Um dia bom
Bem vivido.
É o dia
No qual se aprende
Algo novo,
Independente
Da idade cronológica
Que esteja ou está,
Ou sente que está.
*Publicado no Livro Diário do Escritor 2012.
Coisas de gaveta é um blog de textos de minha autoria.Tem de tudo um pouco:contos,crônicas,artigos acadêmicos,etc;principalmente poemas por ter escrito mais do que outros textos.Escrevo porque penso e logo reflito.Existo?Creio que sim.Há quem duvide,mas ter dúvidas é bom para a saúde intelectual.Certezas demais detona(ra)m o mundo.Vivo entre as fronteiras das ficções e das realidades e pensados sobre elas.
quinta-feira, 31 de maio de 2012
sexta-feira, 18 de maio de 2012
terça-feira, 15 de maio de 2012
sábado, 12 de maio de 2012
Neurose por prefeição
Perfeição não existe.
Por que massacrar a
Coletividade com o que
Não existe?
07/01/08.
Por que massacrar a
Coletividade com o que
Não existe?
07/01/08.
sexta-feira, 11 de maio de 2012
Sede de ilusão
Homens consomem cervejas
Sonhando consumir as
"Mulheres" da propaganda de cerveja.
05/01/08.
Sonhando consumir as
"Mulheres" da propaganda de cerveja.
05/01/08.
quinta-feira, 10 de maio de 2012
Não é Ivo viu a uva
Pedro pedra perdido
Na selva de pedra
Concreto e aço.
04/06/04.
03/01/08.
08/01/08
Na selva de pedra
Concreto e aço.
04/06/04.
03/01/08.
08/01/08
segunda-feira, 7 de maio de 2012
domingo, 6 de maio de 2012
Primeira versão do texto:
Édipo e o conhecimento
Percebe que o homem
humano está acorrentado às suas
obsessões e fobias.A peregrinação existencial é a via da catarse, que se torna
um grande desafio.
Milena Maria Goulart de Ávila
______________________________________________________________
Trabalho apresentado á disciplina
Psicologia da Educação ,professora Cristiane Borzuk.Faculdade de Letras, UFG.Junho,2001.
Apresentado no X Simpósio de Estudos e Pesquisas da Faculdade de Educação da UFG:Sociedade, Educação e
Emancipação: desafios e perspectivas.27 a 29/08/2001.
_______________________________________________________________
O mito ,entre os povos primitivos, é uma
forma de se atuar no mundo, de encontrar seu lugar entre os demais seres da
natureza.Tendo um modo considerado ingênuo,fantasioso, anterior a toda reflexão
e não-crítico de estabelecer algumas verdades que não só explicam parte dos
fenômenos naturais ou mesmo a construção cultural,mas que dão, também, as
formas de ação humana. Nasce do desejo de dominar o mundo,afugentar o medo e a
insegurança.O ser humano se move,ou movia, dentro de um mundo animado por forças que ele precisa
agradar para que tenha caça abundante, terra fértil , para que a tribo ou grupo
seja protegido,as crianças nasçam e os mortos possam partir em paz.O pensamento
mítico está ligado á magia, ao desejo, ao querer que as coisas aconteçam de
determinado modo.Desenvolveram-se então os rituais como meios para alcançar os
acontecimentos desejados. O ritual é o mito em ação.
O mito também fixa modelos exemplares de
todas as funções e atividades humanas.O ritual torna sagrado o acontecimento
que teve lugar no passado mítico. Atribui sentido para o mundo humano.O mito
primitivo é sempre um mito coletivo devido as necessidades dos grupos
humanos.Também é dogmático, isto é , de apresentar-se como verdade que não
admite contestação.A sua aceitação ocorre através da fé e da crença. Não é racional e não pode ser provado nem questionado,mas é esclarecedor.Sendo
assim a transgressão da norma afeta o transgressor e sua comunidade.Assim cria-se o tabu, a proibição, envolta em clima
de terror e sobrenaturalidade, cuja
desobediência é extremamente grave. Através de ritos de purificação ou
de “bode expiatório”, nos quais o pecado
é transferido para um animal, podem restaurar o equilíbrio da comunidade e
evitar os castigos divinos.
