sábado, 3 de maio de 2014

Crônica Gelada :


29.Pedofilia na literatura  e na  vida real


     Da denominada “alta” até a  “baixa” literatura alguns  autores ,críticos e  professores  tratam   de temas tabu como coisa corriqueira e talvez seja para eles, mas a maioria das  pessoas não vêem  que seja assim.Pedofilia é um  entre os temas tabu sobre sexo que de tanto a “alta” literatura tratar você  acaba achando   que é um tema que pode ser  racionalmente discutido,mas não é por ser uma  explicita  relação de  dominador(a) e dominado(a),prazer com o poder sobre a vítima,diferença de idade e de interesse.Fere algumas sensibilidades das menos as mais sensíveis.Porém ,não falar  não quer dizer que não existe.É  no silêncio  e na  conivência   social intra e extra  familiar  que  tal crime  acontece.
     O fato das mídias alardearem sobre  o leque de temas sexuais e as  propagandas de determinados  produtos usarem  o corpo feminino padronizado como  atrativo para incrementar a  mercadoria  que deseja vender não quer dizer que deixou de ser tema tabu.É um tipo de tabu que se fortalece também pelo excesso de  exposição.
     Ao ler  Memórias de  Minhas Putas Tristes  de Gabriel Garcia  Marquez  ,com  minha turma de  faculdade ,o sentimento das  colegas que eram mães de crianças pequenas  foi de  revolta total,pois a  obra narra a história  de um velho que quer ter  uma  noite de  amor louco com uma jovenzinha.No decorrer da narrativa não  consuma seu desejo,mas  chega  perto.Ou seja ,ao ato de pedofilia.
     O professor achou divertido as  reações de  revolta,pois como homem viu a situação por outra perspectiva,além do fato de ser ficção e amena.Para as mães foi  revoltante um velho querer sexo com uma menina.Além de despertar a  passionalidade delas o assunto travou neste ponto.Não separaram  ficção de realidade  a qual é muito mais terrível  do que a história do livro.
     O ponto da  questão é que homens  e mulheres  vêem o sexo de  modos  diferentes por  causas várias  que nem  é preciso citar, ai  entramos naquelas discussões  estilo “guerra  dos  sexos”  que não precisam ser  repetidas.Na perspectiva do professor a situação parecia engraçada, embora ele  não tenha dito qual era a  graça e nem poderia,pois dependendo do que dissesse poderia apanhar das mais  exultadas.A obra  cumpriu a função  da obra de arte,despertou emoções e inquietou ,o que quase prejudicou o debate racional do livro.
     No caso da  personagem  o velho, ele  sabia  que cada aniversário que passava estava  cada vez  mais perto da  morte,por isso o ato sexual com uma  menina era um presente que  dava  a si mesmo,pois tornou-se um  consolo diante  do inevitável, afirmação da  vida e do estar vivo lúcido para  fazer escolhas.Mas o estar  vivo como um “vampiro” que  quer  “sugar” a  juventude de  alguém.Analisando  psicologicamente  é a busca da ilusão de  poder sobre si e  sobre  outro ser, “inveja” da  juventude, a  relação de  prazer e poder  sexual,auto-afirmação ,vampirismo,  carência,dificuldade emocional ou falta  de maturidade emocional   para  se  relacionar com uma mulher  adulta.A menina  não tem voz  na história.Ela é o objeto de desejo.
     O tema  foi trabalhado por outros autores consagrados, o livro de Marquez foi inspirado  em outro livro   A Casa das  Belas Adormecidas  de Kawabata .A  fixação pelo  leque  de temas relacionados a sexo e as  modalidades sexuais por  parte  de muitos autores homens e algumas  autoras mulheres é uma  constante nas literaturas é faz deles assuntos corriqueiros e cotidiano que  ferem  a moral, a suposta moral e a falsa moral dependendo de como  o(a)  autor(a)  conta  a história  e o tipo de  receptividades   que  recebe dos  públicos.O que é socialmente  proibido é  permitido nas artes como válvula  de escape, tentativa de romper  tabus,perturbar,etc.Paradoxos  sociais e ideológicos.
     Histórias reais  de  velhos fazendo sexo com  meninas e meninos  recheiam  as páginas policiais por ser  judicial e  moralmente  crime e mesmo assim acontece com mais frequência  do que   podemos  imaginar,pois é  frequente que pais,tios,avôs, padrastos,namorados, ficantes das  mães  das  vítimas   cometerem o crime .Há mães que protegem seus filhos e denunciam  os  companheiros.E muitas outras  preferem proteger o criminoso  e deixam as  vítimas sofrerem para manter o homem junto,ou finge  que não percebe ,ou é abertamente  conivente  com os abusos.Etc.
     Afinal, a mesma sociedade que diz condenar  a pedofilia  é a mesma  que comete ou deixa  acontecer  quando é  e quando não é com parentes próximos.É a  mesma sociedade que diz  que  mulher sem homem é  ninguém, e  para ser  alguém-social , a  mulher  deve ser a  de fulano ou sicrano,sem falar das outras  questões de  dependência  emocional e financeira aceitam a pedofilia dentro de casa.O  preço a  pagar  para fingir  ser  “a  família perfeita” perante a  sociedade desde  que  ninguém de  fora  saiba a  verdade e denuncie.Ou  alguém de  dentro  da  situação  como a própria  vítima delate  o agressor.Os  antigos e  famosos “segredos de  família” que todo mundo sabe,mas não conta para fingir   socialmente  que são “ normais”.O  que  encaixa   também  os medos de  escândalo  e o  “que os outros vão dizer?”
     Profundas  contradições  sociais.
     A única  diferença de agora com antigamente é que os meios de  comunicação  evoluíram e noticiam alguns casos  e que algumas  vítimas mesmo que demorem muito tempo denunciam ou alguém próximo ou por perto denuncie.O que gera choque e  espanto.Porque só “existe” quando  é  descoberto e  dito. Paradoxo das regras sociais.

                                                                                            05/10/12.
                                                                                            20/10/12.
                                                                                            21/10/12.
                                                                                            03/05/14.

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