sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Conto:


Liberdade: uma questão de pensamento


Toda moral  condena a  vida,nega-a,não se cansa de a empobrecer,de a sufocar ou de a condenar.
                        André Conte-Sponville

   
     Luci, canto e canção do pássaro .Passarinho chamado amor. Arte e amor rimam  em sua alma. Canções que alcançam os nossos corações, os verdes e os  maduros.
     Ela não se deixou silenciar e não  que  o marido a silenciasse .Agora ela está  conosco na Oficina Literária , ensinando  coisas  que só aprende quem já passou pela escola da  vida.
     Mas ela também é guerreira.Canta para nós, para os parentes e amigos, para si mesmo. Fez curso de música ,não faz  Faculdade  por  causa do marido.
      Infelizmente ,  uma amiga sua não fez isso. Fez curso de música,mas parou de cantar  e não canta nem  em casa  porque o  marido, ruído de ciúmes, diga-se  de passagem,proibiu e argumentou que não fica bem uma dona de casa  aparecer  demais por aí ,  fazendo shows, saraus,etc.
     Com uma pontinha de orgulho, essa mulher disse para Luci que não  canta nada há vinte anos por causa do marido.
     _Pois você foi mais cruel consigo mesma do que ele ._disse-lhe Luci.

                                                                                        __/__/__.
                                                                                       15/11/12.


domingo, 25 de novembro de 2012

Conto:



 Só Spilberg explica

     Joane folheava uma revista  entediadamente.Parou numa página para observar  uma foto entre outras tantas.
      Era a foto de um lago cercado por árvores  e mato verdinho como recém-nascido , água escura neblinada e ondulante ;no centro um barco a remo , a silhueta  de um homem pescando.
      _Parece que algo vai pular de dentro da água._pensou em voz alta.
      E pulou... A água  começou a borbulhar. O homem, ou melhor , a silhueta do homem levou  um susto, deixou a vara  de pescar cair e segurou-se num  dos lados do barco.Subitamente a silhueta de uma serpente marinha surgiu dentre as bolhas, abriu a bocarra, engoliu o barquinho de uma vez e submergiu.
    Joane  despertou de seu estado de letargia, gritou, soltou a revista num canto e saiu correndo para o seu quarto.Parou de repente. Julgou sua ação como um ato absurdo.Mas o que viu também era absurdo.Seu irmão  apareceu para saber o motivo do grito.
     _Nada não!Foi um pesadelo,acho eu.
     _Que tipo de pesadelo?_alfinetou.
     _Ah!...Er...Uma serpente marinha ,a sombra dela,engoliu um barquinho na foto  da revista.
     _Cadê a revista?_ perguntou  provocativamente.
     _Lá,na sala.
     _ Vamos ver?
     _ Foi só um pesadelo.
      Foram até lá.Ela sabia que era  loucura,mas tinha que mostrar para ele só por mostrar.Faltava  pouco para ser  chamada de louca ou ser perguntada se  tem tomado “alguma coisa” que fez alucinar.A cena de ação que viu não cabe numa única foto.
     Ele pegou a revista ,ela indicou a   página e ele folheou,achou a foto.Todos os elementos  estavam lá,menos o barco.
     _Na revista não tem nada de mais._ disse ele.
     _Engraçado, tem a  silhueta de outro homem correndo no bosque.
     _O quê?! Pirou de vez.
    _Olha aqui.
    Ela mostrou para ele que caiu sentado do chão. Também deixou a revista cair de suas mãos.A cara era de terror absoluto ,apontou para a janela atrás dela freneticamente.
     Joane o olhou a revista no chão e  virou-se lentamente para trás e viu na janela um olho enorme  fitando-a.Soltou um berro. O animal berrou também,mostrando os dentes.Depois ,  de dar uma olhadinha nos dentes serrilhados do bicho  saiu correndo de lá junto com o irmão.E jurou  que se  saísse viva dessa  situação se tornará defensora das espécies em extinção.
                                                                                24/05/98.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Mini-conto:


Transcendência

     O homem nu corre pelas ruas.Um sorriso estampado na face. Os braços  abertos.Quer voar ou já está voando?
      Parece feliz por estar livre. Livre de quê?
      Os moradores da  rua ao percebé-lo se assustam, entram para dentro de suas casas, se trancam e olham certificando-se  de que foi embora. Os transeuntes saem do meio do caminho, outros fingem  que nem o veem.Mulheres assustadas  agarram-se as crianças pequenas. 
     Os garotos de um colégio tentam agredi-lo. Ele corre mais depressa. Eles não o alcançam. Continua sorrindo. Corre... Vai levantar voo... Desaparece.
                                                                               15/04/98.