válidas e não esgotam o mito.[1]
      Para  Silva[i] o mito não  é uma condição restrita aos povos primitivos,nem aos  gregos da Antiguidade. Mesmo na vida urbana examinando o cotidiano é possível perceber certos componentes míticos  no futebol ou no carnaval, ambos são  manifestações do imaginário nacional e da expressão de forças inconscientes.Ritos de iniciação no comportamento do ser humano moderno: casamento, aniversários , festas de fim de ano, etc.
     Conquanto a psicanálise tenha-se configurado, através  dos tempos, como ciência do inconsciente, não poderia ter consciência da natureza do mito como paradigma onde se encontram as raízes do desejo humano.Não sendo por acaso que a pedra de toque da psicanálise tenha sido a interpretação do mito de Édipo feita por Freud, enfrentando temas polêmicos como incesto e parricídio (assassinato do pai) ante uma sociedade imatura e preconceituosa, de sua época, Freud retoma o mito edípico e elabora a partir da investigação cientifica e da escuta psicanalítica o ponto fulcral de sua teoria: o complexo de Édipo.
      Efetivamente, a fonte mitológica da qual se serve a psicanálise  é inesgotável, haja vista a profusão de estudos publicados nesta área.
     José N. Hech[ii]  também analisou a importância  dos mitos na obra de Freud, em especial o mito de Édipo:” mas, a saga grega assume uma força que cada homem reconhece, por haver registrado a sua existência em si próprio.”(Freud, 1950ª(1887-1902),p. 358). O mito era encarado como narrativa dos começos, depois superado pelo lógos , pelo menos para a filosofia.  Os mitos constituem , para Freud, produções circunstanciais , as quais não conseguem extrapolar a exemplaridade de uma narrativa. Coloca os mitos nas entranhas de sua própria gênese e evita qualquer  forma de desmitificação. A mitificação  lhe pareceu ser a única maneira de convencer a  razão discursiva  daquilo que ela temia aceitar: o inconsciente. Freud arrola sua concepção das  origens da cultura ocidental de vários modos. Busca apoio na obra de arte, na tradição filosófica  e na literatura.
     Voltemos a Édipo.No texto de Sófocles , a história  começa com Édipo na posição de soberano de Tebas, casado com Jocasta e Tebas sofrendo com outra peste, consulta o oráculo  em busca de solução. A resposta é que a peste  acabará quando o assassino do antigo rei for  descoberto e punido. Através da  investigação Édipo descobre seu passado e que é o assassino e filho de Laio.Jocasta comete suicídio e ele se pune furando os olhos, indo embora de Tebas exilado.Antes de Freud , Lévi-Strauss e Foucault , Aristóteles utilizou a peça  para definir as regras de uma boa tragédia em sua Poética, definiu que a tragédia é imitação de uma ação de caráter  elevado ( não no sentido moral cristão) , completa e de certa extensão, em linguagem ornamentada, e que suscita “terror e piedade, tem por efeito a purificação dessas emoções” (catarse).A ação expressa o caráter e pensamento que o ator interpreta.Mito para ele é  a composição de atos, porém o elemento mais importante é a trama dos fatos.Têm caracteres(um personagem que não tem escolhas), peripécia( efeito contrario ao esperado), reconhecimento(descobrir a verdade).O mito é o princípio como que a alma da tragédia, etc.A peça de Sófocles tem estas características literárias e outras  que não são relevantes par citar neste trabalho.
     Enquanto texto trágico é o conflito entre ethos(caráter) e dáimon (a força, o gênio mau) que ocorre através da concretização dos planos divino e humano, a personagem trágica vive o conflito de duas ordens diferentes: a do passado mítico, cheio de poder religioso, e a do presente, sujeito ao veredito de um tribunal.
     A situação trágica de Édipo Rei é o rompimento com a ordem cósmica( as leis não escritas porém válidas): o parricídio e o incesto. A reconciliação entre o divino e o humano se dá através do exílio de Édipo e a morte de Jocasta.
“                                               Jocasta
De que serve afligir-se em meio a temores, se o homem vive á lei do acaso, e se nada pode prever ou pressentir.O mais acertado é  abandonar-se do destino.A ideia de que profanarás  o leito de tua mãe te aflige; mas tem havido tal faça  em sonhos... O único meio de conseguir a tranquilidade de espírito consiste em não dar importância a tais temores.”(E.R. pg. 49).
     Como Jocasta a comunidade cientifica de época de Freud queria voltar as costas para o complexo de Édipo.Freud construiu esse conceito ao longo de sua obra, observando seus  pacientes e, como mostra o filme Freud além da alma, autoanalise.E em 1900, em  A interpretação dos sonhos  há uma menção sobre isso: “ Se o destino de Édipo nos comove é  porque poderia ter sido o nosso e porque o oráculo suspendeu sobre  nossas cabeças igual maldição antes que nascêssemos .Talvez estivesse reservada a  todos nós dirigir a nossa mãe nosso primeiro impulso sexual e a nosso pai o primeiro sentimento de ódio e o primeiro desejo destruidor. Nossos sonhos testemunham isso. O rei Édipo, que matou o pai e casou-se com a mãe, é senão a realização de nossos desejos infantis.” O conceito tem sua constituição final nos textos freudianos de 1921 até 1931.
