quinta-feira, 30 de maio de 2013

Artigo:texto final


A lógica  da instituição  religiosa no romance Terra, Céu e Aruanda de Rodolfo Motta Rezende



Crise é bom para fazer pensar, ou repensar muita coisa.
                                        Lia Luft
(...)Igreja e religião são  coisas  diferentes. E  a  prática das instituições, pela imperfeição dos homens, nem sempre é  o que se propõe em teoria.
                                    Bernardo Carvalho



A.Introdução:

      O romance é uma  obra realista sobre relações de poder, sincretismo religioso e conflitos de estrutura pessoal, religiosa e social, no qual personagens de diferentes  segmentos  religiosos entrecruzam  e  através desta inteiração percebemos os conflitos internos e externos desencadeados pela perda de fiéis  em religiões tradicionais ,como  a Católica ,  e  de origem africana como o Candomblé e o ganho de fiéis numa  religião com características  neopentencostais,  utilização de  instrumentos  intimidação  como  calúnia,difamação e perseguição  contra as outras religiões além de  quem não crê ou professa   na mesma fé.
      Os membros da  fictícia  Igreja dos Corações Puros na figura do pastor Elias e dona  Abigail instigam  seus membros  a um cruzada contra o candomblé  e o carnaval, e especialmente dona Abigail quem coloca as pessoas contra o padre católico e sua  empregada .Os fiéis visando resolver seus  problemas terrenos via religião aderem sem questionar e por sua  vez o pastor deseja o crescimento  do rebanho para obter mais dinheiro na forma de doação,o  dizimo.Num jogo duplo com regras  estabelecidas e declaradas  abertamente em alguns  momentos  e em outros não,  é o toma lá dá cá . A tentativa de destruir as outras religiões visa  a desagregação dos membros da religiões atacadas para  se agregarem a religião  atacante.Como já aconteceu no passado, ao longo da História dos conflitos religiosos, várias tentativas de destruição das outras religiões para que exista apena uma só em todo o mundo.Sem sucesso,porque toda busca por uma única unidade gera mais fragmentação, resentimentos e agressões.
     Confiante no avanço da Ciência Freud  analisou a importância  da  religião na civilização e a possibilidade de sua perda de importância  no futuro ,o qual não se concretizou,como atualmente é possível   perceber. Borzuk  observou a adaptação da  religião a lógica do capital administrado. No livro  em questão é um elemento  da cultura que possui uma  semelhança com a realidade concreta presente, nesta ficção a qual  percebemos  presente no cotidiano que  ratifica a analise  feita pelos autores frankfurtianos e por Borzuk.

B. O que acontece no romance?


Resumo do livro:

     O soldado cabo Saulo faz ronda noturna no  subúrbio acompanhado por  outro policial e usa  de violência durante a revista policial e mata  quem tenta fugir.Ele  acredita no poder como  autoridade exercido através da violência. Entra no templo das Águas de Oxum , a qual  representa para os homens o que de feminilidade e maternal uma mulher pode ter, Oxum observa-o, gosta do seu jeito valentão, resolve possuí-lo, avisa a mãe-de-santo do templo dona Alzira e ele é tomado por Oxum.Alzira surpreendeu-se com a escolha porque Oxum  prefere mulheres.Depois do acontecido ele não se lembra de nada.
     Na Igreja, Padre Jacinto percebeu que as  atividades como casamento, batismo,etc, estavam  diminuindo e quer saber o que sua empregada Joana faz á noite, perguntou, soube e não gostou do fato dela ser filha-de-santo-de-Oxum,frequentadora do terreiro de dona Alzira,mas acaba indo  até lá.
     Saulo observa a casa do vizinho, Pastor Elias, por desejar Lúcia, se aproxima da família oferecendo  proteção policial a igreja e a filha do Pastor, frequentando o culto.Enquanto isso, Oxum o possui em situações  inusitadas e corre o boato pelo quartel de que Saulo esta revelando-se veado.Temendo ser  expulso da corporação volta ao  terreiro de Alzira em busca de auxílio.
     O padre Jacinto é  convidado  para ir ao terreiro por Joana, ele reluta,mas vai pelo pedido da empregada.Lá encontra Saulo que o confunde com um pai-de-santo com o qual procura auxílio, dona  Alzira desfaz o mal entendido e diz que deve  ser feito.Joana  ajuda-o  no preparo da oferenda na cozinha da casa paroquial.Ogum deixa o caso de Saulo por conta de Oxum e preocupa-se mais com a perda de fiéis, mesmo problema que a Igreja Católica passa, pensa em falar com São Jorge para atuarem em conjunto.
     Saulo pede Lúcia em casamento com segundas intenções,mas ela coloca a opinião  do pai em primeiro lugar e não se entrega a ele o qual aceita submeter-se as regras impostas pelo pastor,Saulo reprime seu instinto sexual para conseguir a confiança deles e por exigência do pastor passa a trabalhar na Igreja dos Corações Puros.Então Saulo torna-se pastor Paulo, vai para  a cidadezinha de Santa Ingrácia fundar  outra filial da igreja,mas não convence ninguém fato que  aborrece Lúcia que deseja morar numa casa maior.Elias vai até a cidade  do saber como andam  na nova igreja e Lúcia relata o mal desempenho.Os dois fazem um acordo, metade do  dinheiro que for recolhido com os fiéis será de Elias em troca da ajuda a Paulo pela conquista de novos  fiéis.Elias demonstra o seu estilo  performático  citando trechos  da Bíblia e interpretando segundo seus  interesses, convence  as pessoas, ensina Paulo  a fazer milagres para arrecadar dinheiro dos fiéis além de ínsita-los   a uma  cruzada contra os terreiros de candomblé.Paulo sente saudades de sua arma, tem medo de Oxum e é intimidado pela convicção do pastor  Elias, mas pela compensação financeira submete-se aos ensinamentos do sogro e propaga o que lhe foi ensinado. Mas o que  deixa Paulo realmente frustrado é que a esposa não  quer ter relações sexuais com ele e nem quer aprender,então percebe que avaliou mal o comportamento dela, ela só tem a aparência de submissa.Para ela  a sexualidade é algo associado ao demônio.
      Paulo internamente permanece fiel a sua  antiga identidade e hábitos  que ás vezes aflora.Nestas ocasiões Abigail,membro da igreja, interpreta como manifestações demoníacas.Lúcia diz as pessoas que é estresse.Ela  revela que por trás de discurso religioso o seu interesse é apenas financeiro nas discussões de casal deles,pois  ela foi educada para isso.Abigail passa a  fazer os programas  da igreja na rádio e  controla a vida financeira de Paulo.Ele conhece Ana, filha de Oxum, que pede ajuda contra as atitudes arbitrarias de Abigail, ele apaixona-se rapidamente pela filha-de-santo.
     Enquanto isso, no dia 23 de abril, aniversário de São Jorge, padre Jacinto recebe em seu corpo São Jorge no terreiro.Depois São Jorge visita Ogum em Aruanda para discutirem sobre a perda dos fiéis nas duas religiões, católica e africana.Jacinto acorda depois de três dias. Uma  semana depois é punido pelo bispo com a transferência para Santa Ingrácia contra a sua vontade e Joana o acompanha.Na cidadezinha, os dois  são recebidos com indirefença pelo prefeito.A fofoca  corre rápido , na qual Joana é chamada de bruxa e o padre de  macumbeiro.Por causa disso, os dois são hostilizados pelos membros da Igreja dos Corações Puros, principalmente por dona Abigail, agora como  braço direito de Lúcia na rádio da cidadezinha.Jacinto encontra Paulo, bem sucedido como pastor que faz milagres, os dois se entendem bem, mas Abigail faz  marcação cerrada contra o padre e  Joana. O pastor Paulo pouco pode fazer pois Abigail descobriu que Paulo foi filho-de-santo e ela  ameaça-o com esta informação e por ter um caso com Ana que é casado.
     Paulo não aguentando a pressão de Lúcia e Abigail foge com Ana, a qual abandonou o marido,para o Rio de Janeiro.O padre medita sobre os últimos acontecimentos,resolve ficar na cidadezinha e tentar acabar com os maus entendidos.O padre sente sua fé  renovada.
C.Breve recorte da história da religião cristã e sua  interferência  em outras  religiões
     Para compreender melhor a trama  do romance e do cotidiano em questão na atualidade é  necessário   um pouco de História e suas histórias. Observamos  o romance como um recorte do microcosmo que faz parte do macrocosmo  da realidade com  fazes e faces.Por isto , não vamos aos detalhes por serem detalhes demais.Pinçamos as partes pertinentes ao trabalho proposto.
     É considerado natural para a humanidade e é cultural  acreditar na existência de ser(es) sobrenatural(is) superior(es) e  a busca de algum modo através dos ritos entrar em comunhão com ele(s), o re-ligar: a  religião. Assim nasce a fé ,a crença no que  não se pode ver, tocar ou comprovar. Fé e  religião tem princípios  que variam no tempo e  espaço ,pelos mais diferentes  motivos, interpretações e atuações. E em nome da certeza (pessoal)  que nasce através da fé na religião, seja  ela qual for, surgem  as diferenças  de opinião, tradução, interpretação, conflito de interesses que  geraram cismas, crises,guerras, novos ramos de uma mesma religião porque os crentes,no sentido  de   aqueles que creem , pensam que  as  suas  vontades são as vontades do(s) seu(s) deus(es) e aquilo que crê deve ser  imposto ao mundo como a verdade absoluta com todos os modos possíveis  e imagináveis  para  converter as pessoas “infiéis” em fiéis de sua fé, seja   pelo convencimento, ameaça e/ou pela força (tortura),ameaças de morte  e o uso da morte como exemplo : a grande ou maior  ferramenta de intimidação .
     A religião ,como ferramenta moral, guia a visão de mundo dos seus fiéis, de  modo bem limitador em especial quando se trata de líderes e fieís  extremistas,mistura política com economia  com interpretação pessoal da religião  por parte dos seus líderes,  assim interfere também  em assuntos que se apre(e)ndemos a ver  como separados dela : política, economia , relações de   conhecimento como poder,controle da vida íntima das pessoas, etc .Por isto ,nosso direcionamento analítico  não é  anti-religioso,cremos em Deus porém sem abrir mão da racionalidade e razoabilidade e sem  negar o lado negativo que envolvem as questões da  religião[i],o normal para o cidadão comum é o olhar direcionado  só no lado bom e esquecer o  lado ruim e a coluna do  meio ou só  ver o lado ruim e esquecer o bom e a coluna do meio ;  é sim analítico-histórico-ficcional,apenas relatamos  eventos como foram registrados historicamente , que ainda  acontecem  atual e midiaticamente ,sim    contra   as atitudes de  abuso político  que determinados membros das religiões de Igrejas,igrejas e de seitas, seja qual for, os quais  colocam seus interesses pessoais como ordens divinas e cometem abusos contra aqueles que denominam como infiéis, inimigos e/ou pecadores  e alegam que esses abusos  são feitos em nome de Deus,no monoteísmo .Pois  se Deus é colocado como  uma  entidade sobrenatural que  se comunica no e através do silêncio na visão cristã precisando de um padre (ou pastor) para acontecer a comunicação através deste intermédio , então se quer colocar o debate das atitudes-abusos de autoridades religiosas terrenas na esfera do impossível de se debater ,do incomunicável  ,em tese, do inquestionável ,negando a possibilidade do dialogo  com as  religiões diferentes mesmo dentro das próprias divisões do cristianismo, o “só a minha religião salva” que se repete ao longo da História de modo mais ou menos igual em contextos de modos diferentes.
      Por isto , o ditado popular diz que “ futebol, política  e religião  não se discutem” porque são  assuntos que despertam a intolerância ,a parcialidade e a passionalidade que podem levar as pessoas a matar e/ou morrer  por acreditar  que sua opinião sobre o assunto ou a opinião colocada como a verdade é a correta.O considerado sagrado não se discute, ou mata  ou se morre ,ou as duas coisas por isso. Se alguém questionar ou demonstrar que  a   crença  ou opinião sobre a  crença que se acredita,seja qual for,  ser a sua verdade como a  verdade coletiva , pode não estar tão certa assim,  pode provocar ira e desejo de  difamar e/ou matar quem ousa questionar ou não acreditar, mesmo não sendo uma crença tão coletiva assim.Por isso ,destruir  quem é considerado(a) diferente ou tem o pensamento diferente é importante para não ter quem veja a crença de outros modos.A cegueira unilateral nega a pluralidade .O desejo de matar por matar  é justificado  por um dos três motivos  que criminalmente são injustificáveis .Embora o prazer de matar exista internamente em muitos  seres humanos  , muitos outros atribuem   tal instinto de destruição  a  fatores externos  como  o demônio ,a desculpa sobrenatural  clássica  para a natureza do mal humano no cotidiano humano .
     Para Allan Percy[ii] o fato de existirem “um grande número de seitas,times de futebol  e partidos políticos revela que  o ser humano se sente confortável  dentro de uma comunidade em  que a linha de pensamento é estabelecida de antemão.”Pois pensar é um trabalho  árduo ,por isso não é ensinado nos colégios e a filosofia  é menosprezada   enquanto  parte dos currículos escolares .Não pensar é ser seguidor de outros  abrindo mão da capacidade de tomar decisões e  traçar seu próprio  caminho.Assim reduzindo a mentalidade a uma  única perspectiva faz com que as pessoas entrem em conflito  constantemente com aqueles que   seguem  outras perspectivas e escolheram outros  caminhos, o que é uma grande fonte de estresse. E o estresse ao extremo faz matar ou faz morrer.
     Segundo Carl Grimberg[iii]  os primeiros cristãos são  encontrados no  registro na Roma  antiga  governada por  Nero em Anais feitos em  Tácito das perseguições ordenadas por Nero, por volta do ano 100 os  quais sofreram  com perseguições , boatos e má interpretações. Os cristãos  eram uma pequena  seita religiosa sem importância pelos poderosos da época, pois seus seguidores eram humildes pescadores e pessoas de  condição modesta, eram pouco habituados ao uso da  escrita  por isso sua doutrina e a história eram transmitidas oralmente nas comunidades e quando era necessário  fixar elementos no Novo Testamento  utilizavam o grego elementar o qual era língua  veicular mais comum que reforçava , na época, o estilo concreto ,exato e  realista das narrações  evangélicas (?) bíblicas. No  decorrer dos séculos tornou-se o livro mais popular de muitos povos.No reinado do imperador Tibério, Jesus  de Nazaré levou a sua mensagem as multidões atentas profetizando o reino “ que não é  deste mundo”, mas que  uniria  os povos da Terra  em fraternidade espiritual, após sua morte o Evangelho chegou a cidade romana,mundo no qual a crueldade e desprezo pela  vida humana, em especial de escravos e  gladiadores, surgiu esta mensagem  diferente: “Amai ao  próximo como a ti mesmo”.Durante muito tempo ,para o romano médio , o cristianismo era uma  entre as religiões orientais que invadiam o país, junto com o helenismo ,porém menos  notado e depois  tornou-se  mais forte do que  os sistemas religiosos concorrentes,pois Cristo era “ o Filho do Homem”, a grande promessa de uma  beatitude eterna para seus seguidores, Cristo causou uma impressão irresistível , outro ponto de influência é que  Jesus podia ressuscitar a qualquer momento para julgar os vivos e os mortos, o Apocalipse  de São João, a fé  inabalável  dos crentes( aqueles que acreditam), o  mestre sempre ao lado do crente como no  seio da comunidade, não apenas no ato do culto ,pois  a religião oferecia “ o poder do Espírito Santo” e a  proximidade de Deus  ,enquanto  outras religiões de  mistério  facultavam uma experiência efêmera só possível  em determinado momento por intermédios de  rituais e seus respectivos sacerdotes. A lei do amor ao próximo foi formulada  na época de  Moisés é  Cristo deu-lhe um aspecto mais positivo, além de ensinar que Deus é Pai para os judeus e todos os  homens sem distinção de “raça”, categoria social, etc, o que  ia contra a ordem social vigente   causando a ira e perseguição do sinédrio judaico[iv] o qual causou sua  morte, também opôs-se  a difusão do cristianismo e organizou perseguição aos seguidores cristãos sem sucesso. O Novo Testamento  menciona apóstolos, eclesiáticos e leigos que dirigidos por bispos instalados nas grandes cidades difundiram a doutrina cristã.
     Neste contexto o Império Romano ofereceu terreno para a  expansão do cristianismo, porque  no início a  pax romana permitia a livre circulação em lugares comandados por Roma e em toda parte as pessoas algo mais do que  as cerimônias do culto oficial. Os filósofos  gregos e os alunos latinos tinham ideias elevadas  sobre Divindade e a  imortalidade da alma, existência da  Fortuna,etc, mas a massa popular  não queria ideias , queria fé  e o cristianismo correspondia  ás aspirações  da alma humana, a  sua inquietação  perante a  morte, o  desgosto com o que é oficial. Proclamou a  igualdade entre os homens e deles perante Deus, encontrou  os primeiros adeptos entre os pobres da época que a sociedade humilhava e os escravos que eram considerados animais, os quais  experimentaram  no exercício  do culto  e na vida  comunitária , consciência  de sua dignidade  humana; assim pela primeira vez fazem parte  numa comunidade  religiosa em pé de igualdade com os homens livres, sem ser  uma programa social ,pois a  base  da doutrina é a mensagem de Cristo dirigida a todos os seres humanos sem excessão, a salvação oferecida a todos e  por isto a recusa quase  sobre-humana  dos primeiros cristãos em  trair o seu  Senhor e Salvador. Os oprimidos dessa época  impressionaram-se com santo Ambrosio  que dizia que  aquele que não se pode forçar a fazer o que  não quer deixa de ser escravo,por essa razão o martírio era o triunfo, a  alegria  de poder sofrer com o por  Cristo pela perspectiva de  uma  beatitude eterna os  tornaram insensíveis  a todas as dores e operou maravilhas.O sangue dos  mártires  foi a  semente da Igreja, força dada pela fé e amor ao próximo, a religião de consolo e esperança que dava uma razão para  viver e para morrer.
     A visão de Grimberg  nos dá uma noção da importância  em diferentes aspectos  da religião cristã. Porém sua  alegação da Bíblia é questionada  por estudiosos da História, Antropologia,Linguística entre outros.A Bíblia é vista como um  guia ético-espiritual e um documento  histórico ,possui numerosas  narrativas e gêneros  como história , poemas, ditos populares, profecias; utiliza a  parábola em suas narrativas.Para   os fiéis é o livro que possui toda a verdade( verdade é um conceito que os filósofos  questionam muito e com razões para isso) escrita( o “se está escrito então é  verdade” e ponto final,mas nem tudo que é escrito é verdade,outra polêmica filosófica e literária que dá assunto para mais de quilômetros  de argumentação) nele e se é a  verdade , então ela  deve ser imposta aos outros.