Na Grécia antiga, por via de regra, as
peças teatrais formavam o pano de fundo
das velhas lendas relativas aos nomes mitológicos e às desgraças que atingiam
as infelizes famílias dos Atridas, dos Labdácidas(a família de Édipo) e dos
Tindários.O próprio teatro grego deve a
sua origem a religião( celebrações em
homenagem a Baco, deus do vinho).A tragédia
grega devia expressar o sentido coletivo do mito ou da lenda.
Através disso os gregos também aprendiam
quais eram os assuntos proibidos.
A arte transmite algum conhecimento para o
expectador.Para os gregos era primordial passar
o citado conhecimento. Creem que o ser humano nasce com o destino traçado e por isso a grande personagem da tragédia é o destino.
Basicamente, para Everaldo Rocha, mito é
uma narrativa, um discurso, uma
fala.Como também é uma forma de as sociedades espelharem suas contradições,
exprimirem seus paradoxos,dúvidas e
inquietações.E também pode ser visto como uma possibilidade de refletir sobre a
existência, o cosmos,as situações de “estar no mundo” ou as relações sociais.
O mito faz parte de um conjunto de
fenômenos cujo sentido é difuso, pouco nítido ,porém múltiplo.Pode
significar muitas coisas, representar várias ideias , ser usado em diversos contextos. Por isso é um
conceito amplo e complexo.É uma narrativa especial, particular, capaz de ser
distinguir das demais narrativas humanas. O dicionário Aurélio define mito como
um “fato” ou “passagem” muito antigo,
ocorrido nos tempos da “aurora” do homem, nos
tempos “fabulosos”. Por trás dele existe uma tradição, ou melhor, que
ele próprio é uma tradição. Sendo uma
forma alegórica que “deixa entrever um
fato natural, histórico ou filosófico”.Uma mensagem cifrada .O mito é uma
narrativa que fala sério sem ser direto e óbvio .Sendo assim precisa ser
interpretado.Compõe o extenso quadro das
questões de origem: do universo, da Terra,da vida, do homem,das línguas.Pois as
origens sempre foram fonte de preocupação humana.Mas a origem de uma coisa não
garante a explicação do seu estado atual.Exemplo: a origem do homem vindo do
macaco.A teoria de Darwin em parte virou mito por não poder ser totalmente
comprovada, mas mesmo assim causa medo.
Aí entra a importância da mensagem
cifrada. O mito atrai a interpretação ou a tentativa de interpretação.E
interpretações é o que não falta no
mundo dos mitos.Para a antropologia, por
exemplo, interpreta o mito como forma de
compreender uma determinada estrutura social: revela o pensamento de uma
sociedade, a sua concepção da existência e das relações que os homens devem
manter entre si e com o mundo que os cerca.A Antropologia Social é a disciplina
que foi mais longe nesta questão.A Psicanálise também interpretou mitos.Freud interpretou o mito de
Édipo e de quebra inventou mitos importantes como Totem e tabu. A Psicanálise
de Carl Gustav Jung, conhecida como Psicologia Analítica ou junguiana ,
também interpretou mitos.A grosso modo ,
para eles, os mitos estão numa região da
mente humana, o inconsciente coletivo, uma espécie de repertório que todos os
mitos se encontram. O inconsciente coletivo é algo compartilhado pela
humanidade, é patrimônio comum.
O mito pode ser efetivo e, portanto,
verdadeiro como estímulo forte para
conduzir tanto o pensamento quanto o comportamento do ser humano ao lidar com realidades existenciais
importantes.Qualquer verdade que se encontre no mito será relativa.E o conceito
de verdade é problemático. E o mito não
está preocupado com isso.O mito está na
existência . Resiste as interpretações fazendo-as ,quase sempre, matéria-prima para novos mitos.
O mito de Édipo foi superinterpretado por
alguns dos grandes gênios do saber
ocidental.Mas ele é , antes de tudo, um mito grego que narra o sofrimento e o
caminho de um homem. Existia anteriormente como narrativa oral a qual era
história conhecida por todos e tornou-se
texto teatral pela mão de Sófocles , autor o qual escreveu as peças Édipo
Rei e Édipo em Colona e uma peça teatral sobre Antígona , a filha mais velha de Édipo.
Outros autores, na Grécia Antiga e fora
dela escreveram também textos teatrais sobre Édipo.A popularidade , o
desfio intelectual e emocional da tragédia
deste príncipe é de extrema significação por ser um dos mais estranhos retratos da alma humana. Nele , são
projetados desejos, imagens, sentidos de largo alcance, espalha qualquer coisa
de muito fundamental.
