Maldição noturna ?
Armando estava intrigado ,mas não sabia
bem o motivo. Talvez por causa dos barulhos que
ouvia a noite ultimamente: serrote serrando e passando por
dentro das paredes e do chão.Talvez
tudo tivesse aumentado ao tamanho da sua inquietação ou pelo
silêncio.Dormia.Acordava.Revirava na cama.Dormia.O barulho começava de novo.
Acordava.
_Mas que diabo é isso?_gritou e foi ver o
causador do barulho.
Para sua
surpresa era apenas uma barata passeando pela mesinha de madeira da
sala.Encarou o bicho que encarou-o também.
É só um bicho insignificante fazendo todo esse barulho?!?
Ela nem se mexeu.Ficou aguardando em
alerta. Quando Armando pegou seu chinelo
era tarde demais. A barata desapareceu.
_Maldição!
No dia seguinte, tomou uma providência :
comprou veneno de matar baratas e bateu em todo o apartamento.Pouco depois ,apareceram algumas
baratas mortas,mas o barulho a noite não
acabou e uma barata frequentava a mesinha, permanecia viva e soberanamente caminhava sobre aquele móvel.
Declarou guerra. Comprou venenos de outras marcas, aprendeu receitas
caseiras de isca. Pegava todas.Menos uma barata na mesinha.O barulho continuava
e o estava deixando louco.Seu apartamento foi demarcado pelo sindico como zona de perigo: veneno! Pague para
entrar e reze para sair vivo. A placa
com a caveira não deixava dúvidas.
Á noite, o barulho continuava. Num ataque de fúria pegou a mesinha e jogou-a
pela janela e só conferiu depois de doze andares de queda se o móvel não caiu na cabeça de ninguém. Por sorte
,não.Voltou a repousar em paz. Parecia
que o problema foi resolvido.Mas depois
de algum tempo o barulho voltou. Mais intenso.Talvez baratas super-resistentes a venenos.O barulho vinha
da cama.Exigiu do sindico uma detetização geral.
Depois de muito falar e negociar o
sindico acabou concordando,mas com reservas. Temendo uma
intoxicação generalizada pediu aos outros
moradores que se ausentassem do
prédio por dois dias.Houve resistências, mas argumentou que havia uma
epidemia de baratas.Aí concordaram. Feito o serviço e passado o período de quarentena
tudo voltou ao normal.Armando retirou a placa de caveira, dormiu noites sossegadas, sem barulho ou
preocupações.
Dois meses depois, os sons voltaram a acontecer mais intensos.Passos
pesados passando pelas paredes.
_É loucura! Deve ser produto da minha
imaginação!_ disse para si mesmo.
Desta vez não foi ver. Ficou deitado. Já
que não dormia procurou relaxar.Que providência tomar ? Falar com o síndico
,mas ele não vai querer saber de uma
detetização geral. Os venenos não fariam mais efeito.
Render-se? Não faria isto. Procuraria
outras receitas caseiras.
Ao sair para o trabalho, cedo e ainda
sonolento entrou no elevador onde estava
um homem de sobretudo e chapéu
mastigando uma pastilha.Fez a pergunta:
_ O senhor conhece alguma receita para matar baratas?
_Não ._respondeu secamente.
_Não se incomoda com o barulho que fazem?
_Não. Quanto mais melhor.
_O quê?!? O senhor é louco?
_Não .O senhor bebeu? Olhe bem para
mim!_ disse erguendo o pescoço,deixou
duas antenas enormes pularem para fora do chapéu.Abriu o
sobretudo que não era sobretudo,eram asas de barata enormes.
Petrificado de medo Armando ficou
branco e não respondeu nada. Quando
chegaram ao térreo a porta do elevador abriu, saiu correndo e gritando
por socorro.
_Humanos. Quem os entende?
30/05/98.
27/03/03.
21/12/12.
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