34.
Por que o desprezo pelas
emoções?
Os
homens têm complicado tanto o mecanismo da vida que já ninguém tem certeza de nada:para se
fazer alguma coisa é preciso aliar a um
impulso de aventura nas
grandes sombras da
dúvida.
Cecília
Meireles
O que há
de errado em ter emoções?
Ainda são consideradas
coisas do(s) gênero(s) inferior(es).Ao
que tudo indica para alguns repórteres de opinião e
comentaristas a resposta é sim.
Nas
revistas masculinas que tive que ler os
videojogos mais valorizados pelos repórteres de opinião são
aqueles que rompem com as regras de convivência social, se é só uma fantasia momentânea para desestressar, tudo bem, a realidade tem
um alto grau de estresse e rotina estafante, ai o sair de si
mesmo um pouco faz bem,ajuda
a manter a lucidez.O problema são os que trazem a fantasia para
o mundo real e a repetem,mimesi.O personagem principal de um desses jogos é o macho
que nunca falha em matéria de
violência sexual e outros
são de níveis físicos como guerra,tiroteios,atropelamentos,etc.A
velha idéia que o macho que é macho mata gozando e goza matando.A morte dos outros, em especial dos inimigos da situação, é sinônimo
de prazer e poder.Isso em jogos
para adultos e outros não
tão adultos assim, reforçando o mito da masculinidade.
Não
jogo videojogos ,mas respeito quem
gosta.Lia sobre para
fazer as analises dos
trabalhos de faculdade,mas
agora leio sinopses por
curiosidade e para ter uma noção
do que se trata.Pois quando acontece uma tragédia os jogos
são um dos elementos apontados como
culpados.Vira e mexe ,de tempos em tempos um jogo ou uma
lista deles é acusado(a) de estimular um
massacre na vida real, nos EUA ou em qualquer outra
parte do mundo, inclusive no Brasil.O
jogo não é visto como um gatilho que ativa
o que já existe dentro da pessoa, é visto
como o motivador principal do crime como se o mal fosse culpa do jogo.(A tradição
religiosa de ver o Mal como culpa
do diabo e não no coração
humano é bem presente
nos comentários de
crime de massacres supostamente acontecem por ter tal cena no videojogo) .Se
é ou não verdade depende do que cada pessoa carrega dentro de si.Aí é
que mora um grande mistério e um
dos problemas, o de que
não há receita de ser humano.
Os
defensores dos videojogos dizem
que é um entretenimento sem
maiores consequências .Sim ,se a
pessoa faz do jogo o seu momento de cartase,faz do
jogo um momento de desligamento
da realidade, “vive” a fantasia que
escolheu e retorna(renovado) para viver a realidade e deixa a
fantasia no jogo.Há quem não faz
esta ida e volta,aí é que
mora o perigo e o problema,quando quer
ficar na ficção e
trazê-la para o mundo real.
E o outro extremo dos comentários
é o referencial negativo quando relatam
sobre o herói-emo sempre com desprezo e uma ponta de ironia , como no caso do famoso
Final Fantasy VII.
Assistindo o filme Final Fantasy
VII, entendi que o problema é a delimitação separatista dos gêneros masculino(machismo) do feminino:homem que
homem não chora,não sente culpa ou remorso, é um psicopata.As emoções
são julgadas como coisa do gênero inferior feminino.E o emo seria
algo mais do que inferior neste padrão de valor masculino de macho matador
coração de pedra.
No
filme em questão,admito que não
conheço o universo Final Fantasy
por isso me limito a comentar
o filme que assisti, o herói Choud não administra
bem o luto pelas
perdas que sofreu,o seu mundo foi
devastado por uma guerra.Ele está
emocionalmente preso ao passado
e sofrendo pelas perdas que aconteceram,mas o aparecimento de
três rapazes em busca da mãe o força
a lutar e de certo modo encarar o passado.
A história pós-guerra deste filme,
em seu quadro geral, não
vangloria a guerra como no seguimento de filmes
direcionados para o público masculino costuma fazer.A guerra tem mais
de dois lados.Este filme
mostra algumas das consequências do depois da
guerra:morte, solidão,estresse pós-traumático ,culpa por ter sobrevivido e os outros não,a agonia de uma
doença que está matando os sobreviventes,orfandade em alta
escala,tentativa de reconstruir a vida.Algumas das coisas que acontecem nas guerras de
verdade,mas muitos preferem não
vêem ou fingir que não vêem.O que deve deixar determinados comentaristas
rancorosos com o filme e/ou o jogo: a
falta de prazer na morte.Pelo
menos neste filme não há
o prazer de matar explicito.
No
fim do filme,ocorre a
recuperação do herói e há
um fio de esperança no
futuro.Não conheço os
jogos com profundidade,mas reconheço determinadas idéias que são
repetidas de modos diferentes nas
opiniões na ficção e na
realidade, que caem na vala
comum da suposta guerra dos
sexos.
Emoções demais podem ser um
problema,mas sem emoções os homens ficam perto de serem psicopatas ou
são psicopatas.O caminho do meio é o equilíbrio que deve ser
buscado entre estes extremos.Dentro dos textos que já analisei
psicopatia parece ser o valor
máximo da masculinidade,nas ficções dos
videojogos.Então é melhor que a fantasia
fique na fantasia e não seja
trazida para a realidade, o que é o grande medo de quem é contra os videojogos.
14/09/10.
02/01/13.
07/06/14.