terça-feira, 22 de abril de 2014

Crônica Gelada:


26.Ulisses de Joyce

     O famoso livro, nos meios literários e acadêmicos ,Ulisses de Joyce  é um daqueles  livros que só agrada  aos  públicos  específicos  como críticos  literários ,apreciadores do  experimentalismo,professores de literatura,leitores especializados.
     Por isso é  que leitores não especializados ficam sem  entender ou perguntam se isto é literatura? o texto hermético  e cheio de referências mitológicas.Cada  livro tem seu público específico , o(a) produtor(a) literário  escreve para  seu  público leitor determinado,ou no geral ,ou para  si mesmo(a).Existem os  best-seller   para o grande  público em geral.Para  públicos  mais intelectualizados  leituras não  lineares,experimentais,herméticas  com  códigos cifrados,etc, o que  durante a ditadura militar era  compreensível ,pois  escrever difícil   salvava vidas ,os censores na maioria  dos  casos eram ignorantes,mas em tempos  de relativa paz parece  recurso sem sentido ou com o sentido de “elitizar”.
     Li o livro no ano o qual foi  eleito o livro do século vinte ,junto com outros  tantos.Havia um clima propício, pois as mídias especializadas falavam bem dele.É um livro de vários  temas, sobre sexo e outras  coisas.E um livro que seu eixo de entendimento  está ligado ao texto clássico A Odisséia  de Homero,mas num dialogo  com a  contemporaneidade do inicio do  século  vinte:as vinte e quatro horas na  vida de um homem comum.
     O paralelo no clássico é o homem extraordinário que  volta para casa depois  de muitos anos ausente por causa da guerra de Tróia,retorna e mata os pretendentes  da  esposa e  encontra o filho que procurou por ele.No livro de Joyce a personagem principal é o  homem ordinário  que é traído pela esposa depois de  terem perdido o filho e um   rapaz ,Stephen  Dedalus, que  busca por um pai o qual perdeu .Bloom é casado com Molly e o rapaz o qual não é  conhecido deles são os três personagens que  dividem o livro em três partes nos seus  respectivos fluxos de  consciência.A  força do livro está no modo como é  narrado e o intertexto  com o clássico   grego.Se fosse escrito linearmente ,como no  filme, seria uma história  simples sobre o  cotidiano das três personagens seus conflitos e  problemas.Cada  parte da história  faz  referência  ao clássico  sem ser aquela odisséia  homérica.É a odisséia  emocional  de cada uma das três   personagens.
     O rapaz volta para casa e vê a mãe  morrer.Ele sente  falta  do pai, um pai no  sentido de  aconchego  emocional, por isso ele é o Telêmaco de Joyce.Durante o dia,o qual  passa as  vinte e quatro horas de um humano,ele cruza  em diferentes pontos da cidade com Bloom ,o Ulisses de Joyce, e um  colega faz alusão a homossexualidade em  Hamlet de  Shakespeare.E vão entrecruzando outras referências  literárias  dentro do contexto do livro.A alusão a homossexualidade  funcionar  como uma fuga de  foco,afinal o machismo(do século vinte) alega  que homens não tem e nem  podem demonstrar  emoções ou fragilidade  emocional coisas humanas só de mulher ou de gays.
     Porém, no caso destas personagens são emocionalmente  e especificamente  um pai a procura de um filho  e um filho a procura de um pai.E Molly é  uma mãe sem filho.No final eles se encontram , pois acontece  um acidente e Bloom leva o rapaz  para casa  e avisa a  esposa que ela fará o   café da manhã, assim ele “mata” os  pretendentes na  cabeça dela.Como se a  família  desfeita por uma  fatalidade,a morte do filho biológico , se  refizesse através da  adoção do rapaz.Assim eles  encontram o que procuravam.
     Mesmo atualmente  ,depois da suposta libertação sexual dos  anos sessenta,  parece complicado falar em carência  afetiva  masculina por causa do medo da  condição  homossexual ,os mitos da masculinidade e o sexo em geral ainda são tabu,apesar da diminuição dos preconceitos.Não acabaram ainda! Talvez por isso tudo e mais alguma coisa,o hermetismo  se  justifique na atualidade.
     Quando a professora de teoria  literária  soube que  eu e meus  colegas  lemos  o livro ficou espantada,porque  Ulisses  de Joyce  é um entre aqueles livros  que  as  pessoas elogiam sem ler,que nem mestre e doutor em literatura  lê, só elogia porque alguém mais pós-graduado  elogiou antes e os  outros depois só  repetem.
     O ler o quê?  Pra quê?Com que  intenção ou finalidade?Não é discutido.É tabu.A obra colocada no pedestal  não deve ser questionada  por jogo de poder.O elitismo literário.As que não estão em nenhum pedestal são questionadas a até algumas são menosprezadas.Por isso, a janela de  cem anos  para  avaliar o valor de uma  obra, depois  que o tempo passou e os  valores mudam o que era  considerado lixo  vira luxo.Por isso,um professor alertou que  por ser  nosso contemporâneo  e estar  vivo Paulo Coelho é desprezado pelos  críticos brasileiros,mas  no futuramente  poderá ser  tão admirado  como Joyce é  atualmente,para  seus  contemporâneos  Joyce  era um depravado que ameaçava a moral e os bons  costumes.Um cânone  depende muito dos fatores tempo que passa e  visão de mundo entre  outros.

                                                                                             27/08/11.
                                                                                             04/10/12.
                                                                                             20/04/14.
                                                                                             22/04/14.

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