     O texto e o complexo encontram-se no estabelecimento das personagens sociais nas relações familiares ( pai,mãe ,filho) e em ação.Para a criança ocorre  o aprendizado com a travessia, com excessão dos  casos graves, no que  defini-se como ser sexuado pelos modelos fornecidos pelo pai e pela mãe ou quem ocupar essas funções.Segundo Freud, o apogeu do complexo de Édipo é vivido entre os três aos cincos anos, na fase fálica, período que  aumenta o interesse pelo próprio corpo, os genitais em especial, demonstra pela masturbação, exibicionismo e  interesse pelo sexo oposto:declinando no período de latência.Desempenha  papel fundamental na estruturação da personalidade e na orientação do desejo humano.Foi descoberto na sua forma  simples e positiva, o inverso é chamado de forma negativa. Pode ocorrer casos mistos  em que as duas formas coexistam   numa relação dialética.Apresenta  componentes homo e heterossexuais  através de seu funcionamento.E colocou que ,mutatis mutantes, o complexo podia  ocorrer em meninas: a atitude é ambivalente entre odiar ou querer bem o pai ou a mãe.
     Desejos incestuosos na infância e conflitos originários são universais, embora com roupagens diferentes de acordo com a cultura.
       Freud(1976) julga convencional e inadequado chamar de masculino tudo que  é  forte e ativo, e de feminino tudo o que é fraco e passivo.O que torna  o estado da bissexualidade mais difícil.
     Com relação ao complexo de Édipo ,a mãe ao compreender que a  exitação sexual relaciona-se com ela, julga estar fazendo o correto proibir o menino de manipular seu órgão genital. O que tem pouco efeito, só ocasiona uma certa modificação no método de obter satisfação o que leva a mãe a adotar medidas mais severas, ameaça tirar dele o objeto com o qual a desafia, delega a execução ao pai do menino. Entra, então, o complexo da castração  que também está no mito de Édipo na forma da cegueira. É o que a  cegueira que Édipo se pune após a descoberta do seu crime, é segundo a prova dos sonhos, um substituto simbólico da castração. A cegueira é símbolo para o horror que se segue á descoberta das ideias e desejos reprimidos.Afeta as  relações do menino com o pai e posteriormente com outros adultos.Para  preservar seu órgão sexual ele renuncia a mãe de modo mais ou menos completo, sua vida sexual frequentemente fica permanentemente  dificultada pela proibição.Se possuir um forte componente feminino isso aflora por causa  da intimidação masculina. As fantasias tornam-se o único meio de satisfação sexual.O resíduo de sua fixação erótica pela mãe subsiste na forma de uma dependência excessiva  dela, persistindo como uma espécie  de servidão ás mulheres. Ama a mãe, porém teme ser abandonado por ela e castrado pelo pai.
     Outra personagem literária enigmática, Hamelt de Shakespeare  pode ser  solucionada tendo como ponto de referência  o complexo de Édipo,sendo que o príncipe  fracassou na tarefa de punir outrem pelo coincidia com a substância de seu próprio desejo edipiano.Uma analise não elimina outras ,desde que o texto analisado ofereça provas para o que a abordagem analítica surgira.A  psicanálise redescobriu a literatura como modo de fundamentação teórica e analise  dos anseios e  contradições humanas presentes.
      A teoria do complexo menciona a castração nas meninas a qual  é mais uniforme  e não menos profundo.Ela reage ao  fato de não ter um pênis.Inveja-o.Tenta compensar sua falta que pode conduzir no  final a uma atitude feminina normal.Se  persistir no seu desejo, transformar-se  em menino, em casos extremos torna-se homossexual manifesta ou apresentará traços marcantemente masculinos.Pode-se identificar-se com a mãe para ocupar o lugar da ligação com ela.Como nas brincadeiras nas quais se coloca no lugar da mãe.Disputa com o pai em vez de pênis deseja ter um filho dele como presente, descola o objeto de desejo.Na mulher a falta de um pênis que a impele ao complexo de Édipo.Pouco prejuízo é causado se permanecer em sua atitude edipiana feminina.(Na época de Freud os padrões sociais são mais conservadores do que atualmente e posteriormente a teoria é questionada pelo feminismo, discípulos dos discípulos de Freud,entre outros ,pois o pênis pode ser entendido também como lugar de poder no âmbito social dos papéis tradicionais sociais do homem e da mulher,posteriormente surge a teoria da inveja da vagina  ).
     Pais incompreensíveis veem o comportamento infantil  nessa fase como ameaça as suas autoridades o  que pode gerar outros problemas no desenvolvimento da criança.Com  o amadurecimento do ego, introjeção das leis morais , o complexo é vencido gradativamente, o superego participa ativamente desse processo, levando a uma destruição e abolição do complexo. Caso contrário, se manifestará patologicamente.No caso da menina é mais obscuro e cheio de lacunas, não  vai além de assumir o lugar da mãe e adotar uma  atitude feminina junto ao pai,fazendo a compensação simbólica: do pênis para o bebê.O que auxilia a prepara-se inconscientemente  para seu papel posterior.
      Passamos pelo mito  antes  de tratar do mito de Édipo para depois verificar a  sua importância   na  obra de Freud e outros pensadores ocidentais,colhemos informações em estudos sobre o teatro e sua relação  com o mito e a religião grega chegando até a Psicanálise freudiana.Concluímos  que o conhecimento  humano do passado é importante para o presente cada vez que é redescoberto ,resignificando ,pois cria um  novo sentido dentro da  realidade e quebra conceitos cristalizados.Freud de um novo sentido aos mitos, descobriu uma das faces de Édipo que permeou as suas teorias e depois dele outros  nomearam os complexos humanos a partir de histórias de personagens da literatura universal, como por exemplo, o complexo de Otelo para definir pessoas com ciúmes descontrolados, complexo de Peter Pan para definir pessoas que não querem assumir responsabilidades  do mundo adulto e viver “eternamente” como crianças,complexo de Cinderela  para mulheres que não deixaram de sonhar com o príncipe encantado e não se contentam com homens do mundo real, e por ai vai.Literatura e psicanálise  caminham juntas  porque ambas tem conhecimentos, obscuros ou não, para transmitir sobre a humanidade.  

