sábado, 20 de dezembro de 2014

O teste de Bechdel : essa coisa “sem importância” chamada mulher

    

                                  (...) Não adianta dar  razões ou mesmo provas  científicas  irrefutáveis  que  demonstrem,até o cansaço, que  brancos,negros ,índios, mulheres  e homens  somos intelectualmente iguais.Os  preconceitos raciais e de  gênero, que se arrastam ao longo dos  séculos, resistem porque fazem parte da  argamassa que  permite manter  unida  a  aparência uma  sociedade baseada na  desigualdade, na opressão e na desunião que  favorece  uma  minoria  em prejuízo da  maioria.


Gonzalo Armijos( Racismo nos  “ilustrados” pg.7,O popular: 09/11/14)
   

     O teste de Bechdel pergunta/questiona se uma obra de  ficção  possui pelo menos duas  mulheres ,com ou sem nome,que conversam entre  si  algo que não  seja um  homem.Quando falha no teste  é um indicativo de  preconceito de gênero. Poucos  filmes passam no teste aparentemente bobo, que  revela uma  linha de raciocínio  sexista como aparece no texto do  Wikipédia : “uma  estudante de roteiro da  Universidade da  Califórnia ,em Los Angeles,escreveu   em 2008 que  seus  professores disseram a ela que o  público “queria apenas  protagonistas homens,brancos e heterossexuais” e não “ um  bando de  mulheres conversando sobre o que quer  que seja que  mulheres conversam”.(pt.wikipedia.org/wiki/teste_de_Berchdel).
    Ou seja, um padrão que é  imposto de cima  para  baixo,pois  para estes professores  muito  machistas, mulheres são  apenas  chocadeiras ou  reprodutoras preocupadas em  conquistar  o macho  alfa ou nem isso.A  função biológica  é um  fator  colocado como pejorativo de estereótipo e  limitador de  atuação.E se a  personagem  sai das regras do estereótipo estabelecido é vista como uma violadora de padrões,uma ameaça a  normalidade(limitada,limitadora e limitante)  estabelecida de  como a  naturezas das  coisas  como devem ser.
     Duas mulheres  disputando  um  homem  ou o macho  alfa  é uma  visão  muito presente  em  comédias  românticas  norte americanas de triângulos  amorosos ou  disputa  para ver quem ganha a  preferência  do  homem cobiçado .As  ficções não são  recorte da  realidade de  todas as  mulheres, cada cultura tem  suas diferenças,  particularidades e semelhanças, porém  há sim a manipulação de elementos  culturais  os  quais   servem para  direcionar e aprisionar a mentalidade das  mulheres e homens  nos  estereótipos criados para  representá-las(os)  generalizando como se fosse a realidade para e  de  todas as mulheres.Aos homens , idem,pois  um  padrão de protagonista é estabelecido e imposto a  ponto de virar  regra que não pode ser  quebrada: homens brancos e heterossexuais o que  também subentendesse  que sejam jovens ou jovens adultos. E os  homens  que não se  encaixam nesse perfil estabelecido como o “gosto do público”?
     Atualmente o grande  público  é uma  abstração dividida em  nichos  específicos ,por isso as  produções japonesas  fizeram e  fazem  sucesso:para  cada  público específico  há  produções  específicas.Muitas passariam pelo teste de Berchel por ter  duas mulheres  com nome  e falando de coisas além de homens.Mas há histórias  interessantes  nas quais duas  garotas podem ser ao mesmo tempo amigas de infância   e rivais pelo amor do mesmo rapaz  entre outros desdobramentos. Gerando  situações  de comédias  pastelão a  dramas psicológicos  complexos.
      Cada cultura  tem os seus padrões ou estilo de machismo entre outros preconceitos.
      Em  alguns  filmes  e seriados de ação  norte-americanos  que  assisti , sempre no  começo quando uma  equipe militar ou  civil  e militar  é   formada  só  tem  uma  mulher e ela  nunca é  bem  recebido por todos,havia sempre um  personagem  da  equipe  que diz  ou insinua que  ela  vai  atrapalhar, terá que  ser salva ou ser  cuidada pelo parceiro de  combate ,pois é do  sexo  frágil  e por isso não  apta para  ação.Terá  que provar que  merece  fazer parte da equipe(ex.:Até  o limite da  honra, Stargate:série, Terror no Lago).
      Por  que  não duas?Porque  dentro desta  visão ficcional  machista  e  militar  os  relacionamentos  amorosos  atrapalham  o trabalho.Neste  tipo de ficção  elas poderiam se interessar pelo  colega mais  atraente e  brigarem entre  si esquecendo de trabalhar ou vão  disputar a  atenção dos  colegas   assim todos   vão  esquecer de  focar no trabalho como se fossem  seres irracionais.Infelizmente existe  este tipo de  mulher,mas não  são  todas as  mulheres que  são assim. Como se  não  existisse  mistura de gêneros  fílmicos também .A única exceção  que me vem  a  mente   é  Jornada nas  Estrelas em  matéria de produção americana. Nas as produções  japonesas  há  mistura de  gêneros   fílmicos e as  coisas podem se  