     O Cristianismo cresceu, multiplicou e se dividiu,  é continua se dividindo e sub-divindo, passando por alterações no decorrer dos séculos tornando-se  uma entre as formas de poder e/ou as faces dos poderes oficiais e forma de opressão.Deixou  de ser  religião periférica dos oprimidos de um império antigo e passando a ser a religião oficial de muitos reinos europeus transformou-se através das ações de seus  integrantes mais radicais e loucos[v] para unificar o rebanho  , em mecanismo de opressão e ferramenta de controle social (até mesmo da  vida íntima das pessoas) daqueles que  desejavam tornar o cristianismo na única  religião do mundo todo,difamando e  tentando destruir  as outras religiões e as divisões dentro da própria religião ;as quais aconteceram por divergências internas,além de declararem os avanços das ciências como inimigos da fé,dando os superpoderes ao diabo através de  exagerados escritos fantasiosos[vi]  e   agregando elementos  que  não entram em conflito com as  regras do cristianismo oficial.As relações conflituosas entre  religiões diferentes e a aparentemente  diferentes são uma constante na História da Humanidade, porém poucas vezes  é tranquila e harmoniza.A religião ,seja qual for, une as pessoas em determinados momentos em torno de uma causa comum e depois separa por alguma discordância grande ou pequena   , em outros momentos por  divergência  de opiniões, atuações , diferentes interpretações e interesses envolvidos.
     Em dois mil anos de cristianismo alguns entre os principais fatos históricos  foram: aproximadamente no século 4 a 8 a.C. nascimento de Jesus, 26 d.C. Pôncio Pilatos é nomeado prefeito da Judéia e Jesus é batizado por João Batista, 30 d.C. Jesus é preso, condenado e crucificado em Jerusalém ; dez anos depois, mais ou menos mil seguidores se espalham pela região ,70 d.C. os romanos reprimem a revolta dos judeus e destroem o  Templo  de Jerusalém iniciando a diáspora judaica, 313 d.C. ,o Edito de Milão legaliza o cristianismo no Império Romano, 350 d.C. o número de cristãos é  mais ou menos 34 milhões que é  mais da metade  da  população do Império Romano ,611 d.C. Maomé “recebe a revelação do Alcorão” pelo Arcanjo Gabriel e funda a religião mulçumana, 637 d.C. os mulçumanos conquistam Jerusalém ,porém permitem a peregrinações dos cristãos; 751d.C.  vinte cidades são doadas a São  Pedro e aos seus sucessores por Pepino, o Breve, rei dos francos.  Nasce o Estado Pontíficio, 880 d.C. inicia a canonização  dos santos pelo papa Adriano II ,1059 d.C. o papa Urbano II convoca a primeira das oito Cruzadas até 1270 para reconquistar a Terra Santa, 1054 d.C.  acontece a primeira cisma da Igreja entre as alas oriental e ocidental nascendo a Igreja  Ortodoxa,1186 d.C. a inquisição é  estabelecida no Concílio de Verona, 1517 d. C. Martinho Lutero inicia  a  Reforma Protestante na Alemanha  , 1545 d.C. inicia o  Concílio de Trento que condena  o pluralismo de crenças religiosas, 1870 d.C.  fim do Estado Pontifício e o território papal é restringido a uma pequena área no centro de Roma, o I Concílio  Vaticano estabelece  a infalibilidade papal ,1929 o  Tratado de  Latão é assinado por Mussolini  estabelecendo o Vaticano como  Estado Pontifício independente, 1947 são encontrados os pergaminhos de Qumarn  no mar Morto que são as mais antigas versões de passagens  da Bíblia, 1962 a 1965 o II Concílio  Vaticano estabelece reformas litúrgicas como o fim das missas em latim entre outras .As informações citadas  são apenas pinceladas de alguns fatos importantes desta  longa História, muitas vezes conturbada e atravessada por interesses políticos e econômicos  , que são  necessários para compreender as mudanças que aconteceram e a  analise do  romance.
     Alguns ecos do passado estão presentes na  atualidade real e na ficcional, só que  de maneiras diferentes ou camufladas,mas não muito.A história se repete em proporções maiores ou menores parecida com o passado.Ou seja ,nada é realmente novo ou novidade.
     Segundo o comentário de  Leonardo Boff[vii] observou que  na atualidade o espírito  coorporativo da Igreja que  levou as práticas da Inquisição permanece só que com uma certa dissimulação,pois a pretensão de ser a  verdade absoluta  desencadeou  a intolerância   na forma de salvação eterna  crendo na suposta infalibilidade( que é um conceito totalmente questionável  devido aos erros e crimes  humanos contra outros seres humanos cometidos  em nome da  suposta fé em Deus) os membros da Igreja não admitem que  cometeram erros,pois não aceitam a verdade como busca pessoal das pessoas ,na qual o questionamento  que é parte da busca, não é permitido e a fé é  ou seria monopolizada pela Igreja.Com esse ponto de vista radical a Igreja  transformou a heterodoxia, a heresia e o herege em ameaça a sua existência , em arqui-inimigos  da fé e para o “perigo máximo” a resposta é a  vigilância  e repressão máxima,porque  o herege coloca a unidade política  em risco na lógica  deste modo de pensar. A fé deveria ser apenas aceita e não ser pensada, isso  devido ao próprio hierarquismo da instituição oficial, por isso nos bastidores  a lógica  inquisitorial atua  e  existe pautada pelo discurso da legitimação dogmatizado e atribuído a origem divina ao humano, entretanto é um discurso (demasiadamente) humano, legalizador  de direitos, privilégios e interesses históricos dos  poderosos da Igreja e suas preocupações  neuróticas  por hierarquia,  identidade e preservação da sua imagem  os quais decretam como absoluta a sua  verdade impossibilitando o discurso do(s) outro(s)  que deve ser sempre  estrangulado e/ou exterminado.Tal mentalidade permite a reativação do espírito  inquisitorial e a instrumentalização de sua  atuação,pois o departamento da Inquisição só mudou de nome e não de mentalidade atuando na  busca da morte psicológica  dos supostos inimigos  da sua fé em substituição da morte física.
     É pertinente este  comentário  para compreender que o passado  não ficou atrás, o ódio as outras religiões está bem presente no presente, porém atuando de outros modos em ambientes um pouco menos agressivos,em outros mais .Elementos que fazem parte da nossa cultura de forma enraizada e ao mesmo tempo diluída.A intolerância  religiosa  no romance demonstra que o discurso inquisitorial  está presente nas  características  do neopentencostalismo  analisados por  Borzuk: a estandartização (padronização) , o antiecumenismo ; não há a aceitação  do dialogo  com os  de outras religiões mesmo que estas religiões tenham saído do mesmo tronco-comum do Cristianismo e  pior  ainda com as  que não são nem parentes próximas ( dentro do senso comum do ‘é diferente é meu inimigo’) .Como no romance acontece  a perseguição  a religião de origem africana  como coisa do diabo e ao padre católico  por parte dos membros da Igreja dos Corações Puros.
      O Neopentencostalismo nega o  ecumenismo o qual tornou possível  a propagação do Cristianismo em seus primórdios , quer o conflito para ocorrer a impossível e a improvável  eliminação das outras religiões. Não aceita que existem diferentes caminhos para chegar a  Deus.
     A religião de origem africana que  aparece no romance é o  candomblé  que sofreu uma interferência  negativa por parte dos representantes do cristianismo, foi  adaptada e/ou camuflada por seus adeptos para sobreviver  a repressão imposta aos  negros escravizados no Brasil Colônia pelos brancos senhores de engenho entre outros de outras atividades econômicas.Os orixás  tiveram de ser adorados disfarçados de santos católicos, pois nesta época, século XVI em diante,  o discurso  cristão primitivo está mais do que neutralizado,é só um discurso esvaziado, e a Igreja oficialmente era uma excelente  colaboradora de reis ,senhores de escravos, da  política e políticos em geral, etc ,e ratifica a ideologia  da escravidão no Brasil como em outros países  tendo ganhos  financeiros consideráveis  com tal atuação, segundo Bastide[viii]. É nas confrarias dos  negros que ocorreu a assimilação da fé e o sincretismo religioso brasileiro.Foram os jesuítas que estabeleceram dois  critérios, o de assimilar os valores religiosos nativos que não inquietavam a Igreja e o de  reinterpretar os valores aceitos com a  inserção de termos cristãos.O que é  adaptável  é aceito pelo catolicismo,mas por outro  lado os efeitos da  miscigenação foram combatidos para engessar  e distanciar as classes sociais, utilizando o dividir para  governar dentro das camadas sociais e fora delas(Maquiavel) para melhor exercer o controle e privilegiar os já  privilegiados  portugueses cristãos,os políticos  proibiam a perpetuação dos cultos africanos  no Brasil, os  inquisidores em visita ao país nesta época considerando estes cultos como  diabólicos  abriam inquéritos ,mandavam prender e etc,mas a repressão, calunia,difamação e prisão não surtiram o efeito desejado. Os cultos sobreviveram modificados ,adaptando, disfarçando e  conservando-se apesar das  situações desfavoráveis, os religiosos cristão não conseguiram destruir por completo as outras religiões  e nem uniformizar todos os corações e as mentes.
      É um fenômeno natural até nos dias de hoje, quanto mais uma religião busca ser a única e a  unidade  mais fragmentação  gera, pois do mesmo galho nascem muitos ramos rapidamente.A ambivalência era uma constante nas sociedades.E no fim do século XIX o Espiritismo [ix] desenvolve-se no Brasil com seus  fenômenos de  mediunidade e incorporação dos mortos que  possibilita a reinterpretação  em termos europeus  das religiões africanas.
      O candomblé no Brasil é dividido em seitas ,pois cada candomblé tem  sob a sua autoridade um único sacerdote com o dever de homenagear  todas as divindades(é politeísta) ao mesmo tempo e sem exceção devido a própria fragmentação que a escravidão proporcionou.Porém quando criados por negros  livres ,estes introduziram os ancestrais familiares ao lado de divindades da natureza.Os  ramos familiar e nacional sobreviveram em conjunto  tornando-se elemento de resistência  contra a  escravidão. Um  fenômeno que aconteceu  e ainda  acontece é que as religiões africanas exercem uma sedução sobre as populações não negras do passado e mesclada do presente, mesmo quando eram proibidos, porque os europeus  coloniais  confundiam os cultos africanos com feitiçaria e com o demoníaco  por ser  diferente : os cultos não proíbem a alegria, a dança , a música  e a comida. Diferente do cristianismo católico  que é centrado na seriedade e severidade  entre o fiel e seu Deus tendo o padre como intermediário  entre eles.
     O sincretismo religioso ,por sua vez, nasce da dissimulação  dos deuses  negros em santos católicos , adaptação e mudanças que permitem a aproximação do cristianismo com a religião africana  e/ou  a aculturação: em ambas  há o  anjo  da guarda o qual o católico  não conhece pelo nome e o africano conhece pelo nome. Nas duas  santos e orixás viveram na Terra,mas o catolicismo canoniza  seus santos , o africano ignora a canonização; os orixás se manifestam no plano material e no transe místico , o fiel  passa por uma comunhão com a sua divindade, enquanto os padres  proíbem  as manifestações dos santos. A religião africana é  celebrada alegremente numa  atmosfera de música ,cantos e danças , o clima é de festa;  é politeísta  e adora também as forças da natureza, ocorre uma inteiração entre a personalidade do fiel com o seu orixá de devoção ou  pelo menos a crença assim  coloca  que deve  acontecer.
      O cristianismo é solene e sério, o sacerdote é o intermediário  entre o divino e o  humano, porém  com um certo distanciamento entre eles. O sincretismo religioso  não  é um  fenômeno genuinamente brasileiro, antecede ao tráfico  negreiro, começou com a evangelização  protestante na África. Depois da  mudança de paradigmas tornou-se um traço cultural nacional valorizado como brasileiro,  devido a busca de  identidade cultural perante a globalização, também pelo turismo.Mas está sendo re-satanizado  pelas seitas  neopentencostais  mais agressivas na atualidade. Como o  candomblé no romance.
     A  bruxaria  é uma  religião  que  cultua a natureza que antecede o cristianismo, possui características  que a  aproximam as religiões africanas.A  relação  entre bruxaria e cristianismo  é marcada mais  pelos  conflitos e confrontos  do que pela alteridade. Não pretendemos  discorrer sobre a  polêmica  em torno da religião ,a história é longa, e sim  compreendê-la em suas linhas gerais,porque  apenas a  distorção  feita pelos  adeptos do cristianismo(cuja a mensagem de amor universal foi neutralizada) é citada no romance analisado.   As lendas das bruxas como criaturas do Mal iniciaram na Idade Média,pelos motivos  anteriormente  citados,  na verdade elas eram mulheres que  tinham um profundo conhecimento sobre a  natureza e ervas medicinais que utilizavam para cuidar e salvar  vidas das pessoas de sua comunidade, eram as xamãs das  mesmas, parteiras e médicas populares ,por isso elas  eram uma  ameaça a centralização do poder e do saber que os membros da Igreja Católica pretendiam exercer sobre as pessoas.
     É uma  religião de doutrina matrifocal que  atualmente possui vertentes e ramificações, a divindade principal é  a Deusa ou Grande  Mãe, o culto é voltado para a  integração com a  natureza na qual os ritos são vivenciados ou num espaço natural ou  dentro de casa,não necessita  propriamente de um  templo e como teve de  adaptar-se as mudanças político-sociais, o assédio de outras religiões, perseguições ,etc,  para sobreviver ao que  a  Inquisição fez  quando intensificou  a  perseguição no fim do século XIV até o século XVIII,  segundo Muraro[x]  foi um fenômeno generalizado na Europa de  repressão sistemática  do feminino, os quatro séculos de “caça as bruxas”. Milhares de mulheres foram queimadas vivas, homens, hereges ,etc, de modo bem calculado e  planejado para  obter maior concentração de poder, pois no mundo  teocêntrico e teocrático  a transgressão da fé  também  era  política  e os inquisidores  atrelavam  também a transgressão sexual no mesmo nível para melhor vigiar e  punir as mulheres(especialmente as mulheres,mas  também os homens que não concordassem). Para estes membros  do cristianismo católico foi importante  caluniar e difamar a bruxaria  transformando-a  em culto ao diabo e a bruxa( versão fictícia)  em  especial aliada do Mal.Contra tão “poderosos inimigos” vale tudo: tortura e morte, a intolerância  é permitida  apenas para os  portadores da religião  oficial no âmbito  público e privado. No século XX, as mulheres buscaram romper dois tabus  que desencadearam  a morte das bruxas:inserção no mundo público e a busca do prazer.
     Processo que ,no nosso ponto de  vista,  está em andamento com progressos e regressos.[xi]Ironicamente  foi a evolução do cinema e das técnicas de  computação gráfica que produzem imagens  cada vez mais realistas que  solidificaram no imaginário  popular  as figuras da bruxa má e o diabo como seres   poderosos quase indestrutíveis .Existem vários  filmes e romances que também  contribuem para esta “presentificação”  da fantasia na  realidade-mental das pessoas:se viu no filme então  existe no real.Se alguém  escreveu ,então existe.É como o “se está na Bíblia então é verdade” guardadas  as devidas proporções.Mas há algumas produções   que colocam as bruxas como seres  poderosos do bem, o que é um progresso dentro do campo do imaginário .Os super poderes bons ou maus  são  outro produto cultural  da imaginação exagerada que fazem parte do imaginário popular há séculos, desde quando eram apenas histórias orais e fazem parte da atual cultura das produções literárias,quadrinhos ,cinematográficas , etc.Parte de um (in- )consciente cultural  ficcional coletivo.
     O uso  das plantas medicinais para tratamentos de  saúde, a fitoterapia, é amplamente difundido e utilizado atualmente por todas as classes sociais, em especial ,nas camadas humildes da  população,a medicina moderna não alcança todas as camadas sociais e há quem não confie muito na mesma . Há pessoas que abusam por achar que o que é natural não faz mal ,mas em  excesso faz mal sim. Chás de saquinho  e canja de galinha ,por exemplo, eram algumas das “poções”  das temidas bruxas, coisas que hoje compramos  em qualquer mercado,são  dois exemplos do que o exagero da imaginação  é capaz de transformar  coisas  simples em ameaças tremendas.
     Todas as  religiões , de maneira geral, possuem uma mensagem  de amor universal, porém  com a  integração  da política, economia , interesses pessoais, neuroses e psicoses   de seus  membros e gerais da comunidades, tentativa de  conversão  de outros pelo convencimento e/ou dominação ,etc, demonstram que os conflitos   que  ocorreram  no passado ainda ocorrem no presente e  poderão ocorrer no futuro,de modos diferentes e semelhantes.O ditado popular “na prática a teoria é outra” é bem  adequado com este  contexto de discursos religiosos que diferem das ações.
     No século XX  ,os cientistas e pensadores tentaram compreender racionalmente os fenômenos  religiosos e  ainda tentam  em diferentes ramos científicos independente disso , vemos que neste  século XXI os conflitos por causa de  diferentes pontos de vista religiosos estão  na ordem do dia,com outros protagonistas ,velhos ressentimentos e a mesma intolerância  de antigamente,não tão antigamente assim.As tecnologias  evoluem  rapidamente , mas não   são todos os seres humanos que evoluem de comportamento tão rápido assim. 