Referências Bibliográficas:

ARISTÓTELES.Poética.Ed. Globo.
APPIGNESSI, Richard.Conheça Freud.São Paulo:Proposta Editorial,1979.
COSTA,Lígia Militz da. e REMÉDIOS, Maria Ritzel.A Tragédia-Estrutura e história. Ed. Ática, 1988.
D’ANDREA, Flávio Fonte. Desenvolvimento da Personalidade. Rio de Janeiro,Bertrand Brasil,2000.
FREUD, Sigmund. Esboço de Psicanálise.Obras Psicológicas Completas,   volume XXIII.Rio de Janeiro, Imago,1976.
________________.A Dissolução do Complexo de Édipo. Obras Psicológicas Completas volume XIX. Rio de Janeiro, Imago,1976.
HECH,José N.. Metapsicologia e Mitos de Origem em Sigmund Freud.(Palestra:Mito e Realidade) 1998.
LAPLANCHE, J.. e  PONTALIS,J. B.. Vocabulários de Psicanálise. São Paulo,Martins Fontes, 1998.
ROCHA, Everardo. O que é  mito.Ed. brasiliense. São Paulo, 1991.
SILVA, Débora Cristina Santos. Psicanálise e mitologia : eterno retorno.O Popular:1999.(Artigo)
SÓFOCLES, Édipo Rei.Ediouro.1985.
KUFER, Maria Cristina.Freud e a Educação_ O mestre do impossível. Ed. Scipione, 1995.
  

      


  
  


[1] ROCHA,Everardo. O que é mito.Ed. Brasiliense. São Paulo: 1991.


[i] SILVA,Débora Cristina Santos.Psicanálise e mitologia: eterno retorno.O Popular:19/09/1999.(Artigo).
[ii] HECH,José N.. Metapsicologia e Mitos de Origem em Sigmund Freud.(palestra Mito e Realidade, 1998).

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Hierarquia doentia

Ela joga para
Baixo quem
Já está por
Baixo e se
Sente o máximo.
                              03/04/04.
                              03/01/08.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

A Arte


É poder ?
Ela pode ser tudo.
Pode ser nada.
Pode ser bela ou fera.
Feia ou ferida,
Mistério ou miséria.
Mil rostos.Com rebeldia
Bem vinda quando
Inteligente ou não.
                               05/04/04.
                               03/01/08.
                               02/05/12.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Hiperbole do sentir-se gorda

Obsessão por emagrecer
Querer ficar  tão fina
Quanto a fita métrica.
                                 05/04/04.
                                 03/01/08.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Drogas

Paraísos artificiais
Que matam quem
Já morreu?
                           02/01/08.