misturar e render  piadas  e  momentos  cômicos  dentro de  séries  sérias. Independente do teste de Bechdel há  muitas  nuances de  machismo e  formas de  discriminar nas estruturas de roteiros norte-americanos ou de  qualquer  outro país  com  uma,duas ou mais mulheres,  pois  são padrões  culturalmente   estabelecidos  como verdade inquestionável  que  não  vão mudar  da noite  para o dia e  vão   muito além  do que   o  teste  propõe.Quando  os padrões são  questionados, o  questionamento  é  visto  como  uma  ameaça  a  “ordem  natural das  coisas”.Vai levar  tempo,na  contagem de  alguns ou  muitos  séculos para  mudar, mas  questionar é  importante para  que  alguma  mudança aconteça.Para  que o  apagamento vire  visibilidade o qual é o foco  do teste.
      Pensando além  do teste de Bechdel , nas  comédias  românticas  predomina  a  situação de  duas  mulheres  disputando o mesmo homem , por causa  da  mudança  de  foco  de público e  recorte  de  tipo de  público, direcionamento e  padrão. Querendo ou não a  questão  biológica fica evidente  e em evidência  como um  outro padrão de poder  através da  “posse”  do  homem ou ser possuída  pelo macho.Disso não tem  como  fugir , o problema é  que não é dado o devido  valor a  reprodução,pois mesmo em  países  que se dizem  desenvolvidos  mulheres não vistas  como meras  chocadeiras  ou nem são  vistas  como seres humanos dignas  de serem  protagonistas. Até a  atual conjuntura da  situação sem  as mulheres não tem como os  homens  nascerem,mas  “quem se  importa?” A condição biologia  é  um entre  os fatores de  discriminação de gênero.
     Mas há  algumas  produções americanas   interessantes nas quais  duas  mulheres podem estar a  disputar poder e/ou vingança, entre outras  coisas,mas  são  poucas  produções diante  da maioria que tem o foco  no que os  professores de roteiro colocaram  como cultura para a  massa.
       Ironicamente, depois  do  11 de  setembro o presidente  da  ocasião  na ocasião num discurso de politicagem condenou o terrorismo e  as  formas como as  mulheres e as  crianças eram  “oprimidas” pelos  homens  mulçumanos, como se mulçumano  fosse  sinônimo de  terrorista e  machista, e  convenientemente  esqueceu que a  cultura  norte-  americana tem  seus meios e  métodos  de  discriminar e  diminuir  as  mulheres.Uma delas citada na fala dos  professores de  roteiro.Cada  cultura  é sexista ao seu modo e tem  suas nuances  e  focos  de  machismo. O  foco do  teste  é  o apagamento  visual e  de personalidade.
     Sobre isso e outros  assuntos  relacionados a ONU fez um relatório que posso  chamar  de mais apurado de leitura de entrelinhas(jargão de estudos   literários) ,o documento  titulado: Preconceito  de gênero  sem fronteiras: Uma  pesquisa sobre  personagens  femininas em filmes  populares em 11 países*.E é  muito mais  amplo do que  os estudos  literários  em filmes  que fiz.
     Afinal, a  ficção interfere na   realidade, ou melhor , nas  formas de  “racionalizar” e  “ver” a realidade. Mudar  as “ formulas” de  roteiro é  necessário ,mas  vai gerar  estranhamento   ao  grande  público a quem está  acostumado a  mais  do mesmo e  talvez  baixos  rendimentos em  alguns  momentos. Mas  há os  nichos   que podem ser  lucrativos  se os  produtos específicos  forem bons para  os públicos específicos.

*www.onu.org.br/industria-cinematografica-global-perpetua-a-discriminacao-contra-a-mulher-diz-novo-relatorio-da-onu
                                                                                                      07/09/2014.
                                                                                                      14/09/2014.
                                                                                                      20/09/2014.
                                                                                                      09/11/2014.
                                                                                                      18/10/2014.
                                                                                                      19/10/2014.
                                                                                                      20/10/2014 .
      .                                                                                               13/12/2014.                 
                                                                                                      14/12/2014.
                                                                                                      20/12/2014.  
                                                                                                      21/12/2014.  
       

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