Para Michel Foucault,filosofo, Édipo foi
por ele utilizado na discussão em torno
de uma forma específica de verdade.Para Freud, Édipo aparece como um modelo de drama existencial
humano: é equacionado à questão da ambivalência
dos sentimentos, da difícil vivência dos amores e ódios inconscientes no interior da
tríade familiar.E para Claude Lévi-strauss ,antropólogo social , Édipo é o mito
que representa uma espécie de paradoxo
sobre nascermos de um único ou de dois. Os três pensadores do saber ocidental ,
só tem em comum em suas obras o fato de interpretarem o mito de Édipo.
Muitas são as versões do mito de Édipo.A
versão mais conhecida foi a escrita por Sófocles.Isso é uma marca, uma faceta
dos mitos que continuam sendo mitos
independentes de suas versões.Todas as versões são equivalentes e de igual
significado.
Na história Édipo era filho de Laio, rei
de Tebas, e de Jocasta. Laio e Jocasta, pouco antes de se unirem, consultaram o
oráculo de Delfos sobre sua descendência
e o destino dos filhos.Ouviram do oráculo uma terrível profecia:”o filho
que tiverem viria a ser o assassino do
pai e o marido da mãe.”Então, ao nascer
o primeiro filho, Laio temeroso dos ditames do oráculo, tomou a decisão de
matá-lo,para evitar a terrível profecia,encarregou um de seus servos a morte da
criança. O servo ,porém, lutando entre o horror de sua tarefa e a fidelidade ao
rei, se limitou a perfurar os pés da
criança e suspendê-la com uma corda nos galhos de uma árvore do monte Cíterion.O
pastor Forbas, que nas redondezas tomava conta dos rebanhos de Políbio, rei de
Corinto,atraído pelo choro do menino,se comoveu, tomou-o a seus cuidados e o
entregou a Políbio e a sua esposa, a
rainha,adotou-o como filho e em virtude dos seus pés inchados, deu-lhe o nome Édipo( do grego
Oidipous, que significa pé inchado). O qual cresceu forte. Mal contava quatorze
anos e já destacava-se perante a oficialidade da corte sendo admirado por sua
força, destreza e sagacidade.Destacava de seus companheiros a tal ponto que
despertava um forte sentimento de inveja neles. Certa vez, um
deles, humilhado pela superioridade de Édipo, disse-lhe que era rejeitado,um filho adotivo dos
reis. Édipo atormentado pela dúvida,
começou a inquirir sobre o seu nascimento. Sempre que perguntava á rainha, a
quem julgava ser sua mãe, e ela esforçava-se por persuadi-lo de que ele era seu
filho.Não satisfeito,no entanto,Édipo busca socorro na consulta ao oráculo de
Delfos e dele ouve a profecia:”Não retornar jamais a sua terra natal para não
vir a ser o assassino de seu pai e o
marido de sua mãe pois dele nasceria uma raça odiosa.” Impressionado
pela predição e para que ela nunca se
realize, não voltou a Corinto julgando que ali se encontravam seus pais.Vai
para Fócida.
Numa
estrada estreita encontra um velho escoltado por guardas.Este ordena-lhe
com arrogância e altivez que saísse do caminho.Ameaçadoramente,toma a espada e
tenta obrigá-lo a deixar a passagem livre,mas não se humilha impunemente um príncipe. Édipo reage e acaba matando o
ancião e os guardas.A profecia começa a tecer sua rede sobre o destino dele: o
ancião era Laio.
Chegando nas cercanias de Tebas, Édipo encontra a cidade desolada por uma calamidade inaudita .Além do
rei morto, a esfinge, fora enviada pela deusa Juno contra os tebanos.A esfinge
propunha um enigma a todos os viajantes:”Decifra-me ou te devoro”.O enigma
era:Qual é o animal que, de manhã,
tem quatro pés, dois ao meio-dia e três
ao entardecer?A morte da esfinge livraria os caminhos do monstro e salvaria
Tebas, dependia da explicação do enigma,mas os que tentaram falharam.
