17.Paradoxos sociais e
familiares
Somos tão fúteis que nos importamos com a opinião daqueles que não nos importam.
Marievon Ebner-Eshenbach
O
que faz agora com as crianças é o que elas farão com a
sociedade.
Karl
Mannheim
A mesma sociedade(ocidental) que condena a
mulher quando é omissa na
proteção dos filhos quando estes sofrem abuso sexual ou outras violências por
parte do pai, padrasto ,namorado, companheiro, ficante,etc, é a mesma que
diz que mulher solteira é uma ninguém
social, a qual falta uma parte para
ser alguém:a esposa de alguém.Qualidade
no relacionamento? Isto é o de menos.
É condenada a ouvir sempre as perguntas do
tipo:não casou? Quando vai casar? Vai ficar pra tia? Etc,ou seja, coitadinha
ninguém te quis. Apesar das ditas mudanças sociais a sociedade dá todo poder simbólico entre
outros poderes ao homem e depois não
entende por qual razão a mulher se submete, aceita abusos e é omissa na proteção dos filhos.Sem falar na velha e conhecida ineficiência do Estado na defesas da vida das
cidadãs e suas crianças.
Não estou defendendo o que parece num
primeiro momento o absurdo, apenas
observando o quanto o absurdo é a normalidade
quando ninguém fica sabendo do famigerado segredo de família .O
problema é bem tipo o ditado popular, se
correr o bicho pega e se ficar o bicho
come: que pode significar antes mal
acompanhada do que sozinha.Tudo tem suas
complexidades.
Além disso é mais algumas
coisas existe as questões de ordem material da dependência financeira, no caso da mulher que não
trabalha fora de casa.Mas no caso da mulher que
trabalha fora de casa há questões
mais complexas como a dependência emocional e seus desdobramentos, sem esquecer
de comentar questões que preocupam mais as mulheres do que os homens como o
medo da solidão, antes mal acompanhada do que só, o que os outros vão dizer(em
especial, familiares e amigos)?, a
eterna esperança que o sapo vire príncipe,ver o(a) próprio(a) filho(a) como
rival que pode ou vai “roubar” seu
companheiro e não vê o homem como
o canalha da situação quando ele o é(a estratégia de defesa do estuprador:ele(a) que me
seduziu!Na cabeça da mulher dependente
emocional a estratégia do estuprador
funciona como uma desculpa convincente
e conveniente para perdoar o criminoso e culpar a criança ou jovem, que passa a ocupar o papel de amante),não aceita que o sonho de
princesa através do casamento não deu certo.
Sem falar já falando nos casos mais estranhos de mãe que
oferece a filha como amante para o
companheiro permanecer com ela como se fosse a coisa mais comum do mundo.Talvez
seja, até que a vítima denuncie.Aí os jornalistas policiais fazem o
alarde e os culpados “percebem” o abuso através
dos olhares externos já que
quem tá dentro da situação não
vê como absurdo do abuso : tudo para
mostrar para os outros que não está sozinha
socialmente.
Por
esses e demais motivos que só
quem de cada caso em questão saiba. Como
também por adestramento social as pessoas ,em especial as mulheres, preferem
viver na mentira que criaram para si e para os outros do que encarar de frente
a dura realidade dos fatos: nem tudo são flores dentro de determinados tipos de relacionamentos, ainda mais os de
aparência .
E por outro lado , há o adestramento para
os homens e, as imposições sociais para o homem o qual deve ser sempre o pegador insaciável que pega todas as mulheres , tal afirmação acaba incluindo
subliminarmente crianças e adolescentes, a pedofilia ocasional, a desculpa
biológica que o homem tem mais necessidade de sexo do que a mulher
a qual pode ser convenientemente usada para justificar traições entre outros abusos já
anteriormente citados.Pois como já foi dito milhares de vezes na imprensa,
predadores sexuais de crianças e jovens são pessoas próximas e de confiança das vítimas, os estranhos na
maioria dos casos são predadores sexuais de mulheres adultas.
E
observando a questão a nível
mais macro também há a falta da
preparação do Estado(todos os níveis
governamentais) e oferta de
ajuda para quem resolve romper o silêncio.A imprensa sempre
mostra falta de pessoal qualificado,
poucas casas-abrigo para a alta demanda
a qual é crescente; as leis
de proteção são boas, mas não são acompanhadas com os investimentos financeiros necessários e qualificação de
funcionários para atender e
proteger as vítimas.O que cai no
problema do velho ralo da corrupção:o dinheiro não chega aonde é preciso.Por mais que o governo
arrecade impostos, o dinheiro não chega aonde deveria ser aplicado.Leis
antigas, penas leves, pagamento de cestas básicas ,etc, dão aos criminosos a
total certeza da impunidade.Uma
correlação de fatores que auxiliam
a vida de bandidos abusadores,pois deixam as vítimas desamparadas.
A punição fica apenas a nível de
vexame público que a sociedade logo
esquece, pois incomoda por ser tabu.E no círculo familiar e de
amizade do criminoso o tipo quando exposto ao
vexame público vira aos olhos
deles herói ou mártir , pois os outros se meteram num assunto de família o qual deveria ser segredo.E a vítima vira
vilão da situação.
Os
crimes de violência doméstica e sexuais arranham,mas não destroem
o mito da família feliz tão presente no imaginário social nas
propagandas, seitas que se dizem Igrejas
apelando para a leitura da Bíblia ao
pé da letra para justificar a submissão da mulher ao marido esquecendo
que a época é outra, as igrejas tradicionais também,etc.As pessoas ,em especial os parentes, exigem depois de uma certa idade que a mulher se
case (com qualquer um) para dar uma
satisfação a eles e aos outros:
vizinhos, amigos, inimigos, colegas de trabalho, etc.
A
questão das escolhas sociais e pessoais se cruzam o tempo todo. O que é
mais importante?O que escolher: o status quo?A manutenção das aparências? O
tabu?O bem-estar das vítimas?Etc.Rever
conceitos e mudar maus hábitos enraizados é
algo difícil e demorado, mas não é impossível.Mas vai depender de um novo acordo coletivo enquanto seres
sociais.
29/05/12.
30/05/12.
11/07/13.
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