sábado, 7 de junho de 2014

Crônica Gelada:


34.Por que o desprezo pelas emoções?

Os  homens têm complicado tanto o mecanismo da  vida que já ninguém  tem certeza de nada:para  se  fazer  alguma  coisa é preciso  aliar a um  impulso de  aventura  nas  grandes  sombras  da  dúvida.
Cecília  Meireles

     O que há  de errado em ter  emoções? Ainda  são  consideradas  coisas do(s) gênero(s) inferior(es).Ao  que tudo indica  para alguns  repórteres  de opinião e  comentaristas a resposta  é sim.
      Nas  revistas masculinas que tive que ler os  videojogos  mais  valorizados pelos repórteres  de  opinião são  aqueles  que rompem com as  regras de convivência  social, se é só uma fantasia momentânea  para desestressar, tudo bem, a realidade tem um alto grau de  estresse  e rotina estafante, ai o sair de si mesmo  um pouco faz  bem,ajuda  a manter  a  lucidez.O problema  são os que trazem a  fantasia para  o mundo  real e a  repetem,mimesi.O personagem  principal de um desses jogos é o macho que  nunca falha em matéria  de  violência  sexual e outros são  de níveis  físicos   como guerra,tiroteios,atropelamentos,etc.A velha idéia  que  o macho que é macho mata  gozando e goza  matando.A morte dos outros, em  especial dos inimigos da situação, é sinônimo  de prazer e poder.Isso  em jogos  para  adultos e outros não tão  adultos assim, reforçando  o mito da masculinidade.
     Não  jogo  videojogos ,mas  respeito quem  gosta.Lia  sobre  para  fazer as  analises  dos  trabalhos de  faculdade,mas agora  leio sinopses  por  curiosidade e para ter uma  noção do que se  trata.Pois  quando acontece uma  tragédia  os jogos  são um dos elementos apontados como  culpados.Vira  e  mexe ,de tempos em tempos um jogo ou uma lista  deles é acusado(a) de  estimular um  massacre na  vida  real, nos EUA ou em qualquer  outra  parte do mundo, inclusive no Brasil.O  jogo não é  visto  como um gatilho que  ativa  o que já  existe  dentro da pessoa, é  visto  como o motivador principal do crime como se  o mal fosse culpa do jogo.(A tradição religiosa  de ver o Mal como  culpa  do diabo e não  no  coração  humano  é bem  presente  nos  comentários  de  crime de  massacres  supostamente acontecem por ter tal cena no videojogo)  .Se  é  ou não  verdade depende do que  cada pessoa carrega dentro de  si.Aí é  que mora um grande  mistério  e um  dos  problemas, o de  que  não há receita de  ser humano.
     Os  defensores dos  videojogos  dizem  que é um  entretenimento sem maiores consequências .Sim ,se a  pessoa  faz do jogo o seu  momento de cartase,faz  do  jogo um momento de  desligamento da realidade, “vive” a  fantasia que escolheu e  retorna(renovado) para   viver a realidade e  deixa a  fantasia  no jogo.Há quem não faz esta ida e  volta,aí  é  que mora o perigo e o problema,quando quer  ficar na  ficção  e  trazê-la  para  o mundo real.
     E o outro extremo  dos  comentários é o referencial negativo quando  relatam sobre o herói-emo  sempre  com desprezo e uma ponta de  ironia , como no caso do  famoso  Final Fantasy VII.
     Assistindo o filme Final   Fantasy VII,  entendi que o problema é a  delimitação separatista dos  gêneros  masculino(machismo) do  feminino:homem  que  homem não chora,não sente culpa ou remorso, é um psicopata.As  emoções  são  julgadas como coisa  do gênero inferior  feminino.E o emo  seria  algo mais  do que inferior   neste padrão de  valor masculino de  macho matador  coração de pedra.
     No  filme em  questão,admito  que não  conheço  o universo Final Fantasy por isso  me limito a  comentar  o  filme que assisti, o  herói  Choud  não administra  bem o  luto  pelas  perdas que  sofreu,o seu mundo foi devastado por uma guerra.Ele está  emocionalmente preso ao  passado e  sofrendo pelas  perdas que aconteceram,mas o aparecimento de três rapazes em  busca da mãe o força a  lutar e de  certo modo encarar o passado.
     A história pós-guerra deste  filme,  em seu  quadro  geral, não  vangloria  a  guerra como no seguimento de filmes direcionados para  o público masculino  costuma fazer.A guerra  tem mais  de dois  lados.Este  filme  mostra  algumas das  consequências   do  depois da  guerra:morte, solidão,estresse pós-traumático ,culpa  por ter sobrevivido e os  outros não,a agonia  de uma  doença que está  matando os  sobreviventes,orfandade em alta escala,tentativa de reconstruir a vida.Algumas das  coisas que acontecem nas  guerras de  verdade,mas muitos  preferem não vêem ou fingir que não vêem.O que deve deixar determinados comentaristas rancorosos com o filme e/ou o jogo: a  falta  de prazer na morte.Pelo menos  neste  filme não há  o prazer de matar explicito.
     No  fim do  filme,ocorre  a  recuperação  do herói  e há  um  fio de   esperança no  futuro.Não   conheço  os  jogos  com  profundidade,mas  reconheço determinadas idéias que são repetidas de modos diferentes nas  opiniões na  ficção e na realidade,  que caem na  vala  comum da  suposta guerra  dos  sexos.
     Emoções demais podem ser  um  problema,mas sem emoções os homens ficam perto de serem psicopatas ou são psicopatas.O caminho do meio é o equilíbrio  que deve ser  buscado  entre estes  extremos.Dentro  dos textos que  já analisei  psicopatia parece ser  o valor máximo da  masculinidade,nas  ficções dos  videojogos.Então é  melhor que  a fantasia  fique na fantasia  e não  seja  trazida  para a realidade, o que  é  o  grande  medo de  quem  é  contra os  videojogos.
                                                                                   14/09/10.
                                                                                   02/01/13.
                                                                                   07/06/14.                                                      

                                                                         

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