D.Freud explica e Borzuk também explica

     As ciências fazem  parte da atualidade ocidental, não possuem todas as respostas,mas faz todas as perguntas procurando as verdadeiras  respostas( no sentido literal das palavras) e por isso incomodam tanto. No silêncio da  História há muitas histórias que  não foram contadas ou mal contadas  ou foram destruídas  para serem esquecidas. Como as religiões que se pautam na certeza absoluta, as  ciências podem ser usadas para o bem ou para o mal, depende das intenções humanas , dos interesses envolvidos de quem financia  qualquer  tipo de pesquisa científica ,etc.O perigo é qual será a intenção humana?
     As pessoas diante de suas expectativas frustradas  deixam de  acreditar nas ciências,justamente por causa das dúvidas  que  desperta e as certezas que não oferece, que para  acreditar nas religiões  quase cegamente ou cegamente  como vemos na atualidade.Decepcionadas com o não cumprimento das promessas feitas no período do Iluminismo  as pessoas buscam por caminhos  diferentes  o reencantamento do mundo,o que infelizmente   inclui  novas seitas e religiões que leem a Bíblia ao pé da letra  e negam os progressos  do presente ,seitas malucas ,falsos gurus, charlatanismo e picaretagens dos mais diversos tipos; falsas videntes,falsos pais-de-santos ,etc. Há na maioria dos cidadãos  comuns o  desejo de certezas e  se possível certezas absolutas. Outras querem  que  o  sobrenatural haja em suas vidas de alguma maneira .Ciências e tecnologia  e religiões coexistem ás  vezes harmoniosamente , em outras  muitas vezes conflituosamente. Tudo depende dos fatores envolvidos.Nos dias de hoje ,há muitas religiões para todos os tipos de ideologias, angustias, bolsos,gostos , intenções, etc. O papel das  religiões mais recentes possuem alguns elementos da tradição e apresentam  algumas mudanças  de âmbito  social.
   E.  Por que alguns  elementos mudam e outros não?
     Freud em O Futuro de Uma Ilusão(1927)[xii]  escreve sobre a  civilização ,seus problemas, ganhos e perdas, a necessidade da repressão.Para ele o valor da religião reside  em frear os desejos antissociais  que as pessoas  possuem e por isso o mandamento “não matarás” é  necessário , um estudo  da natureza seria muito difícil de suportar porque  ela  possui seu próprio método de coibir ,destruindo de modo frio, cruel e incansável através do que ocasiona satisfação.  Foi por causa desses perigos naturais que as pessoas reuniram-se  e criaram  a civilização, a qual destina a tornar a vida comunal entre outras coisas possível , sua  principal   missão é  nos defender contra a natureza,pois ela não se submete  inteiramente ao ser humano , o qual tem  consciência  da fraqueza e do  desamparo,  refugiando-se  no trabalho da civilização.
      Tanto para a  humanidade quanto  para o indivíduo a vida é  difícil de suportar, porque a  civilização  também impõe  privações  e sofrimento  devido as  imperfeições da mesma, junto com  a natureza indomada ou  o denominado Destino. Diante disso as reações do indivíduo são resistência  aos regulamentos da civilização e de hostilidade para com  a mesma  civilização que o poupa da  tarefa de autodefesa  contra os poderes superiores da natureza. Uma  tarefa múltipla para a autoestima  humana que exige consolação, eliminação de temores, a curiosidade movida por  praticidade busca respostas cujo primeiro passo foi a  humanização da natureza, controlando o medo e  despojando parte de seu poder. Então os fenômenos  naturais são explicados ,mas o desamparo humano não desaparece ,nem  o anseio pelo pai e pelos deuses que  mantêm  sua tripla  tarefa:  exorcizar os temores da natureza, reconciliar os seres  humanos com a crueldade do Destino ( a morte) e compensar  pelos  sofrimentos e privações que a civilização impõe. Assim a moralidade tornou-se função dos  deuses, vigiar o cumprimentos dos  preceitos da civilização que os  humanos obedecem  imperfeitamente, os quais foram  creditados a origem  divina, foram elevados a cima da  sociedade humana e estendidos á natureza e ao universo. Assim criou-se o cabedal das ideias que tornaram o desamparo e as ameaças  suportáveis.  O universo é visto pela ordem estabelecida da civilização, o bem  recompensado, o mal punido após a  morte. A  vida após a morte resultando o aperfeiçoamento. Os deuses foram condensados num só deus que por trás da figura divina tem a figura do pai como  núcleo,  retorno aos primórdios  históricos da  ideia  de Deus com  o qual  busca-se recuperar a intensidade e intimidade da relação  pai e filho  (amorosa).
     As ideias religiosas surgiram da necessidade  de  defesa contra ás forças  naturais , assim como as outras realizações da civilização de retificar suas  deficiências  e imperfeições, herança de muitas  gerações, porém o corpo das  ideias religiosas é geralmente apresentada aos indivíduos  como  revelação divina, ignorando inteiramente o desenvolvimento histórico  conhecido das ideias e suas diferenças em épocas  e  civilizações diferentes. Em Totem e Tabu   trata  da religião  sobre um prisma diferente, tudo como relacionamento filho-pai: Deus como pai exaltado e o anseio pelo pai constituindo  a  raiz  da necessidade de religião, necessidade de  proteção contra as consequências  da  debilidade humana. Freud não deseja  levar a  diante a investigação  do desenvolvimento da ideia de Deus e sim o corpo acabado das ideias  religiosas do modo como é transmitido  pela civilização aos indivíduos. Elas  são ensinamentos e afirmações sobre fatos e condições da realidade externa(ou interna)  que dizem algo que não descobrimos  por nós mesmos e reivindicam  nossa crença, pois todo ensinamento exige  crença no conteúdo , com fundamentos depois  que alguém prove existir ou mostrar o caminho para experimentar a descoberta, a  busca filosófica  do “como se” e a formulação  de hipóteses. Por isso, compara as ideias religiosas com os contos de fadas os quais encantam  crianças embora não sejam verdadeiros e considera como um  novo problema  psicológico ,pois as pessoas acreditam apesar da falta de autenticidade.  
     Freud  alega que as ideias religiosas são proclamadas como ensinamentos ,ilusões, realizações dos mais antigos ,fortes e prementes desejos da humanidade; sua força reside nesses desejos: amparo de um pai poderoso( proteção através do amor), ordem moral, mundial e o prolongamento da vida  projetada para o futuro. O característico nas ilusões é o fato de derivarem dos desejos humanos contradizendo a realidade e resalva que não precisa necessariamente ser falsa,  irrealizável  ou estar em contradição com a realidade.Possível porém  improvável  apesar da ilusão não dar valor á verificação,pois  as ideias religiosas  não podem ser  comprovadas  como também não podem ser  refutadas.Freud crê  no valor das respostas científicas  a longo prazo  para chegar ao conhecimento ,mas reconheceu ser um  problema  questioná-las  porque a civilização ergue-se com elas e a  manutenção da sociedade humana se baseia na crença como verdade destas doutrinas e sem  a  crença em Deus ,ordem divina e vida  futura não haveria  obrigação de obedecer aos preceitos da civilização, a inibição e o temor são necessários  para conter os instintos  antissociais  e  egoístas  das pessoas , e as mesmas  só  encontram consolação e o suportar a vida com  auxílio das ideias  religiosas, por isso ele  pondera que não se deve despojar sem ter algo melhor a oferecer em troca , e é diante das necessidades  humanas imperiosas a ciência é  incompleta  e frigida, porém com os  avanços da mesma as religiões perderam parte do seu poder ou influências sobre a massa humana( ele se refere a  população europeia  cristã). As pessoas estarão menos   críveis a medida  que o espírito  científico  colhe bons resultados,   mas  é  preciso encontrar outro modo de conter os instintos  homicidas  daqueles que veem  o castigo  divino como único freio moral( o conceito : se  Deus não existe, tudo é permitido). Afirma que os  regulamentos e preceitos  atribuídos a Deus são puramente humanos, poderiam perder  a pretensa sanidade, além da rigidez e imutabilidade; assim as  pessoas poderiam  compreender  que são elaboradas sem interesse de  dominação e sim para servir aos interesses  coletivos visando a melhora dos mesmos reconciliando-os com o fardo da civilização. Ele ao  mesmo tempo respeita e  questiona  as doutrinas religiosas  porque as suas verdades são deformadas e sistematicamente   disfarçadas de modo que a  humanidade não as identifica como  verdade ou verdade com roupagem simbólica  que  gera desconfiança  e  rebeldia.Por sua vez  os crentes ( aqueles que creem ) são ligados afetivamente com a  sua religião, há aqueles que temem a crença,  outros  que a  abandonam quando percebem que seus pares não o seguem. O problema crucial neste ponto é o abuso da educação para submeter as pessoas a religião  e outro problema é a  remoção por argumento e/ou  forçada  da religião não terá resultado, desencadeando outra crueldade. Para ele os homens  devem desenvolver e sair  deste estágio infantil para a civilização deixe de ser opressiva tornando a vida mais tolerável através do desenvolvimento do conhecimento. Supõe que é  possível  que a educação libertada do  peso das  doutrinas religiosas  não cause grande mudança na natureza psicológica  do ser humano. As mudanças de opinião científica  são desenvolvimentos ,progressos e não  revoluções ,pois estão sujeitos a  aperfeiçoamento, revisão e reelaboração. O  conceito de verdade inquestionável  no caso da ciência é um erro,porque  ela evolui. Sendo  assim a ciência  não é ilusão.
     E em O Mal-Estar Na Civilização(1930) [xiii]  Freud analisa os falsos padrões de avaliação das pessoas, a  busca  por poder, sucesso e riqueza para si mesmas que  admiram  nas outras pessoas,não valorizando o que  verdadeiramente tem valor na vida dentro das variações  do  mundo humano e da vida mental.Uma minoria valoriza  grandes  homens enquanto a maioria despreza, pois há  na mente o elemento primitivo que mostra tão comumente preservado mesmo com ao lado da versão  transformada que surgiu, a atitude ou impulso instintivo  permaneceu inalterada  enquanto a outra parte desenvolveu posteriormente , assim o que conduz ao problema  mais geral de preservação da esfera mental, ou seja, o desamparo  e a  necessidade de  proteção de um pai o qual é maior, necessidade maior no ser humano comum ou médio .Para este só a religião resolve a  questão do propósito da vida, ideia que se forma e desmorona com o sistema religioso o que leva a   resposta busca ,obtenção da felicidade e permanência da mesma: programação  do princípio  do prazer o qual domina o  funcionamento do aparelho psíquico desde o início em escalas micro e macrocósmica  possível de  realizar por  diferentes caminhos: isolamento, agrupamento, tóxicos; porém  o aparelho mental    admite muitas  outras influências: aniquilamento dos instintos, controles, deslocamentos da libido (sublimação),etc,  e o  rompimento de limites leva  ou pode  levar a loucura. Um dos caminhos da arte de viver que alguns escolhem é o amor, a busca pelo amar e ser  amado é fonte de prazer, inclusive sexual, por sua vez a falta de objetivo amoroso causa sofrimento. São  diferentes  fatores que conduzem as pessoas  a fazer sua escolha.
     Para Freud  a religião restringe o jogo da escolha e adaptação impondo  igualmente a todos o seu caminho  para a obtenção  de felicidade e para  proteção contra o sofrimento,   pois  sua técnica  consiste  em depreciar   o valor da vida  e deformar  o quadro do mundo real de   maneira delirante o que  pressupõe uma intimidação  da inteligência (cremos que ele se refere ao uso político da religião como ferramenta de controle, estilo lavagem cerebral).O preço pela  fixação á  força é um estado de infantilismo psicológico  e o arrasto a  um  delírio  de massa , a religião  poupa as pessoas da neurose individual, dificilmente algo além disso, não  consegue manter a sua promessa, se o crente crê  sem restrições está  admitindo que o que lhe restou  enquanto consolo e fonte de prazer possíveis  ao sofrimento foi a  submissão incondicional.
     A insatisfação das pessoas  com  a civilização foi ocasionada por  acontecimentos  históricos  específicos  ,processo que já  devia estar em ação na vitória  do cristianismo(como religião oficial reconhecida pelas  nações) contra as religiões pagãs( o que não significa que deixaram de ter  seguidores), relacionando a baixa estima que a  doutrina  cristã dá a vida  terrena. Por  isso, os  avanços das ciências  são importantes, porém resalva  que não trouxeram aumento da satisfação  prazerosa ,trouxeram alívio para determinadas situações e também novos problemas. A Civilização  é  imperfeita, mas pensar que as civilizações do passado  foram melhores é um erro porque  não há  como comprovar o que não foi estudado  e comprovado como fato. Como a felicidade é algo subjetivo. Os avanços  científicos  ,para Freud,  farão o ser   humano  ficar mais  próximo a Deus, mesmo com a insatisfação; e cita a limpeza ,a  higiene, desenvolvimentos científicos e outros  aspectos da  civilização ocidental como positivos(sentido literal da palavra) ,não elimina por completo os negativos ,tendo o cuidado de  discordar  com o preconceito sobre a civilização como aperfeiçoamento, como  estrada para a perfeição pré-ordenada  para os seres humanos.Cita regras e restrições , as reações das pessoas a elas, a impossibilidade  perante a sociedade e o indivíduo  do amor sem restrições da religião: “Amarás a teu próximo como  a ti mesmo”, exemplifica que   não é fácil  como aparenta aos  homens abandonar a inclinação para a  agressão  cuja ausência gera desconforto, há a possibilidade de  unir um grupo de pessoas  no amor, enquanto restarem outros para serem objeto das manifestações  de sua agressividade. Como  no caso  do  apóstolo Paulo que  postulou o amor universal entre os seres humanos como fundamento da sua  comunidade cristã não eliminou a extrema intolerância  por parte da cristandade  para com os  que permaneceram  fora dela, o que  tornou-se uma consequência  inevitável.A qual é a  mesma situação estrutural  dos comunistas russos contra os  burgueses.
      Porém quando os preceitos religiosos são negados mediante provas científicas despertam rejeição e  hostilidade, se Deus criou o ser humano a Sua imagem e semelhança, então  o mesmo ser  humano  não deseja que lhe lembre  da inegável  e inconsciliavel   existência  do mal.O demônio  seria a melhor saída como desculpa para Deus , cada  qual desempenhando seu papel(em religiões binárias ou dualísticas: o Bem versus o Mal).Assim a religião não mais  elimina  o instinto de destruição entre outros.A agressividade é introjetada ,internalizada, enviada de volta para o lugar de onde veio, dirigida ao próprio ego que como uma voz da  consciência reverte a agressividade contra o ego:o sentimento de   culpa expressado como uma necessidade de punição.A pessoa sente-se culpada (‘pecadora’) quando sabe que fez ‘mau’ ou só teve a intenção de fazer, mas não fez ,não pelo ato em si e sim pelo medo da privação da convivência ou perda dos  outros, o perigo só se instaura quando ou se  a autoridade descobri-lo ,que  costuma agir da mesma  maneira.A  mudança ocorre com a  internalização da autoridade através  do estabelecimento do superego que  atormenta o ego pecador com a  ansiedade que espera uma oportunidade para ser punido pelo mundo  externo . O segundo estágio é quando mais  virtuoso o ser humano,  mais severo e desconfiado é o seu  comportamento, precisamente  quem  leva  mais longe a santidade censurando-se da pior pecaminosidade, o que significa  que a virtude perde direito a parte da recompensa prometida. As tentações são simplesmente aumentadas pela frustração constante a qual  a satisfação ocasional as faz diminuir  temporariamente. Ele explica como o sentimento de culpa pode ser desencadeado  por um  profeta de modo  coletivo: o medo de uma  autoridade. O sentimento  de culpa é uma expressão tanto do conflito devido á ambivalência , quanto da eterna luta  entre Eros  e o  instinto de destruição ou morte.O conflito age quando os  seres  humanos  defrontam-se com  outros de acordo  com a  variedade topográfica da ansiedade. Enfatiza  que as religiões não desprezam o papel  desempenhado na civilização pelo sentimento de culpa e alegam redimir a humanidade da culpa, chamam-na de pecado. No cristianismo a redenção é conseguida através  da morte sacrifical de uma pessoa que toma para si mesma a culpa  coletiva.
      Ele considera o maior estorvo da civilização  a ser  enfrentado é a  inclinação constitutiva humana da  agressividade mútua. O  mandamento ‘Ama  a teu próximo como a ti mesmo’ é a  mais forte defesa contra a agressividade humana, um procedimento não  psicológico  do superego cultural, impossível  de cumprir envolve um investimento enorme que  rebaixa o valor do amor. Então a civilização contraditoriamente adverte que  quanto mais difícil  de obedecer,mais meritório é proceder assim. Freud deixa questões para  futuros pesquisadores e  alega que os juízos  de valor humanos acompanham diretamente seus desejos de felicidade constituindo uma tentativa de apoiar com argumentos estas suas ilusões. Aceita a censura por não poder oferecer consolo algum , o que no  fundo todos querem.
