sábado, 13 de julho de 2013

Crônica Gelada:


17.Paradoxos sociais e familiares

Somos tão fúteis que nos importamos  com a opinião daqueles que não nos importam.
   Marievon Ebner-Eshenbach
O que  faz agora  com as crianças é o que elas farão com a sociedade.
Karl Mannheim

      A mesma sociedade(ocidental) que  condena a  mulher quando é  omissa na proteção dos filhos quando estes sofrem abuso sexual ou outras violências por parte do pai, padrasto ,namorado, companheiro, ficante,etc, é a mesma que diz  que mulher solteira é uma ninguém social, a qual falta uma  parte para ser  alguém:a esposa de alguém.Qualidade no relacionamento? Isto é o de menos.
     É condenada a ouvir sempre as perguntas do tipo:não casou? Quando vai casar? Vai ficar pra tia? Etc,ou seja, coitadinha ninguém te quis. Apesar das ditas mudanças sociais  a sociedade dá todo poder simbólico entre outros poderes ao homem e  depois não entende por qual razão a mulher se submete, aceita abusos e é omissa na  proteção dos filhos.Sem falar na velha  e conhecida ineficiência  do Estado na defesas da vida  das  cidadãs  e suas  crianças.
      Não estou defendendo o que parece num primeiro momento  o absurdo, apenas observando o quanto o absurdo é a normalidade  quando ninguém fica sabendo do famigerado segredo de família .O problema  é bem tipo o ditado popular, se correr o  bicho pega e se ficar o bicho come: que pode  significar antes mal acompanhada do que sozinha.Tudo tem suas  complexidades.
     Além disso é mais  algumas  coisas existe as questões de ordem material da dependência  financeira, no caso da mulher que não trabalha fora de casa.Mas no caso da mulher que  trabalha fora de  casa há questões mais  complexas como a dependência  emocional e seus desdobramentos, sem esquecer de comentar questões que preocupam mais as mulheres do que os homens como o medo da solidão, antes mal acompanhada do que só, o que os outros vão dizer(em especial, familiares  e amigos)?, a eterna esperança que o sapo vire príncipe,ver o(a) próprio(a) filho(a) como rival que pode ou vai “roubar” seu  companheiro e não  vê o homem como o canalha  da situação quando  ele o é(a estratégia  de defesa do estuprador:ele(a) que me seduziu!Na cabeça da mulher dependente  emocional  a estratégia  do estuprador  funciona como uma desculpa convincente  e  conveniente para perdoar o  criminoso e culpar a criança ou  jovem, que passa a ocupar o papel de  amante),não aceita que o sonho de princesa  através do casamento  não deu certo.
      Sem falar já  falando nos casos mais estranhos de mãe que oferece a  filha como amante para o companheiro permanecer com ela como se fosse a coisa mais comum do mundo.Talvez seja, até que  a vítima  denuncie.Aí os jornalistas policiais fazem o alarde e os culpados  “percebem” o abuso através  dos olhares externos  já que  quem tá  dentro da situação não vê  como absurdo do abuso : tudo para mostrar para os outros que não está sozinha  socialmente.
      Por  esses e demais motivos que  só quem de cada caso  em questão saiba. Como também por adestramento social as pessoas ,em especial as mulheres, preferem viver na mentira que criaram para si e para os outros do que encarar de frente a dura realidade dos fatos: nem tudo são flores dentro de determinados tipos de  relacionamentos, ainda mais  os  de aparência .
    E por outro lado , há o adestramento para os homens e, as  imposições  sociais para o homem o qual  deve ser sempre o pegador insaciável  que pega todas as mulheres  , tal afirmação acaba incluindo subliminarmente crianças e adolescentes, a pedofilia ocasional, a desculpa biológica  que o homem tem mais  necessidade de sexo do que a  mulher  a qual pode ser convenientemente usada para  justificar traições entre outros abusos já anteriormente  citados.Pois como já  foi dito milhares de vezes na imprensa, predadores sexuais de crianças e jovens são pessoas próximas  e de confiança das vítimas, os  estranhos na  maioria dos casos são predadores sexuais de mulheres adultas.
     E  observando a questão  a nível mais  macro também há a falta da preparação do Estado(todos os níveis  governamentais) e oferta  de ajuda  para quem resolve  romper o silêncio.A imprensa sempre mostra  falta de pessoal qualificado, poucas casas-abrigo para a alta demanda  a qual é  crescente; as leis de  proteção são  boas, mas não são acompanhadas  com os investimentos  financeiros necessários  e qualificação  de  funcionários  para atender e proteger as vítimas.O que cai no  problema do velho ralo da corrupção:o dinheiro não chega  aonde é preciso.Por mais que o governo arrecade impostos, o dinheiro não chega aonde deveria ser aplicado.Leis antigas, penas leves, pagamento de cestas básicas ,etc, dão aos criminosos a total certeza da impunidade.Uma  correlação  de fatores  que auxiliam  a vida de bandidos abusadores,pois deixam as vítimas  desamparadas.
     A punição fica apenas a nível de vexame  público que a sociedade logo esquece,  pois incomoda  por ser tabu.E no círculo familiar e de amizade do criminoso o tipo quando exposto ao  vexame  público vira aos olhos deles herói  ou mártir , pois  os outros se meteram num  assunto de família  o qual deveria ser  segredo.E a vítima  vira  vilão da  situação.
      Os  crimes  de violência  doméstica e sexuais arranham,mas  não destroem  o mito da família feliz tão presente no imaginário  social nas  propagandas, seitas que se dizem  Igrejas apelando para a leitura da  Bíblia ao pé  da letra  para justificar  a submissão da mulher ao marido esquecendo que  a época é outra, as igrejas  tradicionais também,etc.As  pessoas ,em especial os parentes, exigem  depois de uma certa idade que a mulher se case (com qualquer um) para dar uma  satisfação a  eles e aos outros: vizinhos, amigos, inimigos, colegas de trabalho, etc.
      A  questão das escolhas sociais e pessoais se cruzam o tempo todo. O que é mais importante?O que escolher: o status quo?A manutenção das aparências? O tabu?O bem-estar das  vítimas?Etc.Rever conceitos e mudar maus hábitos enraizados é  algo difícil e demorado, mas não é impossível.Mas vai depender  de um novo acordo coletivo enquanto seres sociais.
                                                                                          29/05/12.
                                                                                         30/05/12.
                                                                                         11/07/13.

   


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