domingo, 14 de setembro de 2014

O mito: brasileiro(a) não gosta de ler



A ignorância e o  isolamento eram resultados  de uma política  deliberada do  governo  português, que tinha  como objetivo manter o  Brasil,uma  joia  extrativista e sem  vontade própria, longe dos  olhos e  da cobiça dos estrangeiros. Era uma política  tão antiga quanto a  própria  colônia.(...) pg.110.
 A  existência  dessa  pequena elite intelectual representava  uma  proeza n uma colônia em que tudo se  proibia e censurava.Livros e jornais eram impedidos de  circular livremente.Carta de D. Rodrigo de  Sousa  Coutinho ao  governador da  Bahia, D. Fernando José de Portugal,em 1798 recomendava vigilância  severa sobre a  circulação de livros,pois  havia informações na  corte de que os  principais  cidadãos de Salvador se  achavam “infectados dos  abomináveis  princípios   franceses” 42 .Quem  ousasse expressar opiniões  em  público  contrários  ao  pensamento vigente  na  corte portuguesa corria  o risco de  ser preso,processado e, eventualmente deportado.Imprimi-las,então, nem  pensar.43   Até mesmo reuniões para discutir ideias eram  consideradas ilegais. Pg.118

Laurentino Gomes(Livro:1808)

      Alguns  mitos  sociais tem seus fundamentos  em  fatores como interesse  político da  ocasião, controle de  determinadas  camadas sociais, autopromoção, auto-desprezo, valorização  de  ideias e  opiniões  externas,internas,preconceito,etc.Os  fragmentos  escolhidos do livro de  Laurentino  Gomes ilustram parte desta  longa  história.
     O  mito que brasileiro(a) não  gosta de ler  nasceu de  cima  para  baixo e  ainda é  disseminado por causa  dos  avanços tecnológicos ,pois  o  livro não é  mais a grande mídia ,mas   tem  seu espaço na  Era  da  Informação e está  se  adaptando a  esta   mesma  fase,agora  pode ser lido em  diferentes  formatos e/ou  ouvido na  forma de  audiobook. Os  pessimistas  de  plantão diziam que  o  livro no  formato físico  ia  morrer,mas  ao  que  tudo  indica  pode virar  artigo de luxo como  o  vinil o qual também teve  sua  morte  decretada pelos  avanços  da  tecnologia. Porém  o  vinil  não  morreu,virou artigo de  colecionador para  uns e para outros  artigo de luxo.
     O público brasileiro letrado lê, mas são romances de  seu  interesse de acordo   com a  preferência  pessoal como os  best-seller por  serem de fácil   leitura e  falarem diretamente ao seu  público leitor.Alguns são  abertamente  direcionados para  um nicho ou público  especifico,  ou  para o  grande  público,outros  nem tanto.Há  literatura de mercado que  tem valor  cultural,mas  isso é  melhor avaliado depois de mais ou menos cem  anos.Aí  o clássico  de  amanhã é  justamente o  desprezado bes-tseller de hoje.
      Quem  despreza os  best-seller ? Uma  parcela significativa da  intelectualidade  brasileira de ideologia socialista clássica na  forma  dos formadores de  opinião como parte dos professores universitários, alguns  jornalistas, críticos   literários, etc.Por fatores além da  qualidade como ideologias   do momento, complexo de  vira-lata, elitismo, pessimismo, necrofilismo ,gosto pessoal entrelaçado com  a leitura técnico-analítica ,o  próprio  fato de ser best-seller,ciúme, xenofobia e/ou patriotismo, desprezo ou subestimação da  inteligência  do público  especifico,etc.São  valores que  contam dentro da  opinião emitida sobre  uma  obra a  qual é a  ponta de  um  iceberg.
     Textos  herméticos  escritos com o direcionamento para  o  público  intelectual já tem por  si só a  função de ser  um  iceberg a ser  interpretado, que vai ser  lido e  apreciado ou não por  este público o qual  foi destinado.Mas  dependendo do caso o(a) autor(a) que  consegue cativar o  grande público mais  cedo ou mais tarde consegue atrair a atenção deste público especifico  que  emite uma  opinião positiva ou negativa do(a) produtor(a).Se negativa pode  gerar  protestos por parte  do público do(a) autor(a).
     Porém há casos que a  escrita simples pode profunda sem ser  hermética ( Exemplo:Cecília  Meireles e João Cabral de  Melo Neto) ou se  torna “hermética” pelo  modo de  como o assunto escolhido é  tratado(J.J. Veiga e Clarice  Lispector).
     Questão de opinião e  proporção de opinião ser  emitida  como  verdade absoluta gera  polarizações e  atritos entre  críticos  versus  autores e/ou leitores.Embora  não  exista  verdades  absolutas.Elas  são questão de fé pessoal e/ou  coletiva.
      Equívocos   podem acontecer e a  dinâmica  sócio-cultural pode  mudar.Brasileiros  gostam de ler ,mas é justamente a literatura  que é  muito desprezada por  muitos  formadores de opinião que valorizam a denominada e  consagrada  alta  literatura.
                                                                                  15/08/14.
                                                                                  21/08/14.
                                                                                  14/09/14.


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