Creonte , irmão de Jocasta, e na posição
de rei de Tebas , em desespero oferece
sua irmã em casamento e, consequentemente , a coroa do reino aquele que
destruir a esfinge e salvar Tebas.Espalha-se a notícia em toda a Grécia.Édipo
aceita enfrentar a esfinge. Ele vence, apontando para si mesmo e responde que o animal é o homem ,pois este engatinha na infância, o amanhecer
da vida, e se utiliza de quatro pés, anda sobre duas pernas ao meio-dia,na plena idade e, ao entardecer
da existência, na velhice, usa bengala, andando então com três pés. O monstro joga-se do penhasco e mata-se. Édipo
é o novo rei de Tebas e marido de Jocasta.Eles governam e têm quatro filhos:
Etéocles, Polinice,Antígona e Ismênia.
Passam-se
os anos e o reino é acometido de uma nova desgraça.Uma peste sem
precedentes devasta igualmente homens e animais.Desafia a ciência, as preces,
os sacrifícios e destrói implacavelmente toda a região.O oráculo é consultado,
diz aos tebanos se livraram da peste quando descobrirem e expulsarem do reino o
assassino de antigo rei.
Édipo ordena um minucioso inquérito sobre
a morte de Laio.Pouco a pouco,juntando depoimentos de antigos servos, as profecias dos oráculos,conversas
com Jocasta e suas próprias lembranças,
a dura verdade vai-se desenhando.Ele era assinalado pelo oráculo como causador
da peste, matador de seu pai e marido de sua mãe. Jocasta mata-se imediatamente.Édipo fura os próprios olhos,é
expulso do reino por seus filhos homens ,os quais assumem o comando de Tebas.
Apenas Antígona não o abandona e,no exílio, acompanha seu desgraçado pai.Os
dois juntos acabam por se deter perto de uma pequena localidade,Colona,nas
vizinhanças de Atenas. Ali entram num bosque consagrado aos Eumênidas
cujo acesso era proibido a todo e qualquer profano. Alguns habitantes da área ,horrorizados pelo
sacrilégio, querem matá-lo.Antígona implora por seu pai e consegue que ambos sejam levados á presença de Teseu que os
recebe com hospitalidade e dá a Édipo
seu poder como apoio e seus estados
como refúgio,protegendo-o .Édipo lembra
que um oráculo de Apolo predisse sua morte em Colona e que seu túmulo seria o
penhor da vitória dos atenienses sobre todos os seus povos inimigos.Tempos depois,
ouviu um trovão e crê que é a hora de sua morte, avisa a Teseu e as
filhas.Em seguida, com o solidário
testemunho de Teseu,a terra treme, se entreabre suavemente , sem violência e sem dor Édipo é recebido, agora em paz
,pela morte. Na tentativa de fuga Édipo encontrou
seu destino. A imagem do círculo é perfeita para essa visualização, pois o
círculo fecha-se sobre si mesmo.
Na tragédia de Édipo,o antagonismo entre a
ordem divina e a ordem humana está
expressa principalmente na ideia de que
estas vontades realizam concretamente e são as vontades dos deuses e não as dos
homens. O trágico está neste beco sem saída.O destino traçado que se
concretiza.
Foucault interpreta Édipo no contexto de
uma discussão histórica ampla sobre as formas jurídicas para fazer surgir a
verdade. O processo de se estabelecer uma verdade qualquer depende de formações sociais e contextos históricos
particulares.Ele analisou Édipo Rei de Sófocles: a profecia já está completamente
realizada, o ciclo ou círculo
fechado, a teia do destino tecida.Só as personagens não sabem ainda.A
peça teatral é a busca de se desvendar algo, a
verdade que está por trás da peste. Quando a verdade é descoberta o
quebra-cabeça está completo e o
estabelecimento da verdade traduz um instrumento de poder, pois as metades da
verdade se encaixam para destruir Édipo.
Na interpretação de Freud Édipo se torna
conhecido e pensado em províncias diversas da existência humana, é transformado num modelo vivenciado por todos dentro da família burguesa:Édipo é o filho
que em algum momento da vida infantil vivenciamos como microscópica
tragédia de ádios amores entre pais,
mães e crianças.Édipo fazia uma coisa pensando estar fazendo outra,porque era governado por uma força (o destino) que o empurrava sistematicamente num sentido não
desejado e fora do seu controle.Ele não sabia onde estava indo, que matara o
pai e desposou a mãe.Não era governado
pela própria consciência do que era e do que queria.Segundo Freud ,nós
, os seres humanos, também não,em sua teoria
a mente humana pode ser
dividida em dois grandes sistemas: o consciente e o inconsciente
.O inconsciente está para o consciente assim como a montanha que permanece
submersa está a ponta do iceberg
acima d’água. Os seres humanos são governados pelo inconsciente.A arena que
define a existência.É o que nos aproxima de Édipo: ele foi governado por forças
que não conhece (só tem algumas pistas) e por viver um jogo de amor e ódio no interior
do triângulo familiar. Foi este
intrincado jogo que Freud chamou de “complexo de Édipo”.