     Atualmente  as ciências disputam espaço e credibilidade diante da retroalimentação das religiões , serias e não muito serias, as quais  seus  membros mais exaltados  desejam  que seja a única voz da verdade(permanecendo com a visão estreita do passado e/ou de mundo na atualidade) perante as sociedades  humanas.Mesmo atualmente  Freud  é mais citado do que lido, difamado por ser incompreendido apesar da  popularidade da psicanálise  no mundo moderno,pois suas descobertas e os desdobramentos das escolas de psicanálise   que surgiram depois dele ainda causam os medos da ferida narcísica mal cicatrizada.A sexualidade continua sendo uma fonte de tabus, problemas e conflitos,por causa das exageradas exigências sociais,e em sua época Freud descobriu que a sexualidade possui um papel importante na vida psíquica  dos seres humanos ,mas não era admitido pelos seus pares,  corajoso ele aprofundou-se na questão e propôs hipóteses  que até atualmente, século XXI, assustam  quem precisa de  uma “verdade absoluta” para viver.
     Supomos  que  algumas das descobertas científicas  que deixaram  Freud animado foram:  a vacina em  1798 descoberta pelo inglês Edward Jenner, a anestesia  em 1846 pelo dentista William Thomas Green Morton que fez um paciente inalar NO2 antes  da   operação e não sentiu nada, a assepsia em  1867 o cirurgião inglês Joseph Lister conseguiu  explicar  e controlar o fenômeno baseando-se nos estudos de Luís  Pasteur, a radiografia em 1895 pelo alemão Wilhelm Roentgen,  os tipos sanguíneos  em 1901 pelo  austríaco  Karl Landsteiner que foi  corrigido em 1909 por Emil Von  Dungern e Ludwich Hirsfeld tornando as transfusões de sangue em prática  rotineira , a água tratada com cloro em 1908 eliminando doenças  intestinais  infecciosas , a  penicilina em 1928 pelo médico inglês Alexander Fleming que originou os antibióticos ,etc, depois da  morte de Freud  os avanços continuaram como o aperfeiçoamento do transplante de órgãos.Anteriormente a isso as doenças  e mortes  sem explicação  científica  plausível  eram atribuídas as forças do Mal e seus  supostos  colaboradores  por parte dos membros da   religião oficial e graças aos  avanços das ciências  parte do discurso oficial  psicótico-paranoíco-delirante  perdeu um pouco de sua  “veracidade” e ferocidade  baseada no medo  e na culpa passando  por adaptações  tentando recuperar(  a  nível de discurso)   a mensagem de amor universal  numa prática  ambígua , mas  mesmo  neutralizada a mensagem cristã possui algum poder e exerce influência no mundo social/pessoal dos seres  humanos.
     A religião, seja qual for, parece ser uma necessidade inerente ao ser humano, assim como a carência  emocional, e  alguns transformaram a ciência ,seja qual ramo for, em sua religião( no sentido de devoção) pessoal.Há pessoas que  transformaram seu seriado  favorito  em sua religião como o caso do jedaísmo (Guerra nas Estrelas).Determinadas marcas de produtos  tecnológicos  viraram objetos de adoração e devoção  religiosa por parte dos seus consumidores além de outras coisas e instituições.Por isto , a figura da pessoa ateia  causa tanto  medo ,preconceito e desconforto: como alguém pode não  acreditar em Deus?
      O que também desperta  a curiosidade sobre questões psicológicas mais relevantes:o ateu seria uma pessoa  mais difícil de ser enganada e de se auto enganar?Mas que fogem do foco do presente trabalho.(Um trabalho de pesquisa para os psicólogos).
     Seguindo a continuidade da linha temporal desta longa  história e dando um longo salto  chegamos ao trabalho  realizado pela professora Cristiane  Borzuk  Os  movimentos Carismáticos  e Neopentencostais e o  Capitalismo Administrativo (2000)[xiv]   no qual observou e analisou  como as modificações do mundo contemporâneo  com avanços  científicos e tecnológicos,crises políticas ,etc ,levam  as pessoas a buscarem por  uma  re-sacralização do mundo  a qual encontramos os apelos exotéricos via meios de comunicação para a massa prometendo prever o futuro e resoluções para problemas imediatos aparentemente ocorre um convívio pacífico entre o sagrado e o  profano , entre fé  e razão.
     No Brasil  surgem todos os dias templos das mais variadas  tendências religiosas  os quais  atraem  grande massa de fiéis, não  só pelo reavivamento do  sentimento religioso, mas também com uma significativa divergência do discurso e da prática utilizadas  pelas tendências  até então hegemônicas  do cristianismo que afastou-se dos moldes tradicionais  afirmando alguns destes valores e ladeando com novas posturas as quais emergem muito mais paradoxos e contradições do que certezas.Esse discurso religioso atual não busca a transcendência  e sim as soluções  práticas e urgentes para os problemas emergentes  do cotidiano, como na organização do culto do movimento neopentencostal destinado a cada dia a um fim específico:saúde, problemas financeiros, empresariado,etc. Por sua vez o  catolicismo  carismático  adotou um modelo semelhante aos ritos neopentencostais . Borzuk verificou que a religiosidade encontra-se sob os auspícios da técnica  e o indivíduo  é excluído  de qualquer possibilidade de autonomia no qual o paradoxo da fé que  organiza a cerimônia  racionalmente sob controle   dos  esclarecidos, porém dirigindo a  sociedade  rumo á barbárie. Outro elemento evidente é a  forma que assumiram para difundir a sua  ideologia , as megamissas ,os  grandes  aglomerados de pessoas juntas  sob o  controle de um líder(padre ou pastor) que dirige o evento em ruas ou grandes estádios, louvando com palavras de ordem , gestos esteriotipados, chamadas imperativas que  definem  o que  os fiéis devem fazer em cada momento. Houve perda de algumas características  que definem a religião como tal e tornando-se apenas mais uma instituição social. A qual por outro  lado tem  utilizado de recursos de alta tecnologia como telões, aparelhagem de som, programas  de TV com recursos  cinematográficos, programas para todos os gostos e todas as  faixas etárias  em  muitos canais de televisão.
     Com ou sem  a presença de Jesus, a religião tem ,cada vez mais, participado da invasão cotidiana do espaço privado ao levar ,através dos  meios de comunicação para a massa as missas, os cultos e suas músicas para dentro da casa das pessoas. Há  uma articulação da realidade imediata com a  lógica  do capitalismo administrado. O sagrado o qual  para Freud tinha como função a proteção  do indivíduo perante os perigos da natureza  e do destino, colocando-o em bons termos com o  pai (primevo) tornou-se a imagem encobridora da  desesperança social, afirmando que nada há a fazer a não ser conformar-se com a  situação como está, ou seja, o controle social agregado a elementos anteriormente  heterogêneos.
     Ela analisou a transcrição de  material coletado nos meios de comunicação para a massa, em  especial na televisão, a transmissão    de  programas religiosos, suas  forma e conteúdo  das manifestações  religiosas utilizando as categorias: estandartização, pseudo-individuação e o  glamour. Baseou-se em Razão e Revelação de Adorno, o qual chamou atenção para a  questão da atmosfera religiosa de sua época que apresentava-se  singular e explicavelmente ligada ao  positivismo reinante. O movimento religioso que ora se impõe , aparenta estreita relação com o modus operandi da racionalidade tecnológica. Houve modificações no percurso da história religiosa anteriormente citada.
     Na  atualidade a afiliação a qualquer  sistema religioso é feita em função de busca de orientação e segurança independente do que a  doutrina  possa significar, o que é  contraditório .Por sua vez a razão é colocada como fonte  de males e sofrimento  , a dúvida que era vista como atitude  de autonomia foi transformada neste contexto em fonte de sofrimento sem compensação, o  renascimento  atual das religiões  que se fundamentam na revelação utilizam o conceito de vínculos  necessários, mesmo tendo atualmente mais vínculos do que  outrora para o indivíduo como mero componente para o bom funcionamento da engrenagem social, a necessidade de vínculos  tornou-se  crescente. O desamparo transcendental  do discurso de outrora que expressava a  miséria do indivíduo na sociedade individualista tornou-se ideologia escusa  para o mau coletivismo, o qual não dispondo de  um estado autoritário ,apoia-se  noutras instituições que tenham  pretensão suprapessoal   que do ponto de vista psicológico  tende a  substituir a consciência moral(o superego) pelo vínculo com a  autoridade “ criando a tendência  a submeter-se  a aderir ao poder como um imperativo, e é exatamente este o elemento mais nocivo desta lógica , pois  é a  tendência  a submeter-se  cegamente á  autoridade  um dos elementos mais importantes para  a existência  e manutenção dos totalitarismos”.[xv] 
     Outro aspecto ,observado por ela, é  o distanciamento histórico entre o modelo social que engendrou  as ‘grandes religiões’ e o social atual, pois  pessoas e grupos que aderem a religião de modo mais internalizado, preocupando-se realmente com  o seu significado, possuem uma  atitude não conformista que mesmo neutralizada a religião acentua os aspectos do amor e compaixão favorecendo o estabelecimento de vínculos  mais humanos entre indivíduo  e a  religião  favorecendo uma visão igualmente humana  de quem não  compartilha de suas convicções.  Mesmo  neutralizada  a religiões cristã resistiu e continua exercendo influências sobre a humanidade , ainda  que apenas como instituição social.
      As categorias utilizadas por ela após  a descrição e transcrição dos programas foram :
1. Estandartização:  a  padronização  estrutural, uma determinada rigidez  nas formas, obedecendo a critérios pré-estabalecidos que não permitem a criação de outros modos de expressão  que não estejam nos padrões  anteriormente estabelecidos, que  visam a obtenção de reações igualmente padronizadas.
2. Pseudo-individuação:    medida , a realização da vivência individual , envolve  a produção cultural para a massa com a  auréola da livre escolha ou do modo do mercado aberto, na base da própria  estandatização.
3. Glamour:  surge da interrelação entre as duas categorias anteriormente citadas, caracteriza-se pela  utilização de recursos  que visam a “quebra” de repetição e monotonia  da estandartização , através de cores, formas,sons,etc diferentes  ,os quais tentam criar a impressão de diferenciação ,de destaque. A construção  de uma estória  de sucesso.
     Analisou movimentos carismáticos  e neopentencostais, apenas o último aparece no romance analisado. O Neopentencostalismo é o movimento religioso que mais esta se espandindo na América Latina, em especial no Brasil. É classificado em três ondas: a primeira onda ou pentencostalismo clássico, segunda onda ou pentencostalismo neoclássico e a terceira e última onda ou  neopentencostalismo. O último é   o qual concentra a sua atenção.Surge na década  de 70, seus  principais  representantes  são a Igreja Universal do Reino de Deus ,a Igreja Internacional Graça de Deus, a Cristo Vive, a Renascer em Cristo, a Igreja  Nacional do Senhor Jesus Cristo e a   Comunidade  Evangélica Sara Nossa Terra, que possuem características  comuns  á primeira e segunda onda: o ‘antiecumenismo’, lideres fortes, cartase  emocional, participação na política partidária ,etc; a terceira  onda caracteriza-se  principalmente por:
1_ Uma  acirrada luta contra o Diabo, a qual  é justificada pela crença   de que as pessoas padecem de vários males, tais como  problemas de saúde , financeiros,etc, tendo em vista o fato de que o Diabo apropriou-se deles e,  uma vez vencida essa luta, há a reapropriação por parte de cada pessoa da felicidade, da prosperidade e da  saúde;
2_Uma  certa libertação dos tradicionais hábitos e costumes dos ‘crentes’ ,na qual  há modificação de antigos  costumes pentencostais  que se colocavam contra tudo que dissesse  respeito á  valorização das vaidades;
3_ A  divulgação da Teologia da Prosperidade.
     A última característica  surge com a  participação  da classe média que rompe  com a ideia  presente até  pouco tempo do sentido de ser cristão estava imbricado a escassez  material e sofrimento da carne:surgiu  como  a religião dos escravos de Roma   era a  crença dos oprimidos e  passa a ser a religião dos  opressores  depois que  Constantino  transforma em religião oficial de Roma  e a Igreja torna-se uma instituição poderosa ,ai acontecem as cismas  e etc . Na  Teologia da Prosperidade a pregação é adequada ao tempo presente , que fiéis devem ser prósperos ,saudáveis  e felizes,  e devem receber tais benção como recompensa pela contribuição para ‘obra divina’. Assim se deve ter fé, obedecer as regras bíblicas para tornar-se  herdeiro das benções divinas, o  principal sacrifício exigido por Deus aos fiéis é  financeiro: ser fiel nos dízimos  e dar ofertas  com alegria e desprendimento cuja preocupação  é com a vida terrena. E seus membros são pessoas de baixa renda e de classe média a qual é um setor ávido por  algo que resolva seus problemas  financeiros em tempos de graves problemas econômicos  e se  encontra(va)  ameaçada.
     Depois desta longa e resumida jornada histórica  religiosa, psicológica  ,etc,  estamos quase chegando ao romance, pois a ficção se alimenta da realidade humana  e  a realidade  ,em seus desdobramentos  ,se alimenta de ficção.Dependem um do outro para existirem.Por isto, analise  de personagens  precisa de leitura de psicologia ,entre outras disciplinas.
     As religiões ,mesmo  com sua mensagem de amor universal neutralizada  do seu conteúdo  originário ,  exercem poder  preponderante  nos âmbitos  sociais da política , economia, controle social, tentativa de controle da “visão de mundo”,etc, continua fazendo  parte da cultura para o bem ou para o mal.É uma eficiente ferramenta de ódio  político-religioso   quando há esta intenção.Assim o conflito entre   religiões das antigas as mais novas,das mais sérias as mais picaretas, se instalam  pela não aceitação  das diferenças  dos outros  e das outras  religiões(sentido banal do termo),e o jogo de intenções e motivos escondidos por trás do discurso de aparências .
      Ao contrário do que Freud esperava as religiões ainda exercem papel relevante no âmbito  social(como  fonte  de orientação,consolo,busca por curas milagrosas ;ferramenta de ódio político por parte de fanáticos,etc ) ,mesmo com os  avanços das  ciências em geral,pois os benefícios científicos  não alcançaram todas as pessoas em todas as camadas sociais,e há  pessoas que recusam os benefícios por medo ou desconfiança de estarem sendo usadas como cobaias ou não ser algo realmente seguro,etc, que  tanto para o bem quanto para o mal,os avanços científicos  são vistos como o grande poder nas mãos  de poucas pessoas, o que em determinados  momentos aterroriza a maioria das pessoas por terem consciência que não podem controlar ou deter  as mudanças e os avanços.
      O antigo medo das forças da natureza  passou a ser na atualidade o medo do progresso científico através da crença,por parte de religiosos e teorias da conspiração, de que  os humanos que fazem ciências ,em especial biotecnologia e medicina  , perderam o temor a Deus e  podem estar brincando de Deus  se não forem contidos cometeram “crimes” contra Deus e seus semelhantes como a clonagem, por exemplo.O medo do desconhecido em termos de quais as finalidades das ciências  são para  qual resultado é tal projeto:para o que se diz que é ou  tem uma segunda intenção desconhecida ? As ciências  estão  diretamente subordinadas e atreladas a quem  financia as  pesquisas.
     Borzuk ,por sua vez, e por estar em outro momento histórico , observou a incorporação entre  religião e capitalismo administrado que é  algo visível na atualidade.O que tornou atualmente impossível pensar as duas coisas em separado,já que existem várias  igrejas neopentencostais  no momento,pois ocorreram cismas nas mesmas.Banalizou a tal ponto que   qualquer pessoa  lê a Bíblia  e, de acordo com a sua interpretação,  funda uma seita que se denomina igreja a qual diz ser a verdadeira Igreja e disputam  fiéis entre si.Muitas fazem uma interpretação ao pé da letra e sem  se preocupar com fundamentação histórica , adequação as leis do tempo atual,pois daquela época para a  atual muita coisa mudou em termos de leis,comportamentos ,etc.Além disso há a interpretação das metáforas,  parábolas   e o código cifrado   que não são consideradas.O que transforma  a Bíblia numa excelente   ferramenta de propagação  de discriminação  contra as  denominadas minorias que numericamente são a  maioria. 