“Complexo de Édipo” é um termo que aparece na obra de Freud
depois de 1910. É algo difícil, complicado, pois o amor não é bem amor, o ódio não é exatamente ódio, o pai não é o pai mesmo, nem
a mãe é a mãe .São antes de tudo “ lugares simbólicos”, funções desempenhadas, papéis exercidos
frente a criança.Freud crê na universal presença do Complexo de Édipo, o
qual é vivido entre os três e cinco anos
e reaparece, para ser superado com maior
ou menor grau de êxito , na puberdade.Do ponto de vista da criança , ela e sua
mãe (ou quem ocupa esse lugar) formam uma totalidade.O bebê humano é
absolutamente dependente de alguma fonte provedora que o impeça de
morrer.Sozinha é radicalmente frágil ,incompleta e despreparada para a
existência.A mãe, como fonte provedora, a alimenta ,aquece ,protege.É para a
criança,o objeto de um forte investimento de desejo.Algo que ela julga ser
parte de si mesma, que ela julga possuir.Mãe e criança vivem, pelo olhar da
criança, uma relação de simbiose, de totalização e completude. Nada deverá
interditar esta relação.Mas uma relação
nesses termos estaria, de fato, destinada ao fracasso.A criança deverá se
constituir como sujeito, como unidade, individualidade.Este é o doloroso
processo de separação simbólica que será acionado pela figura do pai.O qual
será o elemento que vai contrapor ao desejo de totalidade da criança a lei inexorável da constituição como ser particular dessa mesma
criança a qual precisa ser barrada no
desejo para que realize sua existência
como ser autônomo. O pai rompe a relação simbiótica com a mãe, através do lugar
simbólico por ele ocupado.
A mãe é objeto de desejo e também do amor
da criança. Em contrapartida o pai como representante da lei, barra o livre
curso do desejo, vai canalizando o ódio da criança.Nessa trama ,encontra-se o drama de Édipo, modelo
dessa experiência. O complexo de Édipo é ,neste sentido, uma experiência modelar de regulação do desejo pela lei.Essa
ambivalência de sentimentos e a sua superação como forma de exercer a existência ,marca um
destino a ser vivido, entre a dor e a glória, de cada um de nós.
Lévi-Strauss diz que deve-se ver o mito
com um olho na sociedade que o produziu e outro nos demais mitos daquele
contexto.Pois o mito de Édipo é um mito sobre origem: afirmação e negação de
parentesco.”Nascemos de um único ou de dois?” É o que faz do mito um instrumento de expressão.
As três interpretações são válidas e não
esgotam o mito.[1]
Para
Silva[i]
o mito não é uma condição restrita aos
povos primitivos,nem aos gregos da
Antiguidade. Mesmo na vida urbana examinando o cotidiano é possível perceber
certos componentes míticos no futebol ou
no carnaval, ambos são manifestações do
imaginário nacional e da expressão de forças inconscientes.Ritos de iniciação
no comportamento do ser humano moderno: casamento, aniversários , festas de fim
de ano, etc.
Conquanto a psicanálise tenha-se
configurado, através dos tempos, como
ciência do inconsciente, não poderia ter consciência da natureza do mito como
paradigma onde se encontram as raízes do desejo humano.Não sendo por acaso que
a pedra de toque da psicanálise tenha sido a interpretação do mito de Édipo
feita por Freud, enfrentando temas polêmicos como incesto e parricídio
(assassinato do pai) ante uma sociedade imatura e preconceituosa, de sua época,
Freud retoma o mito edípico e elabora a partir da investigação cientifica e da
escuta psicanalítica o ponto fulcral de sua teoria: o complexo de Édipo.
Efetivamente, a fonte mitológica da qual
se serve a psicanálise é inesgotável,
haja vista a profusão de estudos publicados nesta área.
José N. Hech[ii] também analisou a importância dos mitos na obra de Freud, em especial o
mito de Édipo:” mas, a saga grega assume uma força que cada homem reconhece,
por haver registrado a sua existência em si próprio.”(Freud,
1950ª(1887-1902),p. 358). O mito era encarado como narrativa dos começos,
depois superado pelo lógos , pelo menos para a filosofia. Os mitos constituem , para Freud, produções
circunstanciais , as quais não conseguem extrapolar a exemplaridade de uma
narrativa. Coloca os mitos nas entranhas de sua própria gênese e evita
qualquer forma de desmitificação. A
mitificação lhe pareceu ser a única
maneira de convencer a razão
discursiva daquilo que ela temia
aceitar: o inconsciente. Freud arrola sua concepção das origens da cultura ocidental de vários modos.
Busca apoio na obra de arte, na tradição filosófica e na literatura.
Voltemos a Édipo.No texto de Sófocles , a
história começa com Édipo na posição de
soberano de Tebas, casado com Jocasta e Tebas sofrendo com outra peste,
consulta o oráculo em busca de solução.
A resposta é que a peste acabará quando
o assassino do antigo rei for descoberto
e punido. Através da investigação Édipo
descobre seu passado e que é o assassino e filho de Laio.Jocasta comete
suicídio e ele se pune furando os olhos, indo embora de Tebas exilado.Antes de
Freud , Lévi-Strauss e Foucault , Aristóteles utilizou a peça para definir as regras de uma boa tragédia em
sua Poética, definiu que a tragédia é imitação de uma ação de caráter elevado ( não no sentido moral cristão) ,
completa e de certa extensão, em linguagem ornamentada, e que suscita “terror e
piedade, tem por efeito a purificação dessas emoções” (catarse).A ação expressa
o caráter e pensamento que o ator interpreta.Mito para ele é a composição de atos, porém o elemento mais
importante é a trama dos fatos.Têm caracteres(um personagem que não tem
escolhas), peripécia( efeito contrario ao esperado), reconhecimento(descobrir a
verdade).O mito é o princípio como que a alma da tragédia, etc.A peça de
Sófocles tem estas características literárias e outras que não são relevantes par citar neste
trabalho.
Enquanto texto trágico é o conflito entre
ethos(caráter) e dáimon (a força, o gênio mau) que ocorre através da
concretização dos planos divino e humano, a personagem trágica vive o conflito
de duas ordens diferentes: a do passado mítico, cheio de poder religioso, e a
do presente, sujeito ao veredito de um tribunal.
A situação trágica de Édipo Rei é o
rompimento com a ordem cósmica( as leis não escritas porém válidas): o
parricídio e o incesto. A reconciliação entre o divino e o humano se dá através
do exílio de Édipo e a morte de Jocasta.
“
Jocasta
De que serve
afligir-se em meio a temores, se o homem vive á lei do acaso, e se nada pode
prever ou pressentir.O mais acertado é
abandonar-se do destino.A ideia de que profanarás o leito de tua mãe te aflige; mas tem havido
tal faça em sonhos... O único meio de
conseguir a tranquilidade de espírito consiste em não dar importância a tais
temores.”(E.R. pg. 49).
Como Jocasta a comunidade cientifica de
época de Freud queria voltar as costas para o complexo de Édipo.Freud construiu
esse conceito ao longo de sua obra, observando seus pacientes e, como mostra o filme Freud além da alma, autoanalise.E em 1900, em
A interpretação dos sonhos
há uma menção sobre isso: “ Se o destino de Édipo nos comove é porque poderia ter sido o nosso e porque o
oráculo suspendeu sobre nossas cabeças
igual maldição antes que nascêssemos .Talvez estivesse reservada a todos nós dirigir a nossa mãe nosso primeiro
impulso sexual e a nosso pai o primeiro sentimento de ódio e o primeiro desejo
destruidor. Nossos sonhos testemunham isso. O rei Édipo, que matou o pai e
casou-se com a mãe, é senão a realização de nossos desejos infantis.” O
conceito tem sua constituição final nos textos freudianos de 1921 até 1931.