F.Os personagens  e suas respectivas  instituições

      Através das  atitudes e interações entre personagens percebemos o conflito  entre  as religiões que não chegam ao combate direto ,porém  há a não aceitação da alteridade. E há o  conflito interno de alguns personagens  que não é  verbalizado ,mas está  presente em seus pensamentos.
     A personagem que dá inicio  a  história é Saulo ,um soldado que  acredita no uso da violência  como marca  de  autoridade e gosta do que faz , apresenta traços de personalidade autoritária  e aproveita o ambiente  no qual trabalha  para  exercer o abuso de poder ou abuso da violência durante a revista policial, mas quando entra no  templo Águas de   Oxum para criar confusão se detém por ser bem tratado por dona Alzira , depois é  possuído  pela orixá Oxum que gostou dele.O que põe  em dúvida a sua postura  de valentão,pois Oxum é uma  entidade ligada ao feminino, reguladora do amor e da gestação, quando  possui  homens tem  preferência por  homossexuais, por isso a  escolha  de Saulo causa espanto em dona  Alzira  e mais espanto  ainda no soldado que o acompanhava.Quando foi despossuído  não lembrou-se de nada. 
     Não é tão paradoxal se considerar que estudiosos  da psicologia dos gêneros  afirmam que a  insegurança masculina manifesta-se camuflada  por  uma  valentia unida ao uso da  violência contra aquele que  escolhe  como  ameaça ilusória :quanto  mais inseguro for  o homem,mais violento ele é ,mas  finge não ser  quando é necessário  e/ou  conveniente .
      A partir da aproximação com Lúcia e sua  família  ocorre um desdobramento entre o que  ele diz (para conseguir o que quer) e o que  pensa, diferente  do pastor Elias:

     O pastor fechou a Bíblia pousada na mesa ao lado  da poltrona.Sorriu.
    _ A  que devo a  visita  irmão?
    Na verdade , o que quero mesmo é comer sua filha. Como  ela é jogo duro, o jeito é eu dar uma  de bom moço.Vamos  ver se  entrando no galinheiro eu consigo  pegar essa franguinha.Pg. 22

      E passa a patrulhar perto da  igreja ,depois a frequentar o culto para agradar o pai e a filha. Lida com as decidas  de Oxum ,volta ao terreiro  e  encontra o padre Jacinto ,e é ajudado por  Joana no preparo da oferenda a Oxum para ser despossuído.  Depois pede Lúcia em casamento e de suposto controlador  da situação passa  para a posição de controlado, sem perceber, com o objetivo de obter  uma recompensa sexual e depois  acaba só com a financeira,porque mesmo depois de casados  ela se recusa a ter  relações sexuais com o marido,por ter  aprendido que tal coisa  é pecaminosa[xvi].O que é um exagero absurdo quando passam a ser um casal casado. É uma daquelas situações de interpretar a Bíblia ao  pé da  letra o  que era uma situação cômica inicialmente  e  para o marido passa a ser    trágica:casamento sem relações sexuais. Aceita tornar-se pastor Paulo, uma alusão ao soldado romano que se converteu ao cristianismo, e depois de casado vai para Santa Ingrácia fundar  uma  filial a Igreja dos Corações Puros ,mas  não convence ninguém e Elias o ajuda e ensina-o  a “fazer milagres”, a  partir da convivência  e conversão  de Paulo com o sogro aparecem  as características  da terceira onda ,o neopentencostalismo,  a predominante  no romance é a luta contra o  Diabo:

      _Afasta-te Satanás! Volta para as  profundezas de onde vieste, ó  Príncipe  das Trevas! _ e em  tom mais baixo, autoritário  como  um general que  comanda  a batalha contra as  forças do Mal: _  Dele não comereis, nele não tocareis, sob pena de  condenação eterna.
     As mãos de Lúcia  afrouxaram.pg. 59.

     Na situação descrita  pinçada neste fragmento , guardadas as devidas proporções , Lúcia parece muito com as pacientes  histéricas de Charcot[xvii].No contexto da história  ela  reprimida apenas sexualmente ,e paradoxalmente ,é agressiva quando se trata de dinheiro ,quer  sempre mais .

     _ Vamos fazer uma cruzada  santa para acabar com a macumba em nossa cidade!  Vamos destruir esses ídolos de barro que  são figuras do demônio!
(...)
     (...)_ É um trabalho que me  foi ordenado pelo Espírito Santo  e que deverá ser feito por todos nós.E nós  faremos juntos !Em nome de Cristo!pg. 80

Os  fragmentos também apresentam outras características  como  a herança histórica do passado atuante no presente da História dos conflitos religiosos.O termo cruzada ,por exemplo ,remete a acontecimentos políticos  terríveis  que aconteceram supostamente em nome de Deus.Há o fato da  seita não aceitar  outras religiões,nem a religião católica  que mais antiga e tradicional, e o uso da agressividade contra os  outros analisado por Freud e por Borzuk: estandartização,pseudo-inividuação(uso do “nós” imperativo,internalização da insegurança  nos fiéis, a qual é uma herança do discurso da Inquisição ).
     Depois da ajuda de Elias as posses de Paulo são mais citadas do que o testemunho dos  fiéis, mas nestes testemunhos apresentados é possível  perceber que os fiéis buscam auxílio  para seus problemas mais imediatos como se num passe de mágica ou a rapidez de um estalar de dedos tudo pudesse ser   resolvido.A oração ao Espírito  Santo,no romance, tornou-se  o “passe de mágica” que  une crenças  culturais anteriormente  antagonizadas  (cristianismo na vertente neopentencostal e bruxaria na versão difamada), a magia é associada  ao  demônio  quando  o pastor discursa contra outras religiões,mas é revestida de aura divina quando ele  realiza os seus “milagres”.
     Paulo está financeiramente  realizado e externamente  convencido do que  esta pregando, porém  frustrado com Lúcia que não quer ter relações sexuais com ele e nem quer  aprender ,além disto internamente sente falta de ser uma autoridade obedecida, mesmo que seja pelo medo, e dos seus  velhos  hábitos.Mas só resolve se libertar quando conhece e se apaixona por  Ana, é quando dona Abigail revela-se ser um grande problema ,pois passa  a controlar a vida financeira e pessoal dele,o programa  de rádio além de chantageá-lo com o  que descobriu sobre o passado dele.Então, não suportando tanta pressão  foge com Ana para o Rio de Janeiro.
      A Igreja  dos Corações Puros é uma  instituição  fictícia  que possui as características  neopentencostais  observadas por Borzuk as quais  acontecem no mundo real de maneiras parecidas.
      Sociologicamente Igreja  é um grupo com determinadas ideais ou ideologias que estabelecidas  e vinculadas á sociedade,exemplo o Catolicismo  é  a religião oficial do nosso país. Seita é um  movimento de rompimento com a regra  teológica  estabelecida   a qual contesta ,e só  a partir do momento que se acomoda  socialmente deixa de ser seita  para torna-se  uma nova igreja, exemplo ,o Protestantismo de Lutero.As seitas  colocam  a  palavra “Igreja”  como parte dos  nomes das mesmas para transmitir  a ideia de credibilidade , de algo certo e/ou consolidado.Virou uma prática  comum.
     Assim dentro do contexto ficcional a Igreja dos Corações Puros é uma seita que quer tornar-se a Igreja  a qual  quer agregar todos, é uma nova igreja levando em consideração a rápida aceitação dos fiéis; usa do artifício  de se  ter a palavra ‘Igreja’ como parte de seu nome.Na qual é possível também perceber a busca da satisfação dos desejos  que  Freud apresentou em seus  artigos como o infantilismo psicológico  e o arrasto ao delírio de massa.O nome da instituição é uma ironia,pois a avidez  por  dinheiro é de caráter  predatório ,mas  é também  uma via de mão dupla,pois com proporções mais ou menos semelhantes há uma  complementação  entre Elias e os fiéis: ele deseja o dinheiro deles e os fiéis estão dispostos a dar-lhe desde que recebam a  ajuda  imediata para seus problemas materiais, financeiros,de saúde,etc, e quando ele os insita  contra os terreiros de Candomblé ,eles aderem sem questionar.
      É da natureza  humana  fazer barganha com  as divindades através da troca de algo valioso pelo pedido feito[xviii] , antigamente pessoas e animais eram sacrificados  em todas as culturas humanas, depois de muito tempo houve as substituições simbólicas como no episódio bíblico do cordeiro que é sacrificado no lugar do filho do patriarca, depois com o progresso das  leis que matar tornou-se  proibido e culturalmente inaceitável  .Atualmente o sacrifício, de sangue foi substituído por sacrifício de bens materiais, é em dinheiro, a obrigação do dizimo por parte  de algumas seitas .O dizimo é outro  elemento que faz parte da cultura e prática  tradicional religiosa , mas se tornou problemático   devido aos abusos  e a obrigatoriedade da cobrança do mesmo.Porém dos males o menor,se considerar a vida um bem maior,porém foi psicologicamente comprovado que há quem acredite que dando tudo que tem para sua seita crê realmente que está assinando um contrato direto com Deus para receber em dobro.
     Mas de vez em quando ,em noticiários  policiais , aparecem casos de  pessoas que  encomendam “serviços” de magia negativa e não se  importam de matar crianças e/ou animais para conseguir  o que querem, mesmo na atualidade estas práticas sendo consideradas demoníacas e judicialmente criminosas ,a crença no sobrenatural, em especial o negativo,  para muitas pessoas é inabalável: um desejo imediato  o qual se quer que seja satisfeito  imediatamente  sem se importar com o preço a ser pago e se alguém vai perder a vida por  causa disto.Os fins justificam os meios. Também é um elemento  enraizado na cultura cristã.
      A estandartização no  romance  acontece no programa de rádio e nos  discursos do pastor Elias que  apresenta a forma  de luta do Bem contra o Mal  aproveitando-se  da crença coletiva das  manifestações demoníacas   obedecendo a critérios  pré-determinados como a polarização e  intensificação da presença do Mal a qual parte do padrão anteriormente estabelecido: o pensamento padrão da Inquisição.Reações conduzidas:

      Oito e meia, começou o programa diário.
      _ E agora, santaingracences , a mensagem de fé e de esperança do nosso irmão ,Pastor Paulo:
      “Caros irmãos e ouvintes. Hoje estamos reunidos em nosso programa para  conversarmos sobre um problema serissímo   que ameaça Santa Ingrácia. Temos que juntar  nossas forças  do Bem ,para lutar contra o Mal.É nosso dever  lutar contra  as ações do demônio . Vamos organizar uma campanha  que leve  para longe de Santa Ingrácia os representantes do capeta. O Espírito Santo vai orientar a nossa campanha. Pg. 89 

     Quando dona Abigail assume  o controle da rádio, além de  seguir o mesmo padrão ,ela o intensifica  e direciona  mais  enfaticamente para o pessoal da escola de samba, o candomblé e  depois contra o padre Jacinto e Joana.Como uma voz da Inquisição medieval,convoca os santaingracenses a “ cercarem fileiras contra  essa manifestação do Maligno,  não os  olhando de frente nem  dirigindo a palavra a ele e sua  auxiliar”pg.166, a agente de uma  de uma neoinquisição  dentro da Igreja dos Corações Puros, além disso desqualifica o padre como autoridade da  Igreja Católica e Joana como pessoa humana,pois deseja salvaguardar a fé dos grupos  religiosos divergentes do dela eliminando moralmente  as manifestações religiosas  diferentes  utilizando dos recursos a sua disposição para  proporcionar uma morta simbólica já que não  mata fisicamente.Ela tortura suas vítimas  psicologicamente  com calúnia e difamação através do programa de  rádio e manifestações públicas  de intolerância. Quem não está com ela, não faz parte  da sua igreja não pertence a Deus, é gente  do  capeta.
     Outras características  analisadas por  Borzuk que aparecem no romance são : pregação a partir da leitura de trechos da Bíblia pg.22 e 29,demonstração de graças concedidas pg.84,milagres pg. 168 e 169, e explicitação de interesse financeiro pg.76 e 80.
     O pastor Elias utiliza sua  pregação através da Bíblia na sua primeira até  a última aparição no romance para  justificar suas ações e o suporte pseudo-racional  disfarçando suas ações  na maioria  relacionadas ao aspecto financeiro.Convence a si mesmo depois aos outros e por  tabela os fiéis que aderem rapidamente a tudo que diz,mesclando a profecias  bíblicas, a cura divina como se fosse medicina e milagres.O Armagedon , neste caso, é a presentificação do  diabo através  do discurso dele, de Paulo e Abigail que  gera a sensação de insegurança , de ameaça que deve ser  aniquilada antes que os aniquile. No romance o diabo é justamente a única  entidade sobrenatural que  não aparece ,porque não precisa aparecer  para causar medo, pois todos sabem que personifica o mal absoluto.É suficiente  para causar medo e insegurança a presentificação ou personificação através das palavras do pastor.
     O recurso da pseudo-individuação    mais usado por Elias é chamar  toda e qualquer pessoa de “irmão” criando uma falsa proximidade, pois  não houve a longo prazo a construção de laços afetivos e intimidade  sem reservas psicológicas ,pg.22,61,63,89.Sua postura é imperativa  e envolvente  ,assim seduz para depois aprisionar.Consegue manter a ilusão de autonomia  dos fiéis até  determinado  que é possível  perceber nos movimentos de Paulo o qual depois de casar com a filha do pastor passa a ser  chamado de “meu filho”  pelo sogro após ensiná-lo a fazer  milagres pg.77,também  utiliza  o “nós” em tom imperativo para se colocar como próximo dos fiéis e que  todos estão juntos na mesma causa.(Lembra a perseguição  dos nazistas contra os judeus).
      O glamour complementa a  estandartização e a pseudo-individuação que na manifestação religiosa  aparece em situações pontuais, na maioria relacionado a efeitos especiais. No romance aparece no  modo como o discurso religioso de Elias acontece, ele se coloca como um vencedor com a difícil missão a  cumprir,mas vencerá.Constroe mentalmente  a história de sucesso que  submete os fiéis, os insita  a louvar  depois de um discurso performático:

       _ Aleluia! Aleluia!
      _ Glória a Jesus! 
      _Sangue de Cristo!   Pg.81

    Rapidamente convencidos creem  que o  pastor possui um poder mais do que simbólico , é também  físico,pois procura presentificar como  se tivesse uma  relação mais do que direta com Deus,com o Espírito Santo , através dos milagres e ao mesmo tempo instala a  insegurança  através do ‘medo do outro’  estimula a dependência e submissão dos fiéis  e direciona a agressividade deles fomentando as inclinações paranóides dos mesmos,pg.79,89,166.
     Lúcia, a filha do pastor Elias, tem um comportamento em parte  cômico de tão extremado e completamente  trágico para o marido que casou-se  com ela por  deseja-la  sexualmente e decepcionou-se com a recusa dela até em aprender, porque foi educada para  associar a sexualidade(mesmo a socialmente denominada normal, heterossexual)ao demônio ,mas ao mesmo tempo ela deseja uma vida  materialmente confortável conseguida através do dinheiro dos fiéis. Sua aparência  externa é de  uma mulher submissa que usa roupas compridas e dentro  de casa  é  ambiciosa por dinheiro ,como nos antigos modos de educação para  repressão sexual da mulher,ela quer um marido provedor que satisfaça seus desejos materiais.Procedimento  ratificado por parábolas  escritas numa época a qual  procuravam  estabelecer padrões de hierarquia e subordinação porque os autores das Cartas do Novo Testamento incomodavam-se com a  atuação das mulheres as quais nos tempos  paulinos se arrogavam o direito de ensinar e  iniciarem-se nos  mistérios, eles ordenaram silêncio ás  mulheres acusando-as de estarem cheias de pecado e por isso incapazes de  alcançarem  a verdade. Escritos antigos foram  reaproveitados ao longo da  História da  humanidade e permanecem reaproveitados em  religiões recentes, como  a neopentencostal com variações da e na interpretações. O discurso psicótico-paranoico-delirante esta impregnado na cultura religiosa cristã.
      A Igreja Católica aparece no romance passando por um declínio de fiéis  como percebeu padre Jacinto, poucas são as cerimônias  realizadas por ele que demonstra  a sua própria descrença sobre a qual é sacerdote.Declínio mencionado por  Borzuk, o qual realmente está  acontecendo.Contrapondo ao padre há  a sua  empregada Joana, personagem de origem humilde  e integrada ao catolicismo e ao candomblé  é a representante (no sentido positivo) do sincretismo religioso brasileiro,cuja a fé não se  restringe a uma só religião, sua visão não é limitada. Ela está ligada as religiões no sentido  construtivo  citado por Borzuk, é a pessoa de decisão próxima ao indeciso padre.Ele por sua vez fica assustado ao saber que ela  é  filha-de-santo e também frequenta  um  terreiro de candomblé, e é  a  partir daí que as   contradições  religiosa e pessoais de Jacinto aparecem através dos diálogos  e pensamentos, pois  sua visão das outras religiões é  baseada na visão da tradição católica  agregou no decorrer de sua  história de que só a sua  é a  religião verdadeira e as outras não, o “acolher” para depois  converter quem é ou tem fé  diferente da sua. Joana  o convida para ir ao terreiro e ele fica assustado ,depois de relutar aceita, vai e é  possuído  por São Jorge.Após  isto teme a repercussão  mas nada acontece:

      Ele não comentara  com ninguém  o que  aconteceu. Nos primeiros dias que se seguiram  “aquela doideira  que me deu”  aguardou receoso ,que alguém  espetasse o dedo na sua cara: “Padre  macumbeiro ! Filho de Satanás!”  No entanto nada aconteceu. As mesmas  caras contritas e fiéis continuaram vindo as suas  missas, as doações e os pedidos se  mantendo na sua pobreza de sempre.pg. 111  

     Ele sente-se inseguro com relação a religião diferente da dele e teme represália que não ocorre na primeira vez. Se  tivesse ido com segurança de seu ato poderia ser  denominado  carismático.O  que não  acontece. Suas ações acontecem  pelos  pedidos de  Joana que não vê  mau nenhum o padre ir no  terreiro.Mas na segunda vez  ele é punido com a transferência para Santa Ingrácia:

     _ O  bispo compreende que a  liberdade de culto em nosso país é necessária, principalmente em relação às práticas de origem negra.O próprio Papa já se pronunciou a respeito.Mas o bispo exige ,e com isto estamos de  acordo, que os contatos com  praticantes de doutrinas que  apresentam  divergências com a fé cristã  sejam  feitas somente com sua prévia autorização.pg149.

      E como o fragmento permite  perceber há divisões de opinião dentro da Igreja Católica, que não é coerente com o seu próprio discurso oficial de tolerância e amor universal. O discurso do Papa é tolerante, o do bispo intolerante e do colega que leva o documento de transferência  é repressor como se Jacinto  tivesse cometido um crime grave,quando na verdade para este século, ele não fez nada grave.Só  Joana sabe que ele é  inocente e o acompanha na sua ida forçada a Santa Ingrácia, onde depois de alguns acontecimentos ele  redescobre a sua fé.
G.Conclusão:
     A natureza humana  é objeto de estudo da psicologia  entre outras ciências  ,as quais ajudam a compreender os aspectos  de personagens citadas porque ficção e realidade  convergem e divergem na  complexidade dos acontecimentos no decorrer da História e das histórias.A ficção não existiria sem a  realidade e vice-versa ,são interdependentes em determinados  contextos românticos realistas .No presente  trabalho analisamos o romance  com  ajuda  de textos de Freud e Borzuk dentro do contexto apresentado pelo mesmo,pincelando eventos históricos  para melhor compreensão contemporânea  do passado no presente  e os conflitos através da inteiração entre as personagens.O fato de determinados fenômenos psicológicos do passado e do/no presente serem constatados e explicados ,não quer dizer que deixaram de acontecer.São parte das culturas humanas,mas acontecem com algumas  diferenças temporais mesmo com os avanços  técnicos  que são incorporados ao processo e ao cotidiano.Velhos erros, como por exemplo intolerância, são cometidos de maneiras diferentes adaptados ao tempo atual e as necessidades da atualidade.

H. Referências Bibliográficas: 

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BIANCHIN,Victor e MOTOMURA,Marina.O que é macumba? In.: Mundo Estranho.Ed.Abril. Ou mundoestranho.abril.com/matéria/o-que-e-macumba.
BORZUK,Cristiane de Sousa. Os Movimentos  Carismáticos e Neopentencostais e o Capitalismo Administrado.Dissertação de Mestrado. PUC São Paulo,2000.
BOTELHO,José Franscisco. “ Quem escreveu a  Bíblia?” In.:Super Interessante.Abril,dezembro 2008.Ou: super.abril.com/quem-escreveu-bíblia-447888.shml.
CHAUÍ,Marilena.A Repressão Sexual.Ed. Brasiliense.
CORDEIRO,Tiago e VERSIGNASSI,Alexandre. “A Bíblia como você nunca leu”.In.:Super Interessante.N.305.Editora Abril,junho 2012.Ou: super.abril.com.br/religião/bíblia-como-voce-nunca-leu-690375.shtml.
EUMERICA, Nicolau. Manual dos Inquisidores.Rio de Janeiro:Rosa dos Tempos,1993.
ESTEVÃO,Natécia Eter  da Conceição & OLIVEIRA,Sidney José de. “A Serviço de Quem? A Manipulação do Fenômeno Religioso”.In.: Segunda Jornada de Psicologia  Junguiana de Bauru e Região & Sétima Mostra de Pesquisa do Curso Técnico de Técnicas  Terapêuticas Junguianas .Bauru:Anais,2003.pg. 67 a 89.
FORBES,Kate.Modelo Albina Combate  o Preconceito em Semana da Moda Africana. BBCBrasil:30/10/12.
FRANÇA,Ana  Maria. Nada Justifica  o Terror.O Popular:23/09/12.(Artigo)
FREUD,Sigmund.Cinco Lições de Psicanálise.trad. Durval Marcondes.São Paulo:Abril Cultural.(Os Pensadores).
GRIMBERG,Carl.História Universal.Ed. Azul.
KARLHEINZ,Deschener. História Sexual Del Cristianismo. WWW.taurolibros.com.ar.  
MONTEIRO,Paula. Magia e Pensamento Mágico.Ed. Ática.
MURARO,Rose Marie. “Breve Introdução  Histórica”.In.: O Martelo das Feiticeiras _Malleus Maleficarum.
PAIVA,G.P. Algumas relações entre psicologia e religião.Psicologia _USP: São Paulo,1989.pg 250 a 258.
PERCY,Allan.Nietzsche para estressados.Ed.Sextante.
SILVEIRA, José de Deus Luongo da. O Lugar do Fenômeno Religioso Neopentencostal Contemporâneo.
PT.wikipedia.org./wiki/Pensamento_mágico.

I.Documentários relacionados ao tema ( disponíveis  no Youtube ,não sei até quando):

Allan Kardec, o Educador.
06-11-2009 La nueva ética sexual de Benjamin Forcano.
O Espiritismo  de Kardec aos Dias de Hoje.
 Scriporum _ A  História da Bíblia.
O Martelo das Bruxas.
BBC:A História do Cristianismo,História da Ciência, Como a Ciência Mudou Nosso Mundo.
História das Religiões.
Discovery Channel: A História de Deus 1,2 e 3;Os Sete Pecados Capitais;A Ira de Deus;série Segredos do Ocultismo:Os Magos.
History Channel: Arquivos Secretos da Inquisição 1 a 4;Banidos do Antigo Testamento;Biografia  de Lucifer;série Isso é Impossível: controle da mente .
NATGEO: programa Tabu América Latina: bruxaria , medicina alternativa, exorcismo; doc.:Quem matou Jesus?
Sacrifícios Humanos.
                                     
     



      
    

    
              

      
     

        






[i] CORDEIRO,Tiago e VERSIGNASSI,Alexandre. “A Bíblia como você nunca leu”.
[ii] PERCY, Allan.Nietzsche para estressados.pg 39.
[iii] História Universal, editora Azul.
[iv] Canal NATGEO: documentário :Quem matou Jesus?
[v] Documentário:Arquivos  Secretos da Inquisição.
[vi] O Martelo das Feiticeiras entre os outros manuais da Inquisição.
[vii] EUMERICA,Nicolau.Manual dos Inquisidores.Rio de Janeiro:Rosa dos Tempos,1993.
[viii] BATISDE, Roger. As religiões africanas no Brasil.
[ix] Documentário: O Espiritismo de Kardec aos Dias de Hoje.
[x] MURARO,Rose Marie.”Breve Introdução  Histórica” In.: O Martelo das Feiticeiras _ Malleus Maleficarum.
[xi] Documentário :Como a Ciência  Mudou o Nosso Mundo.
[xii] Cinco lições de psicanálise .trad. Duval Marcondes.São Paulo:Abril Cultural(Os Pensadores).
[xiii] Idem.
[xiv] Dissertação de mestrado  apresentada na PUC São Paulo.
[xv] Idem, pg. 39.
[xvi] Para entender  o contexto da questão sexual e a interpretação religiosa  é bom ler: Historia Sexual del Cristianismo  de Deschner Karlheinz ,www.librostauro.com.ar.
[xvii] Filme:Freud além da alma.
[xviii] Canal NATGEO: programa Tabu América Latina: episódios :Mundo dos Mortos,Devoção Extrema.
Doc.:Sacrifícios Humanos.