O texto e o complexo encontram-se no
estabelecimento das personagens sociais nas relações familiares ( pai,mãe
,filho) e em ação.Para a criança ocorre
o aprendizado com a travessia, com excessão dos casos graves, no que defini-se como ser sexuado pelos modelos
fornecidos pelo pai e pela mãe ou quem ocupar essas funções.Segundo Freud, o
apogeu do complexo de Édipo é vivido entre os três aos cincos anos, na fase
fálica, período que aumenta o interesse
pelo próprio corpo, os genitais em especial, demonstra pela masturbação,
exibicionismo e interesse pelo sexo
oposto:declinando no período de latência.Desempenha papel fundamental na estruturação da
personalidade e na orientação do desejo humano.Foi descoberto na sua forma simples e positiva, o inverso é chamado de
forma negativa. Pode ocorrer casos mistos
em que as duas formas coexistam
numa relação dialética.Apresenta componentes homo e heterossexuais através de seu funcionamento.E colocou que
,mutatis mutantes, o complexo podia
ocorrer em meninas: a atitude é ambivalente entre odiar ou querer bem o
pai ou a mãe.
Desejos incestuosos na infância e
conflitos originários são universais, embora com roupagens diferentes de acordo
com a cultura.
Freud(1976) julga convencional e
inadequado chamar de masculino tudo que
é forte e ativo, e de feminino
tudo o que é fraco e passivo.O que torna
o estado da bissexualidade mais difícil.
Com relação ao complexo de Édipo ,a mãe ao
compreender que a exitação sexual
relaciona-se com ela, julga estar fazendo o correto proibir o menino de
manipular seu órgão genital. O que tem pouco efeito, só ocasiona uma certa
modificação no método de obter satisfação o que leva a mãe a adotar medidas
mais severas, ameaça tirar dele o objeto com o qual a desafia, delega a
execução ao pai do menino. Entra, então, o complexo da castração que também está no mito de Édipo na forma da
cegueira. É o que a cegueira que Édipo
se pune após a descoberta do seu crime, é segundo a prova dos sonhos, um
substituto simbólico da castração. A cegueira é símbolo para o horror que se
segue á descoberta das ideias e desejos reprimidos.Afeta as relações do menino com o pai e posteriormente
com outros adultos.Para preservar seu
órgão sexual ele renuncia a mãe de modo mais ou menos completo, sua vida sexual
frequentemente fica permanentemente
dificultada pela proibição.Se possuir um forte componente feminino isso
aflora por causa da intimidação
masculina. As fantasias tornam-se o único meio de satisfação sexual.O resíduo
de sua fixação erótica pela mãe subsiste na forma de uma dependência
excessiva dela, persistindo como uma
espécie de servidão ás mulheres. Ama a
mãe, porém teme ser abandonado por ela e castrado pelo pai.
Outra personagem literária enigmática, Hamelt
de Shakespeare pode ser solucionada tendo como ponto de
referência o complexo de Édipo,sendo que
o príncipe fracassou na tarefa de punir
outrem pelo coincidia com a substância de seu próprio desejo edipiano.Uma
analise não elimina outras ,desde que o texto analisado ofereça provas para o
que a abordagem analítica surgira.A
psicanálise redescobriu a literatura como modo de fundamentação teórica
e analise dos anseios e contradições humanas presentes.
A teoria do complexo menciona a castração
nas meninas a qual é mais uniforme e não menos profundo.Ela reage ao fato de não ter um pênis.Inveja-o.Tenta
compensar sua falta que pode conduzir no
final a uma atitude feminina normal.Se persistir no seu desejo, transformar-se em menino, em casos extremos torna-se
homossexual manifesta ou apresentará traços marcantemente masculinos.Pode-se
identificar-se com a mãe para ocupar o lugar da ligação com ela.Como nas
brincadeiras nas quais se coloca no lugar da mãe.Disputa com o pai em vez de
pênis deseja ter um filho dele como presente, descola o objeto de desejo.Na
mulher a falta de um pênis que a impele ao complexo de Édipo.Pouco prejuízo é
causado se permanecer em sua atitude edipiana feminina.(Na época de Freud os
padrões sociais são mais conservadores do que atualmente e posteriormente a
teoria é questionada pelo feminismo, discípulos dos discípulos de Freud,entre
outros ,pois o pênis pode ser entendido também como lugar de poder no âmbito
social dos papéis tradicionais sociais do homem e da mulher,posteriormente
surge a teoria da inveja da vagina ).
Pais incompreensíveis veem o comportamento
infantil nessa fase como ameaça as suas
autoridades o que pode gerar outros
problemas no desenvolvimento da criança.Com
o amadurecimento do ego, introjeção das leis morais , o complexo é
vencido gradativamente, o superego participa ativamente desse processo, levando
a uma destruição e abolição do complexo. Caso contrário, se manifestará
patologicamente.No caso da menina é mais obscuro e cheio de lacunas, não vai além de assumir o lugar da mãe e adotar
uma atitude feminina junto ao
pai,fazendo a compensação simbólica: do pênis para o bebê.O que auxilia a
prepara-se inconscientemente para seu
papel posterior.
Passamos pelo mito antes
de tratar do mito de Édipo para depois verificar a sua importância na obra
de Freud e outros pensadores ocidentais,colhemos informações em estudos sobre o
teatro e sua relação com o mito e a
religião grega chegando até a Psicanálise freudiana.Concluímos que o conhecimento humano do passado é importante para o
presente cada vez que é redescoberto ,resignificando ,pois cria um novo sentido dentro da realidade e quebra conceitos cristalizados.Freud
de um novo sentido aos mitos, descobriu uma das faces de Édipo que permeou as
suas teorias e depois dele outros
nomearam os complexos humanos a partir de histórias de personagens da
literatura universal, como por exemplo, o complexo de Otelo para definir
pessoas com ciúmes descontrolados, complexo de Peter Pan para definir pessoas
que não querem assumir responsabilidades
do mundo adulto e viver “eternamente” como crianças,complexo de
Cinderela para mulheres que não deixaram
de sonhar com o príncipe encantado e não se contentam com homens do mundo real,
e por ai vai.Literatura e psicanálise
caminham juntas porque ambas tem
conhecimentos, obscuros ou não, para transmitir sobre a humanidade.
Referências
Bibliográficas:
ARISTÓTELES.Poética.Ed.
Globo.
APPIGNESSI,
Richard.Conheça Freud.São Paulo:Proposta Editorial,1979.
COSTA,Lígia Militz
da. e REMÉDIOS, Maria Ritzel.A Tragédia-Estrutura e história. Ed. Ática, 1988.
D’ANDREA, Flávio
Fonte. Desenvolvimento da Personalidade. Rio de Janeiro,Bertrand Brasil,2000.
FREUD, Sigmund.
Esboço de Psicanálise.Obras Psicológicas Completas, volume XXIII.Rio de Janeiro, Imago,1976.
________________.A
Dissolução do Complexo de Édipo. Obras Psicológicas Completas volume XIX. Rio
de Janeiro, Imago,1976.
HECH,José N..
Metapsicologia e Mitos de Origem em Sigmund Freud.(Palestra:Mito e Realidade)
1998.
LAPLANCHE, J.. e PONTALIS,J. B.. Vocabulários de Psicanálise.
São Paulo,Martins Fontes, 1998.
ROCHA, Everardo. O
que é mito.Ed. brasiliense. São Paulo,
1991.
SILVA, Débora
Cristina Santos. Psicanálise e mitologia : eterno retorno.O
Popular:1999.(Artigo)
SÓFOCLES, Édipo
Rei.Ediouro.1985.
KUFER, Maria
Cristina.Freud e a Educação_ O mestre do impossível. Ed. Scipione, 1995.
sexta-feira, 4 de maio de 2012
Hierarquia doentia
Ela joga para
Baixo quem
Já está por
Baixo e se
Sente o máximo.
03/04/04.
03/01/08.
Baixo quem
Já está por
Baixo e se
Sente o máximo.
03/04/04.
03/01/08.
quinta-feira, 3 de maio de 2012
A Arte
É poder ?
Ela pode ser tudo.
Pode ser nada.
Pode ser bela ou fera.
Feia ou ferida,
Mistério ou miséria.
Mil rostos.Com rebeldia
Bem vinda quando
Inteligente ou não.
05/04/04.
03/01/08.
02/05/12.
quarta-feira, 2 de maio de 2012
Hiperbole do sentir-se gorda
Obsessão por emagrecer
Querer ficar tão fina
Quanto a fita métrica.
05/04/04.
03/01/08.
Querer ficar tão fina
Quanto a fita métrica.
05/04/04.
03/01/08.
terça-feira, 1 de maio de 2012
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